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Artes

Tania se aposentou, mas devolveu cor às paredes de CTI para alegrar crianças

Ela deixou o serviço público há dois anos, porém gosta de ajudar e presenteou o local com com tintas para pintar a natureza

Alana Portela | 26/09/2019 08:20
Beija-flor interagindo com o relógio que recebeu flores coloridas ao entorno (Foto: Kisie Ainoã)
Beija-flor interagindo com o relógio que recebeu flores coloridas ao entorno (Foto: Kisie Ainoã)

Mesmo aposentada do serviço público há dois anos, Tania Hildebrand quis devolver cor a vida das crianças do CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Hospital Universitário, em Campo Grande. Ela comprou os materiais e pediu para o artista plástico, Ton Barbosa, colorir as paredes do local. “O que me fez assumir essa responsabilidade é a necessidade de humanizar, pois é um ambiente frio, com pinturas neutras”, conta.

O resultado é a natureza invadindo as alas de internação. A pintura, com traços do expressionismo, está nos cantos superiores das seis alas, para que da maca os pacientes possam visualizar bem.

No CTI as janelas são retangulares, e através do vidro transparente os pacientes e profissionais veem a paisagem, o verde das árvores, os pássaros voando. Porém, por questões de saúde, não podem ser abertas. “Para evitar entrada de insetos. Mas, a proposta foi trazer essa natureza para dentro da ala. Isso trouxe conforto para a equipe”, explica Tania. 

Pediatra de profissão e coração, a médica afirma que a ideia da obra é fazer interagir com as crianças e distraí-las. “É uma forma de privilegiar quem fica deitado, olhando para o teto. Colocamos naquele ângulo para que ela conseguir ver e buscar com o olhar, o que chama atenção, as cores”.

Ave azul com amarela pousada em um galho decora a parede (Foto: Kisie Ainoã)
Ave azul com amarela pousada em um galho decora a parede (Foto: Kisie Ainoã)

Tania trabalhou no HU por 25 anos. Foi ali que aprendeu o que é o amor e a dor. “Vários casos me marcaram. De pacientes que melhoravam e saiam andando, que se recuperavam mesmo achando que não iriam, aos que faleceram, vi o esforço das famílias. A gente lida com crianças, e quando elas são pegas de surpresa por doenças graves a situação é de comoção. Precisamos nos administrar para dar assistência, mas sem perder a parte sentimental”.

O local também foi uma parte da sua vida. “É uma parte importante. Foi minha formação, crescimento profissional e pessoal. Atuei como responsável técnico, cuidando da administração do setor, dos aparelhos, médicos, etc.”, diz.

Nem sempre valor significa dinheiro, explica a pediatra sobre sua decisão de procurar um artista e desembolsar a doação. “Não tem a ver com valor monetário, mas sim com ser humanista, que propicia conforto às outras pessoas e traz alegria”. Apesar de não trabalhar mais no local, Tania faz questão visitar o HU. “Vou algumas vezes, quando me convidam ou quando bate a saudade. Estou sempre interessada em saber o que acontece nos setores”.

Folhas e pássaro interagindo com aparelhos e tomada da parede (Foto: Kisie Ainoã)
Folhas e pássaro interagindo com aparelhos e tomada da parede (Foto: Kisie Ainoã)
Borboletas azuis tomaram chamam atenção (Foto: Kisie Ainoã)
Borboletas azuis tomaram chamam atenção (Foto: Kisie Ainoã)
A equipe de profissionais que trabalhavam no setor com Tania, que está em pé de camisa marrom ao lado das colegas e de uma paciente  (Foto: Arquivo pessoal)
A equipe de profissionais que trabalhavam no setor com Tania, que está em pé de camisa marrom ao lado das colegas e de uma paciente (Foto: Arquivo pessoal)

Arte - Os materiais comprados por Tania foram entregues ao artista Ton, que assumiu a responsabilidade de transformar o ambiente hospitalar. A pintura começou há 15 dias, e ele passa a manhã inteira produzindo o cantinho da vida. As tintas são acrílicas, a base d’água.

“Misturo as cores. Minha preocupação é promover a interação e dar um clima melhor. Não tem como não se comover, gosto muito de ver o trabalho dos profissionais e a atenção que dedicam aos pacientes”. “É difícil ver um pacientezinho ir embora. A pintura dará mais leveza para o ambiente”, completa.

Ele trabalha há 20 anos colorindo os locais por onde passa. Recebeu a missão de transformar o CTI. “Em cada parede, é um trabalho diferente, cada leito tem 1,80 de largura, o desenho começa no teto perto da laje e desce aproximadamente 50 centímetros”.

“As crianças têm interagido. Perguntam, e converso com elas a respeito de pintar. É a primeira vez que pinto dentro de um hospital. O desafio foi encontrar a linguagem que eles gostariam de trazer da floresta, sem ‘agredir’ muito as paredes. Consegui retratar algumas folhagens, aves, pássaros”, conta Ton.

O artista brincou com a imaginação e fez a pintura interagir com os objetos das alas. Nas paredes, o relógio ganhou flores azuis, vermelhas e verdes, e um beija-flor embeleza ainda mais a arte. A obra expressionista tem um toque 3D, com as sombras dos desenhos nas paredes. Os aparelhos do setor também ganharam vida, com borboletas e pássaros sobrevoando.

No total, foram 20 bisnagas de tinta e a reforma deve terminar quando liberarem a última ala para pintura. Agora, com mais vida, o CTI também servirá como distração nos dias difíceis. 

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Numa ala tem borboletas amarelas com folhas verdes interagindo com os aparelhos (Foto: Kisie Ainoã)
Numa ala tem borboletas amarelas com folhas verdes interagindo com os aparelhos (Foto: Kisie Ainoã)
As alas do CTI Pediátrico do HU (Foto: Kisie Ainoã)
As alas do CTI Pediátrico do HU (Foto: Kisie Ainoã)
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