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Artes

Do avô Manoel ficou a lembrança do amigo e a imagem de um escritório sagrado

Paula Maciulevicius | 15/11/2014 07:34
Manoel de Barros deixou na lembrança dos que carregam seu sobrenome a imagem do amigo e do avô. (Foto: Marcelo Calazans)
Manoel de Barros deixou na lembrança dos que carregam seu sobrenome a imagem do amigo e do avô. (Foto: Marcelo Calazans)

Dos três filhos, nasceram sete netos e cinco bisnetos. Manoel de Barros deixou na lembrança dos que carregam seu sobrenome a imagem do amigo e do avô. De um homem menino, de uma criança apaixonada pelas inutilidades da vida que inventava sentido para as palavras. Avô, antes de ser poeta.

Do filho Pedro, teve apenas um neto, Silvestre, formado em Zootecnia. Da filha Marta, nasceram Felipe, Thiago e Rafael. Do caçula João Wenceslau, Joana, Lucas e Manoel. Nenhum deles puxou o dom da literatura a não ser a paixão viva no sangue, pelas palavras do avô.

Ao Lado B, Joana de Barros, hoje servidora pública, falou das últimas palavras ouvidas sair da boca do poeta e também da descoberta, na adolescência, de que seu avô e o poeta famoso eram a mesma pessoa. "Vou te lembrar, a última vez ele conseguiu falar. Foi logo depois que internou. A minha tia estava com ele e falou: 'papai, olha quem está aqui, a Joaninha. Olha como ela está bonita?' E ele respondeu: 'ela sempre foi'. Foi a última coisa que ouvi dele", reproduz.

Atrás da avó, a única neta mulher, Joana. (Foto: Marcelo Calazans)
Atrás da avó, a única neta mulher, Joana. (Foto: Marcelo Calazans)
Felipe, fisioterapeuta, neto de Manoel, filho de Marta de Barros. (Foto: Marcelo Calazans)
Felipe, fisioterapeuta, neto de Manoel, filho de Marta de Barros. (Foto: Marcelo Calazans)

Única neta mulher, do escritório do avô, de onde saíam as palavras dos rascunhos, ela define o local como "sagrado". "Ele não gostava dos netos mexerem. Até para limpar era difícil, mas era um lugar mágico, onde tudo era uma surpresa. A gente entrava, mas só com ele", lembra.

Foi na adolescência que Joana descobriu quem era o poeta e avô Manoel de Barros. Ao mesmo tempo em que o público foi descobrindo. "Aí me dei conta de que meu avô era um gênio. Sempre soubemos muito bem quem ele é e a importância que tem na literatura", ressalta.

Hoje, o filho no nível 2 já estuda Manoel de Barros. Em casa e na escola.

Cobranças, os netos relatam que nunca houve, para que algum dos sete seguisse na literatura. Escrever, ninguém escreve. Lucas de Barros, filho de João Wenceslau, é cineasta, o único a seguir o caminho das artes, pelo menos no estudo.

Dos filhos de Marta, Rafael é designer gráfico no Rio de Janeiro, Thiago é jornalista, morou em Londres e hoje é taxista, também no Rio de Janeiro. Felipe é fisioterapeuta e quem se lembra do poeta avô e amigo.

"Ele não era só avô, para toda a família ele era um amigo. Conselheiro de todo mundo, que apesar da idade, conversava com a gente, criança, jovem... A figura dele era assim: separada a pessoa, do poeta".

"Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos."

Manoel de Barros foi avô, antes de ser poeta. (Foto: Marcelo Calazans)
Manoel de Barros foi avô, antes de ser poeta. (Foto: Marcelo Calazans)
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