"Diário poético da quarentena" fala da pandemia com leveza e humor
Pandemia fez poesia florescer nas redes de Cássio, que transformou conteúdo em livro
O período de isolamento social foi impactante na vida de todos, mexeu, também, a com a cabeça do escritor campo-grandense Cássio Rodrigues, que resolveu colocar em suas redes sociais alguns poemas sobre a pandemia, quase que diariamente. O resultado depois de dois meses foi perceber que tinha um livro nas mãos. Assim surgiu a publicação do seu primeiro e-book “Diário Poético da Quarentena”.
Algumas características que Cássio busca em sua poesia são a simplicidade e o humor, a leveza, o lirismo, qualidades que ele diz ter aprendido na poesia haikai, um tipo de poesia que ele considera perfeita para os dias atuais. “Onde a rapidez e a concisão de ideias fazem parte da nossa rotina. Assim me impus mais um desafio: num período tão preocupante, extrair em textos poéticos uma visão diferente do isolamento, buscando narrativas inusitadas e até engraçadas, em sua maioria curtas, rápidas de ler e entender”, diz.
A ideia foi usar a arte para mostrar às pessoas que em cada pequeno momento existe a beleza e mesmo dentro de casa a vida continua a acontecer, de forma igualmente intensa. “O poeta é um cronista do seu tempo, descreve em sua poesia os anseios, receios e o "ambiente psíquico" no qual o poeta está imerso. Como dizia Leminski a poesia nunca vai desaparecer porque é uma “necessidade orgânica da sociedade”: aprendi muito sobre isso, nos últimos tempos”, descreve.
Cássio admite que não tinha a intenção de lançar um livro agora, mas a partir da criação literária sobre o tema da quarentena a ideia ganhou corpo e a própria forma de publicação completou o conceito artístico do projeto. “Qual o melhor formato de livro que fala de quarentena senão o e-book, que o leitor pode adquirir e ler sem ter que sair de casa?”, questiona.
Da mesma forma, todo o processo de publicação foi feito de forma online, desde o contato com uma editora independente de Campo Grande, a ilustradora, Bea Machado, e até três tradutoras, que estão traduzindo o livro para o espanhol, inglês e alemão. A versão em espanhol já está pronta e vai estar disponível nos próximos dias.
“Por essa facilidade de publicação e maior popularização do formato e-book, cujas vendas aumentam a cada dia, acredito que muitos autores estão publicando no formato eletrônico, ‘desengavetando’ projetos. Nessa época de isolamento creio que as pessoas estão com a necessidade de se expressar, deixar registradas na rede suas impressões sobre o mundo e sobre suas vivências. Por mais que eu já tenha publicado e divulgado minha poesia em outras mídias, a publicação de um livro é a realização de um sonho”, diz o escritor.
Entre períodos mais e menos produtivos, o autor escreve poesias desde a adolescência. Ele foi apresentado à poesia no ensino primário, quando era escalado para recitar poemas nas datas comemorativas da escola, como no Dia das Mães. “Sou "uma cria" dos anos 80: minha adolescência foi embalada pelo boom do rock brasileiro, eu aprendi a gostar da poesia de Cazuza, Renato Russo, Arnaldo Antunes, Humberto Gessinger e muitos outros grandes letristas, das inúmeras bandas que surgiram naquela época”, conta.
Essa descoberta da poesia na música o levou a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Itamar Assumpção e também aos poetas marginais como Leminski, Alice Ruiz, Glauco Mattoso, Wally Salomão. “Comecei escrevendo letras de rock em cadernos que se perderam com o tempo e entre uns hiatos maiores e menores sempre escrevi poesia, inspirado nesses autores que colaboraram na minha formação estética. As redes sociais se tornaram uma vitrine natural para o meu trabalho, assim como de outros tantos escritores brasileiros. A interação com o leitor é instantânea e isso, para um artista, é muito prazeroso e construtivo”.
Inspirado nesses poetas urbanos modernos que sempre admirou, Cássio diz ter um desafio interno: “escrever poesia sobre todo e qualquer tema, levando o leitor a ter uma visão diferente do mundo, por um pequeno instante, ser conduzido pela poesia a enxergar aquilo que não tinha visto ao contemplar a vida”, afirma.
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