Irreverência e amizade, marcas que Coquinho, 'o cara da alegria', deixou
Amigo, irreverente, sempre bem humorado e alegre. São algumas das qualidades que amigos citam quando são perguntados de como era Osmar Alves Coco, o Coquinho, que atuou como centro-avante no futebol sul-mato-grossense pelas equipes do Comercial, Taveirópolis e SEI (Sociedade Esportiva Industriária).
O ex-jogador faleceu na madrugada desta sexta-feira (9) enquanto dormia. A família acredita que a causa seja infarto.
Natural de Araraquara, município do interior de São Paulo, Coquinho começou sua carreira no Ferroviário. De lá, foi transferido para o São Paulo. Entre 1970 e 1980, atuou no futebol de Mato Grosso do Sul.
Companheiro de time e amigo - Foi enquanto ele defendia as cores vermelha e branca do Comercial que conheceu o amigo Diogo José Pessoa, que atuava como lateral e com quem dividiu moradia na época em que ambos eram solteiros e jogavam pelo time campo-grandense.
“Ele era muito bagunceiro, colocava roupas uma em cima da outra, eu já sou todo certinho, arrumadinho. Era um cara da alegria, que marcou por sua descontração, sua brincadeira sem querer humilhar ninguém”, lembrou saudoso Diogo.
Os laços de amizade se estreitaram e permaneceram por toda a vida. Diogo batizou um dos filhos de Coquinho, e falava com frequência com o amigo. “Domingo de manhã eu sempre passava no restaurante dele para jogar conversa fora. Última vez que o vi foi há 15 dias, até perguntei da saúde e ele disse que estava tudo bem. Vou sentir muita falta, era meu compadre. A morte a gente não espera, ainda mais de um cara que era bonzinho. Até agora não estou acreditando”, desabafou.
Citado como irreverente e divertido, Diogo lembrou algumas histórias que destacam essas características de Coquinho.
“Naquela época não tinha chuteira colorida, e ele pintava a dele de branco. Uma vez choveu e desbotou tudo. Outra história interessante é de quando ele foi jogar no Vitória, da Bahia. Ele foi contratado e quando chegou lá, o aeroporto estava lotado. Ele ficou se questionando se aquilo tudo era para ele mesmo, se as pessoas estavam esperando ele, imaginou que ele estava com a moral toda. Só que o Sidney Magal estava no mesmo voo e chegou junto com ele. Eles eram parecidos na época, mas as pessoas estavam esperando o cantor”, contou aos risos.
Agora, para Diogo, “fica a lembrança dele, a saudade. Sempre alegre, contando piada, tinha uma saída para tudo. Era irreverente. Vou sentir muita saudade”, encerrou.
“A missão dele era fazer gol” - Coquinho entrou para a história do futebol sul-mato-grossense em 1977, quando marcou 22 gols pela SEI no Campeonato Estadual daquele ano. Sua qualidade técnica é lembrada por ser goleador e ter habilidade na hora de cabecear para o gol dentro da pequena área.
Para o jornalista Paulo Souza Nonato, que era setorista do Operário na época em que Coquinho jogou pelo Comercial e o Taveirópolis, o ex-centroavante mesmo não sendo habilidoso, ele tinha como especialidade marcar os gols.
“Ele era trombador, a missão dele era fazer gol. Não era tipo o Neymar. Ele se inspirada no Dadá Maravilha, dizia que só algumas coisas paravam no ar, e eram o beija-flor, o helicóptero, o Dadá Maravilha e o Coquinho, em alusão ao talento dele na hora de cabecear”.
Paulo cita a irreverência do jogador, algo que para ele não é mais comum no futebol de hoje, e uma característica que contribuía para que os torcedores fossem ao estádio. Coquinho, que na época jogava pelo Taveirópolis, tivesse mais atenção do que o Comercial e o Operário, principais times da época.
“Ele era irreverente, usava chuteiras coloridas, cada uma de cada cor. Na segunda-feira ele dizia que faria um gol tal, que ele dava o nome, e era o assunto da semana. E os torcedores iam ao estádio para ver se ele faria aquilo mesmo. Ele também provocava, fazia brincadeiras. Hoje os jogadores são politicamente corretos, orientados por assessores, e naquela época não, ele chamava a atenção”.
Comentarista esportivo - Nos últimos 10 anos, Coquinho trabalhou como comentarista esportivo do programa Difusora Esporte Clube, na Difusora Pantanal AM 1240, ao lado de Ricardo Paredes.
“O filho dele jogava no sub-19 do Operário, e a rádio difusora não tinha comentarista na época. E o Coquinho estava lá na arquibancada, tinha nome. A gente convidou e ele foi comentar um jogo do sub-19 e continuou indo na radio. Acabou virando comentarista do povo, cinco estrelas”.
Com a voz embargada e “sem condições técnicas” de falar sobre a perda do amigo, como Paredes definiu o momento, finalizou falando que o Coquinho “era o amigo dos amigo, gente como a gente".