Além de bater de porta em porta para evangelizar, igrejas apelam até para spam
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Você abre o e-mail e, entre tantas mensagens, surge mais uma: “Boa Tarde! Infelizmente os dias que vivemos hoje não são fáceis visto que lidamos com muita violência, doenças, corrupção e muitas outras coisas que não agradam a Deus. Você acredita em Deus? Exerce fé nele?”. Depois de uma citação da bíblia, o texto termina com a frase: “que Jeová o abençoe, juntamente com sua família”.
Para quem compartilha do mesmo pensamento, esse tipo de “recado” é só mais uma forma de ser gentil, atrair coisas boas e anunciar o quão bom são as coisas divinais. Mas quem não se identifica nenhum pouco com a crença – ou se identifica, mas não vive anunciando, a gentil mensagem irrita porque, além de invasiva, é vista com uma tentativa de pregação fora dos templos religiosos.
A tradição de bater de casa em casa para evangelizar ainda é o principal meio de propagação da “palavra de Deus” adotado pelas igrejas, mas elas também se renderam à internet. Hoje, a maioria utiliza a rede e as plataformas mais atuais para atrair novos membros.
Algumas apelam, inclusive, para os indesejáveis spams, como é o caso da Assembleia de Deus. Responsável pelo setor de comunicação da igreja, o jornalista Daniel Almeida, de 30 anos, confirma que esse é um dos métodos adotados, embora pouco utilizado. “É um risco que a gente corre”, disse, referindo-se à eficácia da divulgação que, com certeza, agrada a poucos.
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Os dirigentes resolveram trabalhar mais com a internet há 7 anos. Além do site oficial, a Assembleia mantém uma página no Faceboook, com quase 10 mil seguidores, e o Twitter, mas a tradição continua.
“Ainda fazemos visitas, porque é uma arma que a gente não pode abrir mão. No contato pessoal a pessoa sente-se valorizada e acolhida”, disse.
Diretor de assuntos públicos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida com a dos Mórmons, Daniel Patelli argumenta de forma semelhante, ao dizer que, “embora a internet possa jogar a semente para milhares de pessoas”, o carro-chefe nas pregações continua sendo o contato direto com os missionários, 83 mil em todo mundo.
Mesmo assim, a rede tem sido uma aliada poderosa para compartilhar o evangelho. A Igreja dos Mórmons possui, segundo ele, diversos sites, onde é possível conversar com missionários online. Também utiliza as mídias sociais “para que membros e amigos compartilhem mensagens edificantes”. No Youtube, o canal Mórmon, prosseguiu, é um dos mais acessados.
A Adventista do Sétimo Dia também evangeliza pela internet. O marketing é tão forte que existem, inclusive, equipes com profissionais em funções específicas, como afirmou o responsável pelos portais da igreja na região Centro-Oeste, Rodrigo Dias Dorval, de 34 anos.
“Utilizamos as mídias sociais de forma intensa. Nosso perfil no Facebook, por exemplo, é bastante forte. Temos uma equipe especializada. São pessoas formadas na área de marketing digital, jornalistas...”.
A igreja sempre utilizou a internet, mas antes o trabalho se resumia, em sua grande parte, aos sites oficiais. “Tivemos uma evolução grande nos 5 anos. Passamos a usar a internet para o evangelismo em sites específicos. Todas as nossas linhas de web passaram a oferecer produtos para esse segmento. Tem sites para jovens, família, pais, adolescentes. É uma tendência”, esclareceu.
Metade é destinada aos membros, enquanto a outra parte tem como público alvo os interessados em conhecer o evangelho e, como consequência, a adventista. As equipes trabalham com postagens nas mídias sociais, campanhas pagas, newslater, entre outros meios, mas sem apelar para o spam, garante.
O trabalho tem dado resultado. “Hoje, graças a divulgação na internet, a gente consegue novos membros e mais pessoas participam dos projetos, mesmo não sendo da igreja. Um exemplo é o ‘Anjos da Esperança’, de doações para manter a TV Novo Tempo”, declarou.
Apesar disso, a evangelização no ambiente online, disse, não substitui o contato pessoal. “Hoje ela [a internet] é a finalização. Nós substituímos o contato de porta em porta, da década passada, pela captação via TV, rádio e internet, mas a finalização continua sendo pessoalmente”, declarou.