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Educação e Tecnologia

Professores orientam alunos "nota zero" a recorrer em 5º vestibular polêmico

Com 42,6% dos inscritos reprovados na etapa de redação, banca não oferece modelo de recurso

Por Caroline Maldonado | 14/01/2024 11:00
Campus da  UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Campo Grande. (Foto: Paulo Francis) 
Campus da  UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)

Termina neste domingo (14) o prazo para os 6.203 vestibulandos que tiveram nota zero apresentarem recurso administrativo à banca do vestibular UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Professores que orientam os estudantes reclamam que a Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Cultura) não disponibiliza um modelo de recurso, depois de propor um “tema muito abrangente com várias possibilidades de interpretação”, o que dificulta o processo.

Os professores se queixam também de que essa já é a quinta edição do vestibular que não oferece o modelo de recurso e apresenta apenas uma nota e não as de dois avaliadores, como é de costume entre as demais bancas do país. Na edição do ano passado, os alunos também se queixaram da situação.

Desta vez, o vestibular teve 14.701 participantes, ou seja, 42,6% obtiveram nota zero na redação. Além de situações quanto à adequação ao tema, em todos os anos há diversos outros casos que levam à nota zero, conforme lembra o professor do Évora Vestibulares, Sérgio Campos.

“Há também casos de fuga de gênero, em que a banca afirma que a redação não é uma dissertação, casos de troca de espelho e outros em que a banca alega que o aluno ultrapassou número de linhas, mas o espelho comprova que isso não ocorreu. Está sendo a quinta edição em que Fapec faz o vestibular da UFMS e a banca nunca disponibilizou um modelo de recurso. Não é padrão vestibulares terem recurso, porque tem ausência desse problema de nota, justamente porque há dois corretores”, comenta Sérgio.

O professor afirma que o único no Brasil que faz recurso é o vestibular da UFPR (Universidade Federal do Paraná), mas a banca entrega um modelo para ser preenchido que pode ser avaliado de maneira bem objetiva.

No caso dos recursos da Fapec, alguns são apenas indeferidos e alguns têm justificativa, mas sem esclarecer de forma pontual o motivo do indeferimento, segundo o professor.

Professor Sérgio Campos orienta aluno em cursinho pré-vestibular (Foto: Arquivo Pessoal)
Professor Sérgio Campos orienta aluno em cursinho pré-vestibular (Foto: Arquivo Pessoal)

Tema - Na versão impressa da prova aplicada pela Fapec, que teve notas zeradas e nenhuma nota máxima, os vestibulandos tiveram que produzir texto dissertativo relacionado ao “direito de acesso à arte como condição humana”.

Na prova digital o tema foi “a problemática de filtros nas redes sociais, desde a regulamentação do uso até a conscientização”, mas essa foi aplicada pela Fundação Vunesp e não teve notas zero.

Para o professor, que integra um grupo de outros cinco que compartilham da mesma opinião, o tema da prova da Fapec foi muito abrangente, com muitas possibilidades de interpretação e quem fugiu da possibilidade interpretativa adotada pela banca obteve zero.

“A banca objetivou e não deixou claro a linha de raciocínio. Agora, a redação tem gabarito? O aluno tem que adivinhar qual é a linha de raciocínio a ser seguida?”, questiona o professor.

Os professores priorizam auxiliar os vestibulandos na elaboração de seus recursos neste domingo e planejam levar os casos ao Ministério Público, além de buscar apoio entre os parlamentares de Campo Grande e do Estado na busca por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os casos. Em 2020, foi feita uma denúncia ao MPF (Ministério Público Federal), mas foi arquivada.

“É surreal entender que 40% dos candidatos não entenderam o tema. Alguns alunos sentem que há até um revanchismo e têm medo de recorrer, porque em edições passadas, alguns tiveram a nota diminuída após o recurso”, lamenta o professor.

Fapec - Quando questionada sobre o número expressivo de redações com nota zero, a fundação alegou que a distribuição de notas mínimas se deu ao não cumprimento de critérios básicos na estrutura da redação, que são adequação ao tema, organização textual, estrutura dissertativo-argumentativa, coesão e emprego da norma padrão.

Desta vez, a Fapec respondeu que a instituição segue as normativas exigidas em edital, solicitadas pelo contratante.

"Neste caso, o edital que rege o certame não prevê que a instituição oferte um modelo de recursos para os candidatos. As redações do edital do Vestibular presencial da UFMS 2024 são corrigidas por dois avaliadores, conforme descrito no Anexo III do edital de número 283/2023: "A redação será avaliada por dois corretores, considerando-se como nota final a média obtida a partir das duas notas". Ao acessar a "Área do Candidato" todos os participantes conseguem acesso às correções feitas pelos dois avaliadores, conforme exemplos em anexo. A Fundação não prevê, até o momento, qualquer mudança com relação às questões mencionadas."

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