Diferença nas fachadas de Campo Grande: ousadia ou exagero?
É impossível passar pela avenida Ceará e não esboçar alguma reação diante do Hotel Ipê. O prédio de três andares tem uma árvore amarela gigantesca na fachada, feita em alvenaria, que se destaca do fundo verde berrante.
Arquiteta contratada para a obra e os dois sócios no empreendimento queriam justamente esse resultado, chamar a atenção. O empresário João Chilante conta que a primeira proposta foi “mais chique”, reproduzir a figura de um ipê em latão. “Mas ficava muito caro e então resolvemos fazer em alvenaria mesmo”, explica.
A copa da árvore deveria ser ainda maior, na opinião do proprietário, mas teve de ser redimensionada para não prejudicar a estrutura do prédio. “Ficou bonito. Nosso medo era não ultrapassar o limite entre o ousado e o ridículo”, avalia.
Na mesma “vibração”, os corredores que levam aos quartos dos hóspedes também são coloridos, seguindo os tons dos ipês floridos, símbolos da cidade. “Em um andar é roxo, em outro as paredes são amarelas e no outro são verdes”, detalha João.
Ele e o sócio José Luis Rodrigues Martins tem outro hotel na saída para Cuiabá, mas não tiveram tanta criatividade no prédio, por ser destinado aos caminhoneiros.
Na Ceará, a coisa foi diferente, a fachada seguiu a linha da arquitetura levantada para ser vista por quem passa de carro. “Hotel tem em todo lugar. Mas quero ver um que seja tão diferenciado”, comenta o dono.
Quando Campo Grande implanta lei contra a poluição visual no Centro, fiquei pensando em qual o limite da criatividade nas fachadas e o que pensa quem vive ao lado desse tipo de empreendimento.
O chaveiro Natalício Marcelino Dias, de 37 anos, viu o hotel ser construído e agora acompanha a reação das pessoas. “Todos os clientes comentam, acham estranho. Ficou muito esquisito”.
Ricardo Leres de Souza, 68, já tem o gosto bem diferente. Adorou a novidade. “Achei tudo lindo porque remete à nossa cultura e é legal valorizar isso”, explica.
Para o arquiteto e urbanista Ângelo Arruda, discutir experiências nas fachadas é assunto que renderia, pelo menos, “5 horas de conversa”, mas lembra que arquitetura tem de ter técnica e conteúdo filosófico. “O que não tem isso, não é arquitetura é edificação”.
Ele não gosta de dividir a impressão entre questão de mau ou bom gosto. Para Ângelo, o conceito óbvio é “bom senso”.
O engenheiro Fernando Madeira também defende a criatividade, porque “se ninguém gostasse de verde, as fábricas não produziriam tinta dessa cor”
No caso do hotel, ele acha que a escolha, pelo menos, surtir o efeito esperado. “A Ceará não é em uma rota de hotéis, ele conseguiu o que pretendia, chamar a atenção”.
Outro exemplo é edifício na Euclides da Cunha, rua sofisticada da cidade. Os arquitetos resolveram instalar na portaria uma reprodução da Torre Eiffel enorme, que despertou conclusões diversas.
“Achei brega, exagerado. Chama a atenção demais em uma rua que é tão chique, tão bonita”, diz Juliana Teixeira, que trabalha em uma loja de roupas masculinas, na mesma rua. Já a colega, pensa diferente. "Fico meio cansada de ver tudo igualzinho sabe? Pelo menos esses mais extravagantes têm personalidade", avalia Karina Fraga.
Para Fernando, o projeto é bacana, com potencial para virar ícone da região. “Tem relação com o nome, com a proposta”, deixa a dica.