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Comportamento

Aos 61 anos, todo dia comerciante escreve à mão poesias e histórias

Desde o início da pandemia, já são 5 cadernos com folhas preenchidas de poemas e filosofias de vida

Bárbara Cavalcanti | 03/09/2021 06:19
Marcelo escrevendo poemas à mão em seu caderno. (Foto: Kísie Ainoã)
Marcelo escrevendo poemas à mão em seu caderno. (Foto: Kísie Ainoã)

Marcelo José da Silva, de 61 anos, tem uma vendinha de salgados, doces e bebidas na Avenida Filinto Müller, no Bairro Vila Ipiranga. Durante a pandemia, começou um novo hobby: copiar à mão, poemas e histórias com filosofias de vida em cadernos.

Já são cinco com todas as folhas preenchidas de Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade ou outras histórias que seu Marcelo encontra na internet e acha interessante.

Foi a melhor coisa que eu fiz nessa pandemia”, declara.

Uma das folhas de um dos cadernos de Marcelo com um poema de Fernando Pessoa. (Foto: Kísie Ainoã)
Uma das folhas de um dos cadernos de Marcelo com um poema de Fernando Pessoa. (Foto: Kísie Ainoã)

Natural de Camaragibe, em Pernambuco, veio para Campo Grande sete anos atrás, quando terminou um casamento em São Paulo. “Eu fiz minhas malas, deixei ela pra trás, vim pra cá sozinho, só eu e Deus”, conta.

Desde então, conseguiu a barraca bem em frente ao Hospital Universitário da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e dali não saiu, pois também mora no bairro. A família toda ficou por lá mesmo, mas seu Marcelo não se incomoda em estar sozinho por aqui. “Formei minha filha advogada e sou o homem mais feliz do mundo”, expressa.

Durante a pandemia, diz não ter fechado a venda nenhuma vez, apenas reduzido o horário. Do ano passado para cá, passa a maior parte do tempo em companhia dos poetas. No balcão, ficam os cadernos, os óculos e caneta no avental, prontos para escrever as poesias entre um cliente e outro.

Todas as folhas têm como um tipo de cabeçalho a frase “Boa tarde a todos os amigos”. “É que eu pego isso aqui e coloco no Facebook depois”, detalha. E se empolga ao compartilhar presencialmente também. Durante a entrevista, recitou algumas poesias e leu parte das histórias para o Lado B. “Meu favorito é Fernando Pessoa”, ressalta.

Marcelo recitando uma de suas poesias favoritas. (Foto: Kísie Ainoã)
Marcelo recitando uma de suas poesias favoritas. (Foto: Kísie Ainoã)

As filosofias de vida fazem seu Marcelo até se emocionar. A voz embarga e os olhos começaram a lacrimejar quando começa a contar algumas das histórias. Não segura a emoção ao contar uma de uma mãe que foi internada em um asilo pelos filhos, mas antes de morrer, continuava preocupada com as necessidades deles.

“No final, ela diz: “Eu estou preocupada é com vocês, não comigo”. Já pensasse, como que pode uma coisa dessa? Eu fico assim porque eu incorporo o personagem”, comenta, emocionado.

Mas as lágrimas não duram muito, pois depois das poesias e histórias, outra coisa que seu Marcelo também gosta é de fazer piadas. “Durante essa pandemia, a única coisa que eu peguei foi AIDS: Alto Índice de Defasagem Salarial. Uma vez eu falei isso pra uma namorada e ela tomou um susto. Mas aqui é assim, eu converso e faço piadas com o cliente e assim vou fazendo amizades”, finaliza entre muitas risadas.

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