Após meses de pandemia com desilusões, relato nas ruas é de "pé no chão"
Ano do coronavírus, 2020 deixou rastro de saudade e sensação de que cotidiano escorreu pelas mãos
Conseguir virar a chave do ano e pensar em cenários sonhadores é trazer reflexões carregadas com o peso de 2020. Nas ruas da Capital, a áurea encontrada é de desejos embasados em vacina, medo do futuro e "pé no chão".
Além de histórias interrompidas, os longos meses que passaram são sintetizados em “estranheza” para Luís Carlos Gomes, de 57 anos. Com os dias que chegam, o autônomo volta a pensar em recuperar possibilidades deixadas de lado, “eu queria voltar a estudar, mas ficou para os próximos meses. Estou torcendo para conseguir dessa vez, tomara que tenha vacina e melhore”.
Outro ponto que faz Luís sorrir com os olhos é pensar em voltar a abraçar e deixar o distanciamento de lado, “a gente precisa tanto desse contato, hoje em dia parece que todo mundo é inimigo. Essa pandemia precisa acabar, é o que desejo mesmo, mas não tem como ter certeza”, explica.
Cansado da pandemia, Leonardo Alexandrino Silva, de 32 anos, diz que vê o cenário geral de modo um pouco mais otimista. “Todo mundo falando de vacina, assim dá para pensar em serviço e conseguir trabalhar melhor. A torcida é para chegar a poder ficar sem máscara e aproveitar melhor as coisas”.
Em consequência, os outros pedidos se mantêm tradicionais e repetem a esperança carregada durante os anos passados. “Esse ano foi difícil, mas o pedido é para conseguir trabalhar bem e viver 2021 tranquilo”, relatou.
Menos sonhador e apegado à instabilidade que não foi encerrada com os fogos do Ano Novo, o artista de rua, Zamario de Souza, de 42 anos, explicou que não consegue ver um cenário ideal até o próximo dezembro. “A gente não sabe o que vai acontecer com a economia, por exemplo. Se continuar do jeito que está, a coisa não vai melhorar”.
Ainda resistente sobre pensar em possíveis mudanças, Zamario diz que o jeito é ver o que está acontecendo e torcer para que novas boas histórias se espalhem o quanto antes. Seguindo a linha, Gilberto da Silva, de 38 anos, conta que vê 2021 como continuação dos sofrimentos.
Acho que vacina não vai fazer com que isso acabe, você vê todos os dias várias pessoas morrendo com coronavírus e é difícil ver isso acabando assim. Quero que melhore, mas acho um pouco difícil, diz Gilberto da Silva.
Mesmo assim, Gilberto diz que o sentimento por dias melhores continua dentro do peito. “A gente sonha, mas sonha com o pé no chão”.