Ceu só rompeu 19 anos de violência quando sentiu que iria morrer
Após se libertar, reconstruiu vida e criou instituto para ajudar outras mulheres a não passarem pelo mesmo
“Quando ele quase tirou minha vida, eu resolvi dar um basta”. Dos seus 52 anos, a pedagoga Ceurecy Santiago Ramos passou 19 sofrendo violência doméstica e, como ela narra, faltou pouco para que tivesse sua história encerrada. Sentindo na pele o que é ser desacreditada por todos, Ceu não só se salvou, como decidiu que iria ajudar outras vítimas a terem um local em que receberiam a ajuda que ela tanto precisou.
Fundadora do Aciesp (Instituto de Apoio, Capacitação e Instrução de Economia Solidária do Povo), Ceurecy retorna ao passado para exemplificar na prática as dores de quem se vê sem saída.
Paranaense, ela viveu um casamento de quase duas décadas e, durante todo esse tempo, foi violentada, como descreve.
Eu sofri violência doméstica em todos os sentidos, violência psicológica, patrimonial, física. Foi muita tortura mesmo”, define Ceurecy.
No ciclo da violência, como é o caso de várias outras mulheres, Ceu levou um bom tempo até entender sua situação e notar que o que ocorria em sua vida não era ‘normal’ ou saudável.
E, quando percebeu, o caminho para sair do trajeto parecia não existir. “Esse tempo em que passei por todas essas torturas, eu não tinha forças para me libertar porque ninguém acreditava em mim”, descreve.
No cotidiano, seu agressor era visto como “a melhor pessoa do mundo” fora de casa. Enquanto não estava entre quatro paredes, a visão parecia ser de um pai amável e um bom marido. Como a vítima define, um bom samaritano.
Os quase 20 anos se aproximaram e, já não aguentando mais, a pedagoga entendeu que não tinha outra escolha que não fosse tentar abandonar a forma com que vivia. E isso aconteceu quando as violências estavam tão intensas que Ceurecy sentiu que seria morta.
“Meus três filhos iam viver sem mãe, então mudei minha vida. Corri atrás de criar meus filhos sozinha e percebi que não era só eu que estava naquela situação sem apoio”, descreve.
Após o processo de denúncia e conforme conseguiu buscar ajuda, entendeu que não conseguiria seguir seu caminho de outra forma. Foi assim que nasceu o instituto inicialmente, pensado para ajudar outras mulheres que estivessem passando pelo mesmo.
“Várias outras mulheres estavam na mesma situação que eu estava passando”, resume a fundadora. Assim, em 2013, o instituto nasceu para capacitar e dar suporte para aquelas que precisassem.
Outros públicos que também vivenciam a violência entraram nos atendimentos, como idosos vítimas de violência e/ou abandono familiar, e a população LGBTQIAP+.
Longe de substituir o papel da polícia, o Aciesp veio como uma forma de as vítimas entenderem que possuem um local para pedir ajuda, um espaço em que serão acreditadas. E que, ali, terão acesso a formações e outras atividades para conseguirem reconstruir suas vidas.
Desde aulas de costura até ações de conscientização sobre saúde, há uma longa lista de atividades. Para conhecer, o perfil no Instagram é @instituto_aciespms e o número para contato é (67) 99220-2525.
E, sempre lembrando que caso seja vítima, o número para contato é o 180 (Plataforma Mulher Segura), em caso de violência doméstica ligue para o 190 (Polícia Militar) ou (67) 99180-0542 (Programa Mulher Segura).
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