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Comportamento

Aos 24 anos, Nanda é a 1ª rainha de bateria transexual no Carnaval de Corumbá

A entrega da faixa foi animada e, agora, Nanda se prepara para brilhar na avenida e realizar um sonho de infância, após muita rejeição

Thailla Torres | 22/01/2019 08:50
Depois de ouvir muito "não", Nanda conquistou lugar como rainha de bateria. (Foto: Arquivo Pessoal)
Depois de ouvir muito "não", Nanda conquistou lugar como rainha de bateria. (Foto: Arquivo Pessoal)

Abram alas que Nanda Ferraz vai passar. Do alto de sua plataforma com 12 centímetros, ela é a primeira transexual a desfilar como rainha de bateria no desfile das escolas de samba de Corumbá, previsto para os dias 3 e 4 de março. Depois de ouvir muito não, Nanda vai realizar um sonho representando a escola Caprichosos de Corumbá.

Agente de saúde e acadêmica do último semestre de Educação Física, Fernanda Aguero da Silva tem 24 anos, nasceu em Corumbá e se declara apaixonada pelo Carnaval. "Sempre fui apaixonada, frequentei os desfiles desde pequena com a minha família. Meu sonho era ser rainha de bateria, mas por anos eu não pude nem desfilar perto porque na frente só permitiam mulheres. Hoje, estou quebrando um grande tabu", diz Nanda.

A entrega da faixa e da coroa, no dia 12 de janeiro. (Foto: Arquivo Pessoal)
A entrega da faixa e da coroa, no dia 12 de janeiro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Cinco vezes Madrinha Gay da Império do Morro e também da Caprichosos, ela sempre sonhou em fazer parte da ala das passistas. Mas olhares e julgamentos tentavam dizer que o samba não era o seu lugar. "Um engano, porque sempre acreditei que um dia, nós mulheres transexuais seríamos reconhecidas, e o que me deixou mais feliz é que esse reconhecimento veio na minha cidade", conta.

Nanda recebeu a faixa com uma festa animada na escola de samba, no dia 12 de janeiro, após o convite do carnavalesco Leandro Cavallero. "Fiquei muito feliz. É um sonho realizado e mais uma batalha vencida. Porque ser transexual e, querer ter destaque no Carnaval, em uma cidade do interior, não é fácil".

Apesar da conquista, o preconceito não teve fim, por isso, Nanda quer entrar na avenida Marechal Rondon como resistência. "Ainda existem muitos comentários infelizes, assim como pessoas que não querem que eu participe porque acreditam que estou invadindo um espaço que não é meu".

Mas a força maior vem de casa, garante. "Fui criada pelos meu avós e meu avô é militar, mesmo assim, hoje, eles me dão todo apoio do mundo, do jeitinho deles, mas sempre com muito amor".

Um dos ensaios como rainha. (Foto: Star Gilson)
Um dos ensaios como rainha. (Foto: Star Gilson)

Nanda se reconheceu como mulher ainda na adolescência, mas com pouca informação, o processo de transição só começou aos 18 anos. "Vestia roupa e sapato de uma tia, sempre escondido, sem me dar conta que eu tinha o direito de ser quem eu realmente era".

Preparação - Hoje, ela malha bastante para manter o corpo sarado. Com 1.78m de altura e 78 quilos, ela também joga vôlei para ajudar no condicionamento físico e aguentar todo o desfile em cima  de um salto. "Eu treino todos os dias, mas não pego pesado porque não posso ficar cansada, preciso estar disposta. Também não faço muita dieta, porque gasto muita energia nos ensaios e preciso estar resistente no dia do desfile, mas os exercícios e o esporte são meus aliados contra o aumento do peso".

Ano passado, a escola Caprichosos de Corumbá ficou em terceiro lugar, mas agora, se depender de Nanda, alcança o título de campeã pelo samba e pela diversidade. "Se depender de mim, vamos vencer. Visto a camisa da escola com orgulho", diz sobre a escola que neste ano homenageia o distrito Albuquerque com o samba-enredo "Albuquerque o paraíso é aqui".

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