Após 22 anos com “Guri”, família faz rifa para Maria reencontrar papagaio
O pássaro foi apreendido pela Polícia Militar Ambiental e encaminhado ao CRAS de Campo Grande
Após 22 anos cuidando o papagaio “Guri”, Maria de Lourdes Ferreira, de 57 anos, quer a todo custo reencontrar o “filho”. A ave foi apreendida pela PMA (Polícia Militar Ambiental), ontem (28), e agora a família organiza rifa para entrar na justiça e recuperá-lo.
O valor para participar do sorteio é R$10,00 e o vencedor ganha um kit masculino de perfume, desodorante e creme pós-barba. Ela diz que precisa arrecadar R$ 3,8 mil para pagar os honorários do advogado que contratou.
“Ele me ajuda a ser mais feliz. Quando ligava o som, ficávamos cantando louvor”, disse Maria de Lourdes chorando. O pássaro foi presente de um compadre já falecido, que morava em uma fazenda. “Era bem novinho quando ganhei, nem pena tinha. Tratei como criança, dormia comigo. Não o colocava em gaiola, nem cortava as asas. As portas e janelas daqui de casa ficam abertas, não voava porque não queria”.
Aposentada, diz que tem problemas cardíacos e faz tratamento para depressão. Contou que o pássaro ficava em um poleiro num canto da casa, onde tinha comida e água. “Ele dormia comigo, ficava na minha cama, mexia na minha cabeça. Quando voltava do médico, começa a me gritar, falava ‘O mãe’. Era feliz”, garante.
Maria de Lourdes mora no bairro Vivendas do Parque, onde tem um quintal. “Tem um pé de manga aqui. Os outros papagaios vêm, mas ele nunca quis ir”. Ela relatou que sabia da necessidade de registrar o “Guri”, mas não foi atrás por medo. “Não queria que o levasse, por isso não quis mexer nisso e por falta de dinheiro, pois tenho que comprar os remédios”.
Na casa, mora ela e o esposo, Adão Cubilho, de 66 anos. No dia em que os policiais bateram à sua porta, foi o marido quem atendeu. Maria de Lourdes entrou em desespero ao ouvir os militares falarem da denúncia e que o papagaio seria levado. “Quase morri. Chorei, pedi para não levarem. O Guri também chorou, não queria ir. Foi meu marido que teve de colocar na gaiola. Falaram que poderiam prender a gente se não deixasse levar”, lembrou.
No momento da apreensão, uma de suas filhas tirou a última foto da mãe com o Guri. A emoção tomou conta, e toda vez que fala recorda do papagaio, Maria chora. “A foto foi porque o advogado pediu”.
Desde que Guri foi levado, Maria disse que perdeu a fome. “Não consigo comer. Quando almoçava, ele me pedia comida, mesmo já tendo no prato dele. Dava girassol, pão, tratava igual criança”.
Outra filha da aposentada é Fabiana Ferreira. Ela comentou que cresceu ao lado do papagaio. “Criado solto, sempre foi assim. Ele falava meu nome. Vamos fazer de tudo para ver se consegue resgatar”, afirmou.
A família também realiza uma vaquinha online (clique aqui) para ajudar. Mais informações pelo telefone (67) 9 9295-0740.
Apreensão - O tenente coronel da PMA, Ednilson Paulino Queiroz, informou que após a apreensão, a ave foi encaminhada para o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), e que dificilmente Maria de Lourdes conseguirá recuperá-la. “Só judicialmente e se demonstrar um vínculo afetivo que convença o juiz”.
Para ter direito a um papagaio, é preciso comprar com um vendedor legalizado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o valor gira em torno de R$ 2,8 mil. “A ideia da lei é que as pessoas não tenham, para não alimentar o tráfico”, explica.
O papagaio foi entregue ao CRAS ainda no domingo. Conforme o coordenador do local, Marlon Cézar Cominetti, a ave vai passar por uma análise clínica e ficará isolada. “Vai para a quarentena para ver se não tem nenhum problema e verificar se tem patógeno que pode contaminar os outros. Em seguida passa por várias etapas do recinto de treinamento, depois é solto”, explicou. “Se adapta fácil com outros da mesma espécie”.
Marlon Cézar falou que um papagaio pode chegar até seus 35 anos de vida. Depois que é levado para o centro de reabilitação, o animal não pode ser visitado, pois a finalidade é reintroduzi-lo na natureza.