"Amarelinhu" é point da Medicina e memória do filho de Janete
Na decoração, há placas do curso de Medicina e fotos de Mauri, que faleceu aos 33 anos
A lanchonete AmarelinHU fica bem em frente ao portão do Hospital Universitário da UFMS, na Avenida Senador Filinto Muller, na região do Bairro Vila Ipiranga. Quem entra, vê um lugar charmoso, com a parede de azuleijos amarela, que faz jus ao nome. Lá, é onde é trabalho e casa da proprietária Janete Tavares Mota Rodrigues, de 62 anos.
Cumprimenta a todos e serve com atenção. Vestida de camiseta dos Rolling Stones, enfeitada com anéis e correntes, conversa sério, mas sem deixar o sarcasmo de lado, tirando várias risadas de quem a ouve. “Aqui, era o point da Medicina, você não precisava ir para nenhum outro lugar pra paquerar”, explica.
Entre os itens de decoração, há várias placas de formatura de cursos de medicina da UFMS e várias fotos de Mauri Fernandes Rodrigues Junior, filho de Janete, que faleceu aos 33 anos devido a um câncer.
Se refere aos alunos como “meus anjinhos da medicina”, mas tem carinho por outros cursos, cujas unidades são daquelas bandas do campus, como odontologia. Uma das turmas de medicina até escolheu Janete como homenageada. “Me disseram que, inclusive, tem escrito lá no papel que eles entregam aos novatos, que é obrigação comer da esfirra da Tia Janete”, ri.
Ainda em vida, Mauri era quem tocava a lanchonete junto com a mãe. No próprio estabelecimento, há um pedaço de parede dedicado ao filho, com várias fotos dele. Não se acanha de falar da morte do filho e lembra dele com sarcasmo carinhoso, além de conversar sobre todos os aspectos da vida e da morte de Mauri com naturalidade.
“Aquele cachorrão não fez medicina não, escolheu a dedo cursar Educação Física, porque era mais fácil. Passou um bom tempo só com um caderno”, detalha. “Ele era querido por todos. No enterro dele, parecia de político, de tanta gente que compareceu. Foram quase 30 coroas de flores que recebemos. Mãe mesmo nunca esquece. Mas não me deixei desmoronar, não. Até porque também tudo que a gente faz, tem que ser em vida e nós dois aproveitamos muito”, reforça.
Paranaense, Janete já morou também em São Paulo, mas estacionou em Campo Grande. Começou no mundo de dona de lanchonete, quando a mãe começou os negócios na região, com o Restaurante Paulista, que tem como proprietário seu Adalberto, um dos irmãos de Janete. Seu Adalberto, inclusive, já apareceu aqui no Lado B falando do comércio na Filinto Müller.
Uma das lembranças queridas de Mauri, inclusive, está em uma viagem para a praia, feita pouco antes do falecimento dele e que ficou na memória de Janete como despedida. Gosta da Vila Ipiranga, mas em comparação com os outros comerciantes, ainda pensa em mudar de vida e ir embora para morar no litoral.
“Depois da morte do meu filho, já viajei duas vezes pra praia, pro lugar onde fomos juntos, inclusive. Quanto ao comércio e o movimento, a coisa foi feia aqui. Nos últimos tempos mesmo, só consegui manter aqui aberto, porque eu me sempre me organizei. Agora, quem cuida é meu genro. Mas um dia eu deixo eles aqui cuidando e ainda vou morar na praia”, expressa e ri.
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