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Artes

Matéria de Poesia: Projeto quer devolver Manoel de Barros ao Parque dos Poderes

Pela principal via, se espalham totens de cor cinza. Neles, moravam versos do poeta

Aline dos Santos | 10/04/2022 11:55
Toten com poesia de Manoel de Barros em frente à sede da Governadoria no Parque dos Poderes (Foto: Marcos Maluf)
Toten com poesia de Manoel de Barros em frente à sede da Governadoria no Parque dos Poderes (Foto: Marcos Maluf)

“Palavras dentro da qual estou a milhões de anos é árvore. Pedra também. Eu tenho precedência para pedra. Pássaro também. Não posso ver nenhuma dessas palavras que não leve um susto”. 

Para que a poesia de Manoel Barros, aqui retratado em “O Fazedor de Amanhecer”, não fique isolada em frente à sede da Governadoria, único ponto do Parque dos Poderes em que totem com frases do poeta resistiu ao tempo, o governo do Estado planeja devolver todos os versos para a Avenida do Poeta.

“Estamos tentando resgatar as poesias do Manoel de Barros a pedido do governador Reinaldo Azambuja. Estou em contato com a Martha Barros, filha dele, para refazermos os 15 totens”, afirma a diretora de Infraestrutura Urbana da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), Zuleide Simabuco Higa.

Com investimento de R$ 20 milhões, o parque passa por revitalização em Campo Grande.

Pela principal via do Parque dos Poderes, se espalham totens de cor cinza. Neles, moravam versos do poeta. Mas exposta ao sol, chuva e vento, as palavras se perderam, restando vivas somente nas lembranças de quem sabia que ali era matéria de poesia.

Ou, como escreveu Manoel, foram desaparecendo como no filme do Carlitos.

“Mas eu ensino para ela como se deve comportar na solidão... Numa boa: a gente vai desaparecendo igual ao Carlitos vai desaparecendo no fim de uma estrada...Deixe, deixe, meu amor”.

As placas com as poesias chegaram ao Parque dos Poderes em 2004. A homenagem era pelos 88 anos de Manoel de Barros. Em companhia dos trechos da poesia, estavam ilustrações da filha Martha de Barros.

Naquela época, a via já se chamava Avenida do Poeta numa homenagem velada. Por questão legal, nomes de pessoas vivas não podem nomear ruas.

O poeta faleceu em 13 de novembro de 2014. Dois anos depois, em 14 de dezembro de 2016, foi publicada a Lei 5.766, estabelecendo que a Avenida do Poeta passava a se chamar “Poeta Manoel de Barros”.

Mas já não era mais preciso nomes. Se avenida é do poeta, só pode ser o Manoel de Barros.

Poeta Manoel de Barros retratado em seu escritório. (Foto: Marcelo Buainain)
Poeta Manoel de Barros retratado em seu escritório. (Foto: Marcelo Buainain)

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer da moral porque só faço

coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.

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