Tatuagem levou cicatriz e trouxe homenagem ao pai boliviano e mãe brasileira
Marília imprimiu no corpo e na arte o orgulho de fazer parte de uma cultura latino-americana
Aos 21 anos, Marília Cláudia Favreto Sinãni, artista visual e arte-educadora em formação, ama falar de suas raízes. Em casa ou nos eventos artísticos da cidade, não tem coisa que ela mais goste de mostrar do que o resgate que tem feito da cultura latino-americana. Não só pela riqueza em diversos aspectos, mas pelo orgulho de ter um pai boliviano e uma mãe brasileira. Tamanha admiração já virou arte, mas nos últimos meses o orgulho foi parar no braço como tatuagem.
A tatuagem é um desenho feito por Marília, em que seu rosto sai de dentro de duas montanhas, uma com a bandeira da Bolívia e outra com a bandeira do Brasil indicando o seu nascimento. “Essa tatuagem foi extremamente importante para mim devido ao orgulho que tenho das minhas raízes latino-americanas, mas também porque representa o início de uma outra fase da minha vida. Esse desenho foi criado para simbolizar que eu sou fruto da união não apenas de um boliviano com uma brasileira, mas também sou fruto de duas culturas e realidades distintas”, explica.
A tatuagem também deixou para trás uma fase difícil na vida. “Tive depressão em uma fase da minha vida e como consequência, adquiri duas cicatrizes e uma queloide em meu braço. Quando saí do estado depressivo, ficaram as marcas e estes resquícios da depressão me lembravam da fase me fazendo ficar com a autoestima baixíssima”.
Marília até tentou alguns tratamentos, mas que não deram resultado. Ela desejava escondê-las não por vergonha, mas porque sabia que aquela versão triste não existia. “Eu era uma nova Marília”, descreve.
Depois de pesquisar inúmeros tatuadores, dentre eles, escolheu a Sol Ztt, artista de Campo Grande que também se destaca pelos desenhos autorais. “Ela me incentivou a tatuar este desenho, apoiando o meu trabalho como artista visual, e cá estou hoje com essa tatuagem: uma nova versão da Marília, marcada pela tatuagem que simboliza o orgulho que tenho em ser mestiça e por ter saído do estado físico e emocional na qual já estive”.
A artista sabe que todos estão sujeitos a depressão, mas conseguiu compreender que é possível canalizar sentimentos e impressões de mundo através da arte. “Seguimos tanto a cultura de massa vigente que negamos a nossa história, negamos as nossas raízes latino-americanas, assim como também negamos o nosso estado de tristeza se ele vem, quando na verdade só precisamos compreendê-los porque são necessários para o nosso autoconhecimento e pertencimento”.
Orgulho na arte – Marília produz arte desde a infância. Sempre a utilizou para se expressar e validar a própria existência. “Atualmente, estudo a Psicologia da Arte de Vigotski e busco alcançar efeitos da catarse em meus trabalhos”.
Em suas produções anteriores, buscava utilizar a arte para expressar a sensibilidade e materializar as sensações humanas que sentia. Agora, a nova fase retrata em tons quentes o autoconhecimento e a valorização da identidade e influências culturais.
“Tenho produzido neste momento obras que criticam o ser humano como causador das suas próprias dores e a sua relação com a cidade, sendo criados e representados através de autorretratos internos e externos. Assim como também tenho produzido trabalhos que resgatam a existência e a importância da cultura e a arte latino-americana que nós, muitas vezes, não temos acesso ou a ignoramos devido ao fato de que o Brasil é bem mais influenciado pelos EUA”, conclui.
Quem tiver interesse pelo trabalho de Marília pode entrar em contato com ela pelo Facebook ou site mariliasinarte.