Após 40 anos no mesmo balcão, dono de banca na 13 fecha as portas
Emotivo, seu Reginaldo já vinha se despedindo dos clientes, da história e do barulho que ouviu por 4 décadas na Rua 13 de Maio
Nesta sexta-feira (17), os jornais, as revistas e também os gibis que seu Reginaldo Tamaciro sempre vendeu foram testemunha do fechar das portas da Banca Pop, depois de 40 anos ali, na Rua 13 de Maio, do lado direito, antes de chegar à Afonso Pena.
A história da banca se confunde com as últimas quatro décadas da cidade, onde, aos finais de semana, os campo-grandenses saíam de casa, estacionavam na 13 ou na Afonso Pena e desciam para comprar a Folha de São Paulo.
Entre as 13 estantes, fora a bancada do meio, a cidade encontrava os mais diversos jornais. Em geral, vinham do eixo Rio-São Paulo, mas não só. "Também tive Folha de Londrina, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, O Globo. Todos eles, menos de Minas Gerais", lembra Reginaldo.
Questionado se vai fechar, seu Reginaldo diz que sim. E, para a pergunta se está triste com o fato, os olhos entregam a emoção e os óculos chegam até a sair do rosto para dar vazão às lágrimas.
"Comecei e estou terminando aqui. Quarenta anos. Nossa, conheci muita gente, políticos, a história é grande, dava para escrever um livro", comenta Reginaldo. Dos 63 anos de vida, 50 deles foram dedicados à venda de jornais, revistas e gibis.
"Eu mexo com isso desde os 13 anos, minha mãe arrendava uma loja de revista que era distribuidora também e chamava Capricho. Era ali onde foi a Criativa e dali eu abri na Barão, em 79, mas não fique nem um ano e vim pra cá", conta.
Foi então que a fotografia do balcão foi feita. Do Reginaldo jovem, entre 22 e 23 anos, a postos no balcão amarelo, com os cigarros no caixa e as revistas e jornais ao seu redor. "Esse prédio estava fechado e na época se comprava o ponto", completa.
Na banca, seu Reginaldo sempre teve funcionários, mas há dois anos e meio já estava sozinho. "Já não estava vendendo nada, não vinha mercadoria também", explica.
Casado com dona Rosenaide de Carvalho Tamaciro, Reginaldo não esquece de citar a companheira na empreitada da banca, "que sempre me ajudou" e com quem teve três filhos . Hoje, eles já curtem cinco netos.
Abrindo de segunda a segunda, o balcão virou também armário, já que o dono passa mais tempo ali do que em casa. E atrás dele estão fotografias: dos filhos pequenos, de homenagem de Dia dos Pais e também da primeira neta, Maria Fernanda, além do futebol que Reginaldo jogava quando jovem. "Eu era craque", brinca com um cliente-amigo.
Sobre o que mais vai sentir falta, seu Reginaldo responde que, para falar a verdade, ainda não sabe. "Estou na expectativa de que vai ser bom, mas vamos ver. Ficar nessa barulheira esse tempo todo... Vamos ver se eu vou me acostumar com o silêncio. É igual a quem se aposenta, você não sabe como vai ser, mas eu acho que vou acabar mexendo com alguma outra coisa", afirma.
Com clientes fieis desde a abertura da banca, seu Reginaldo fala que já vinha se despedindo dos mais chegados, já avisando aos que entravam no espaço. "Se eu vou chorar quando fechar? Eu sou muito emotivo, já vou chorar agora... As pessoas se assustam, eu liguei para o Correio do Estado e para o Estado para dizer que ia fechar e eles não acreditaram, mas a tendência é esse segmento [de banca] acabar", acredita.
A banca ainda vai funcionar por mais alguns dias até que a mercadoria retorne às editoras, mas sem jornais do dia. "Eu vou sentir falta é dos amigos que a gente faz ao longo do tempo. Eu sou uma cara recluso, que vou pra minha casa e fico quieto, mas aqui não, aqui é diferente e eu vou sentir falta, muita falta".
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.