Do papel às telas: tecnologia ajuda produtor a otimizar tempo e produzir mais
Uso do pivô, fertilização in vitro e inteligência artificial são algumas das tecnologias que auxiliam no campo
O que antes era anotado num bloquinho de papel, hoje, se expandiu para as telas e grandes máquinas. A era digital no campo, também conhecida como agro 4.0, já é uma realidade vivenciada em muitas propriedades rurais de Mato Grosso do Sul, o que melhora a produtividade e otimiza o tempo dos produtores.
Os equipamentos são diversos e já faz parte de vários setores do agronegócio, como suinocultura, agricultura e pecuária, por exemplo.
Pesquisa realizada pela Universidade de Brasília, publicada em 2022, mostrou que no Centro-Oeste 80% dos produtores usam softwares e aplicativos para gestão de propriedades.
No geral, a maioria dos produtores (96,3%) utiliza softwares e aplicativos de operações bancárias via internet; 90,74% de previsão climática e manejo agrícola; e 70,37% para gestão de propriedades.
Conforme explica o diretor do Centro de Excelência em Bovinocultura de Corte do Senar/MS, Luiz Gustavo Cavalca, nos casos em que a tecnologia não aumenta a produtividade, ela consegue diminuir as despesas.
“As tecnologias são sempre criadas para melhorar algum sistema ou alguma operação. Muitas das tecnologias contribuem, sim, para o aumento da produtividade, porém, existem tecnologias, e não menos importantes, que não aumentam a produtividade, mas diminuem as despesas, gerando um incremento na rentabilidade, melhorando a eficiência do produtor”, explicou.
Um exemplo fácil, citado por ele, são os pulverizadores que reconhecem por meio de laser a erva daninha (plantas que nascem espontaneamente), liberando um jato único e certeiro nesta invasora, diminuindo drasticamente o uso de defensivo agrícola, reduzindo os custos com tratos culturais, contribuindo com a preservação ambiental e principalmente aumentando a remuneração do produtor.
No Centro de Excelência em Bovinocultura de Corte são formados técnicos para auxiliarem o produtor rural na escolha e implementação de tecnologias mais adequadas à cultura e ao perfil do produtor.
“O uso dos conceitos de agricultura e pecuária de precisão contribui bastante para aumentar e produtividade e diminuir os custos. Existem inúmeras tecnologias que se adéquam para todos os tipos de produtos agropecuários e, principalmente, para todos os tipos (tamanho) de produtores. Existem tecnologias que podem ser implementadas até mesmo sem custo algum”, completou.
Por falar em aumento na produção, a previsão é de que a colheita de soja na safra 2023/2024 em Mato Grosso do Sul seja 6,5% maior do que o ciclo passado, atingindo a área de 4,265 milhões de hectares. Após a amostragem significativa da área, a produtividade atual considerada é de 50,5 sc/ha com produção de 12,923 milhões de toneladas. Os dados são do boletim divulgado pela Famasul, no dia 16 de abril.
Do pivô à fertilização – A 70 quilômetros de Campo Grande, em Bandeirantes, está situada a fazenda Cachoeirão. São 7.500 hectares bem explorados com uma lista extensa de equipamentos tecnológicos.
O médico veterinário Nedson Rodrigues Pereira, que é dono da propriedade, planta soja, milho e feijão e também cria gado.
Na agricultura, os destaques ficam para a utilização de equipamento para correção de perfil do solo, que é a adubação de até 40 centímetros de profundidade; e adubação de sistemas.
Além disso, a irrigação com o uso do pivô também tem sido muito utilizada, que além de aguar as culturas, também serve para aplicar fertilizantes, herbicidas e inseticidas.
Isso traz vantagens, pois evita de passar várias vezes sobre a cultura com o trator, economiza combustível, mão de obra e tempo. Também gasta a quantidade de água adequada e de maneira mais uniforme.
“O motivo do uso da tecnologia é justamente o aumento da produtividade. Quando se busca o crescimento do negócio, a melhora dos resultados de produção, seja na pecuária ou na agricultura, a gente precisa da tecnologia. Ela vem para orientar nesse aumento de produção”, destacou.
No caso de Nedson, o uso de pivô ajudou com que ele tivesse 15 sacas de soja a mais. “Aumentou a nossa produção em 15 sacas de soja a mais por hectare e me deu a viabilidade de plantar outras safras no ano, como o feijão, por exemplo”, pontuou.
Já no setor da pecuária, ele usa a FIV (Fertilização in Vitro) na vaca, que é uma biotecnologia da reprodução, que viabiliza produzir vários filhos de uma mesma matriz.
“Na pecuária, a gente utiliza inseminação artificial em tempo fixo, FIV para o rebanho Nelore, a gente produz animais específicos para genética, venda de matrizes e reprodutores, então para isso a gente utiliza a FIV. Isso me dá a capacidade de uma vaca muito boa, eu ter vários filhos dela por ano, utilizando outras vacas para gerar essa gestação”, explicou o pecuarista.
Com o auxílio de um ultrassom, coleta-se os oócitos (óvulos) de uma fêmea, que são maturados e fertilizados em laboratório e depois transplantados em outras fêmeas da mesma espécie, que são chamadas de barrigas de aluguel.
Se a escolha da fêmea a ser multiplicada for errada, na verdade, se fará um pioramento genético, pois a FIV só vai multiplicar este animal escolhido.
Outra tecnologia usada também é um tipo de ultrassom que verifica a precocidade sexual dos machos, que vê o testículo do animal e quando ele começou a produzir sêmen. Além do confinamento com uso de máquinas específicas com balanças eletrônicas para pesagem dos alimentos e do gado.
Dependendo da evolução da fazenda, a gente foi adotando as tecnologias. Na década de 90, era papel e caneta, anotava tudo, cada animal tinha uma ficha, cada vez que tinha manejo anotava peso, quando pariu. Depois, as coisas evoluíram, entrou computador, software. Tudo isso vem aumentando, mas não é de uma vez, cada ano as coisas iam aparecendo e iam melhorando e, hoje, é bem diferente”, enfatizou Nedson.
Inteligência artificial – Este tipo de tecnologia também tem feito parte da vida do produtor e do pecuarista. Em Mato Grosso do Sul, está em desenvolvimento projeto para estimar o peso corporal de suínos, por meio de imagens. O projeto de pesquisa ainda está em criação.
O principal objetivo é a substituição das balanças convencionais, não havendo mais a necessidade de movimentação dos suínos durante as pesagens, evitando o estresse dos animais, menos mão de obra e o tempo necessário para o manejo.
O projeto é da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), coordenado pelo professor do curso de Zootecnia, Tiago Junior Pasquetti, que também é diretor da unidade em Aquidauana. Também tem parceria com o mestre em Computação Aplicada, Fabrício de Lima Weber; e com a doutora em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, Vanessa Weber.
“O fato de ‘mirarmos no agro’ está diretamente relacionado com a formação e experiência da equipe de trabalho e com a necessidade de inovação nesta área. A paixão pela suinocultura foi passada de pai para filho, desde os 10 anos de idade eu trabalho na suinocultura. Ao ingressar na faculdade, no curso de Zootecnia, iniciei minha vida científica na área, fiz mestrado e doutorado nessa área, na qual atuo até hoje”, explicou Tiago.
O estudo financiado pela Fundect (Fundação Estadual de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia) deu origem a uma startup, incubada dentro da UEMS de Aquidauana, a qual se chama SmartPigs.
Além disso, outro exemplo de inteligência artificial é uma metodologia desenvolvida pela Embrapa, o Netflora, que reconhece espécies florestais, permitindo identificar árvores de interesse comercial e indicar a sua localização exata na floresta.
Espécies como castanheira, cumaru-ferro, açaí e cedro são reconhecidas com índices de acerto de 95%. Como resultado reduz custos de produção e torna mais sustentável o manejo de florestas.
Operacional – Já em Camapuã e Bandeirantes, a 141 km e 70 km de Campo Grande, respectivamente, na fazenda do agropecuarista e suinocultor Rafael Paludo De Marco, de 35 anos, o foco maior é usar a tecnologia para operações do dia a dia.
Algumas que ele cita é o uso de aplicativo para monitoramento das duas áreas; rastreamento veicular da carreta; parte de telemetria do trator; pulverizador; entre outros.
Com isso, Rafael conta que consegue otimizar o tempo e também, consequentemente, acaba diminuindo a mão de obra.
“A primeira coisa que percebi ao aplicar ferramentas de tecnologia na produção agropecuária foi a velocidade em que tenho a informação em minhas mãos, e isso me permite visualizar melhor o cenário para a tomada de decisão, a tecnologia veio para oferecer ao produtor mais conhecimento sobre a atividade que ele tem nas mãos, e em um meio onde estamos sujeitos a tantas variáveis climáticas, operacionais e logísticas, esse conhecimento se torna fundamental para que possamos cada vez mais produzir mais com menos”, disse.
Na prática, ele também explica que consegue acompanhar as operações de plantio, pulverização e colheita; obtém dados da produtividade de máquinas agrícolas, acompanha o desenvolvimento da lavoura semanalmente com imagens de satélites e dados de NDVI (índice de estado da vegetação obtido por sensoriamento remoto); além de também realizar o monitoramento de pragas e até mesmo realizar pulverizações com drones específicos para esse fim.
Energia elétrica – Outra questão que envolve tecnologia e sustentabilidade é a energia elétrica gerada a partir da biomassa de cana-de-açúcar.
De acordo com os dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em Mato Grosso do Sul, existem 17 unidades sucroenergéticas em operação que fazem a cogeração de bioeletricidade para o seu consumo próprio. O bagaço e a palha da cana-de-açúcar são dois subprodutos reutilizados para essa finalidade nas indústrias sucroenergéticas.
De 2015 a 2022, por exemplo, a entrega de bioeletricidade a partir da cana por Mato Grosso do Sul saltou 631 mil MWh (Megawatt-hora) para 2,3 milhões MWh (Megawatt-hora), um crescimento expressivo de 365% no período.
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