Solitário em meio à torcida pela Croácia, inglês vê vitória merecida
O inglês é especialista em estudos latino americanos e é apaixonado pelo Brasil. Tai acompanhou a derrota com tranquilidade
O jogo garantiu vaga na final para a Croácia e derrubou a promessa de um clássico entre históricos rivais, Inglaterra e França. Ainda assim, o inglês Matthijs Strietman, 30, o “Tai”, como é chamado, morador em Campo Grande, acompanhou o jogo de forma tranquila, sem nervosismo ou muitas expectativas. Em um bar, estava acompanhado de brasileiros que torciam pelo time adversário.
“Eu gostaria que o Brasil tivesse ganhado. Como a minha mãe é holandesa, eu torceria para a Holanda, mas não deu. Se a Inglaterra ganhar vai ser muito legal, mas se não ganhar tem outras coisas na vida”, comentou, descontraído, no início do jogo. No fim, Tai "perdeu" com resignação. “Eles estavam jogando muito bem, então merece. A coisa mais importante é que França não ganhe, então melhor perder com a Croácia do que perder contra os franceses".
Tai vive em Campo Grande há 4 meses. Ele é o único aluno inglês da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e estuda no programa de mestrado de biologia. Tai é um apaixonado pelo país, tema que estuda desde a graduação em estudos latino americanos. “Eu já conhecia o Brasil, vim dez vezes. Estudo peixes de água doce”, contou.
O inglês veio ao Brasil a primeira vez com 19 anos. Aqui, “as mulheres mais lindas do mundo”, a simpatia do povo e a culinária foram detalhes que o conquistaram. Mas além dessas características, a facilidade das bolsas de auxílio para mestrado também entusiasmaram o inglês. “Lá não tem bolsa, custa R$ 80 mil por ano, e os peixes estão aqui. É fantástico aqui para biólogos”, comenta.
“O povo daqui é muito alegre. É um povo muito positivo. Passa por muita coisa e se mantem alegre. O país é como 30 em 1”, conta. Enquanto Tai assistia um primeiro tempo tranquilo, o segundo veio com gol da Croácia. No bar, um dos torcedores chama a atenção da reportagem e fala: “aqui o bar é croata”. No segundo tempo, Tai sofria a pressão dos gritos a favor da Croácia.
A preparação para o mestrado no Brasil ocorreu durante dois anos, com apoio do orientador, à distância. “Sou muito grato à faculdade, eles me aceitaram, facilitaram tudo. É uma oportunidade única. Meu orientador que facilitou as coisas”, explica.
“Fez um gol no começo para assustar”, comenta. O amigo replica: “Vai ser mais engraçado se a Inglaterra ganhar”. “Como engraçado? Cadê o Brasil?”, provoca de volta o inglês. É nesse clima que Tai conquistou os amigos brasileiros.
“Conheci ele no processo seletivo do mestrado. Em primeiro lugar ele me ajuda com o meu inglês, que é péssimo. Ele sabe muito bem como manter animais em cativeiro, é um especialista em habitat”, elogia o amigo Douglas Lopes, 22.
O amigo inglês, ainda assim, não deixa de ser motivos de piada. “Eles não param de rir, quando falo palavras erradas. Enquanto a bola rolava, a indecisão era esperança de um clássico Inglaterra versus França. “Imagina uma final Inglaterra e França. Imagina Brasil e Argentina, é 700 vezes pior”, afirma.
Tai é natural de Cambridge, onde foi morava desde criança. A mãe é professora em uma das universidades mais notórias do mundo, com o mesmo nome da cidade. Apesar do coração bater mais forte pelos britânicos, o inglês também pensa nos croatas.
“Para a Croácia é importante também, é uma país novo, seria bom para a identidade nacional”, observa.