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Comportamento

2020: o ano em que todos nós entramos para a história

Bom ou ruim, estamos testemunhando a história enquanto ela acontece... mas será que isso é verdade? E temos consciência disso?

Lucas Mamédio | 01/01/2021 08:13
Nós, os sobreviventes de 2020 – o ano das máscaras, o ano da covid (Foto: Reprodução/Medium)
Nós, os sobreviventes de 2020 – o ano das máscaras, o ano da covid (Foto: Reprodução/Medium)

Nós entramos para história! Essa é uma afirmação que podemos fazer sem medo. Basta uma breve reflexão sobre o que passamos, que chegaremos a essa conclusão. Será que chegaremos mesmo?

A pandemia do novo coronavírus foi um acontecimento que resultou em situações antes nunca vividas ou testemunhadas. Uma Olimpíada adiada, outras dezenas de eventos esportivos cancelados ou adiados.

Em março, pela primeira vez na história milenar da Igreja católica, o papa rezou  sozinho diante da imensa praça vazia de São Pedro e deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pela pandemia do novo coronavírus. O evento foi um ritual inédito, durante o qual deu a bênção "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo) a todos os fiéis.

Eu e vários colegas perambulamos por uma Campo Grande vazia nos primeiros dia de pandemia, quando as restrições mais severas foram impostas. Imagens que talvez nunca serão vistas ou vividas novamente por nossa geração.

Empresas quebraram, pessoas perderam seus empregos, a economia de países entraram em crise, tudo isso numa confluência trágica nunca antes desencadeada ao mesmo tempo.

Pessoas sentadas na praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Pessoas sentadas na praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

Milhares de pessoas vão lembrar para sempre do ano ou dá época que seus entes partiram por conta da covid. Eu nunca vou esquecer de ver um colega de trabalho perder o pai e a mãe em menos de 15 dias, ambos vítimas do vírus.

Várias outras mortes me cercaram, assim como o medo de novas, inclusive em minha família. Um medo que nunca vivi, não sei se vou viver, e que jamais será esquecido.

Escrever este texto me faz ter alguma ideia da gravidade e do peso histórico do que está acontecendo, mas será que está sendo assim com todos? Até porque nosso drama está bem longe de acabar, uma vacina segura e que pode ser aplicada em massa está um pouco longe de nosso horizonte.

Para muita gente isso não está muito claro. Passeando por um Centro lotado após quase 10 meses de pandemia, as pessoas parecem não entenderem a dimensão histórica disso tudo, da herança traumática que pode nos deixar.

Fátima Simões tem dúvida sobre a historicidade do momento (Foto: Henrique Kawaminami)
Fátima Simões tem dúvida sobre a historicidade do momento (Foto: Henrique Kawaminami)

A passadeira Fátima Simões Santos, de 52 anos, disse que vai lembrar para sempre desse ano, mas não consegue elaborar sobre seus filhos e netos. "Eu estou vivendo isso, não sei se eles vão lembrar, só se tiver nos livros da escola né".

Para o instalador de ar-condicionado Márcio Araújo, de 37 anos, 2020 foi mercado apenas pela alta do valor dos insumos daquilo que precisa para trabalhar. "Eu espero que para 2021 as coisas fiquem mais baratas".

Confrontado com os, até a publicação desta matéria, quase 200 mil mortos pelo coronavírus, ele admite que é um número alto, mas prefere não comentar sobre. Se 2020 vai entrar vai ser lembrado apenas como um anos de alta de preços, vamos ser jogados na lata de lixo da história, pois já passamos por momentos bem pior. Porém, isso obviamente não vai acontecer.

O instalador de ar-condicionado Márcio Araújo andando pelo Centro (Foto: Henrique Kawaminami)
O instalador de ar-condicionado Márcio Araújo andando pelo Centro (Foto: Henrique Kawaminami)

Para o sociólogo professor universitário Paulo Cabral, a história se forma basicamente de três formas.

"Há situações em que as mudanças, fruto de um longo processo histórico, vão acontecendo de forma pouco perceptível enquanto são operadas para, no final, produzirem uma síntese que reflete toda a extensão daquele processo. Há outros casos em que o processo é de média duração, concatenado a processos anteriores, muito frequentes na área das ciências da saúde, quando pesquisadores se voltam para a busca de determinado equipamento, medicamento, ou técnica cirúrgica e há situações em que um único fato, por sua natureza, extensão, impacto pode alterar paradigmas e, consequentemente, mudar o curso da História. Um exemplo clássico é o 11 de Setembro".

Para o resto de nossas vidas, o coronavírus vai marcar a história da humanidade assim como foi com o evento do ataque de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas (Foto: Markus Spiske/Unsplash)
Para o resto de nossas vidas, o coronavírus vai marcar a história da humanidade assim como foi com o evento do ataque de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas (Foto: Markus Spiske/Unsplash)

Ainda, ele considera que mídia tem um papel importante na percepção da gravidade e do valor histórico do fatos.

"No caso da pandemia, ao realizar pesquisas e estabelecer paralelos com a pandemia da gripe espanhola, no início do século XX, e mostrar que em média, a cada século aconteceu uma peste, a mídia revela a historicidade dessa pandemia. Assim, ao vivenciar o isolamento social, ao fazer uso de máscaras, ao higienizar as mãos, vimos que esses procedimentos foram os mesmos recomendados 100 anos antes, durante a gripe espanhola. E aí, é inevitável perceber que a pandemia do século XXI, por todos os impactos que produz, pela quantidade de mortes provocadas, aqui e pelo mundo, contabilizadas diariamente, pela saga em busca da vacina, em tempo recorde, tudo faz transcender a historicidade desse longo momento. Tenho a convicção de que com o coronavírus não será diferente e que a sua memória será conservada durante muito tempo".

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