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Comportamento

Bandeira na janela é parte de história que começou em padaria de infância

Depois de quase 20 nos EUA, Liliana quis mostrar lugar onde viveu "a felicidade" e encontrou novo amor

Ângela Kempfer | 28/10/2022 06:20
Bandeira dos EUA é lembrança de onde filhas nasceram. (Foto: Ângela Kempfer)
Bandeira dos EUA é lembrança de onde filhas nasceram. (Foto: Ângela Kempfer)

Por semanas, a bandeira dos Estados Unidos na fachada de uma casa virou fixação na cabeça desta repórter. Foram tantas tentativas de entender o motivo da “homenagem” que, quando finalmente consegui falar com os donos, descobri que eles estavam prestes a chamar a polícia contra a maluca que passava dia sim, dia não, tentando achar alguém no endereço do Jardim São Bento.

Mas a persistência sempre compensa. Neste caso, pela história de Liliana Sabate, mãe de Mia (13) e Bruna (7). O maior símbolo dos EUA é uma lembrança estampada na janela principal do imóvel, para as filhas nunca esquecerem de onde vieram. Ao lado, a bandeira brasileira mostra a origem da mãe, que nasceu em Ladário, e do novo amor, o corumbaense Odil Tadeu Giordano.

A forma como o casal se encontrou é o que mais encanta neste caso, em Corumbá. A relação começou por conta da padaria preferida da menina que vivia por lá 3 meses por ano, comprando pão e doces. “É o meu lugar do coração, onde eu fui mais feliz na minha infância”, explica Liliana, que se dividia com o irmão entre Brasil e Espanha, onde a mãe morava depois de se separar do marido.

No fundo, a bandeira do Brasil também aparece, para mostrar as duas nacionalidades. (Foto: Ângela Kempfer)
No fundo, a bandeira do Brasil também aparece, para mostrar as duas nacionalidades. (Foto: Ângela Kempfer)

Com sotaque forte, Liliana prefere não aparecer em fotos, mas conta que viveu quase 20 anos nos Estados Unidos com o primeiro esposo, pai das meninas. “Estava na Espanha e conheci ele. Não falava uma palavra em inglês. Mas ele não queria morar na Europa, então fomos para Nova Iorque. Muita gente de lá ajudou, aprendi inglês e fui fazer outra faculdade, de administração da área hospitalar”, detalha.

Quando resolveu romper o casamento, em 2019, voltou para a casa do pai espanhol, engenheiro químico, que hoje vive em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. "Lá enfrentamos a covid, presas em um condomínio", diz.

A grande vontade de Liliana era mostrar Corumbá às filhas. “Então, quando a pandemia deu trégua, ela foi visitar uma prima que morava lá. "Falei para minhas filhas: ‘quero que vocês conheçam o lugar onde eu fui muito feliz, onde eu sinto muita paz, onde eu tenho sonho de morar’. Também falei para elas, 'vamos lá onde eu comprava pão quando eu tinha 9 anos e quero que vocês conheçam onde a gente brincava na rua...'”

Bruna e o cãozinho boliviano, o companheiro no Brasil. (Foto: Ângela Kempfer)
Bruna e o cãozinho boliviano, o companheiro no Brasil. (Foto: Ângela Kempfer)

As três chegaram à padaria e encontraram o mesmo dono no balcão. “Seu Didi estava lá, mas não me reconheceu. Mas isso nem importava, eu lembrava de tudo. Ele então contou para o irmão dele, que havia se separado, sobre a minha história. O Odil pediu meu telefone, nós começamos a conversar, ficamos amigos e nos apaixonamos”.

A mudança para Campo Grande foi o próximo passo. Mas antes de fixar endereço por aqui, Liliana teve de voltar para os EUA, lidar com questões jurídicas do divórcio. Durante todo o tempo das três distantes, Odil preservou a bandeira na janela, à espera das donas.

Agora cheia de malas, veio pra ficar e comemorar o aniversário do marido, com festa no mesmo dia desta entrevista. As meninas ainda não estudam porque terminaram o ano letivo por lá, mas voltarão em 2023, para experimentar a educação brasileira.

Por enquanto, as duas se comunicam em inglês e espanhol, mas o melhor e único amigo até agora não liga: o cãozinho boliviano que veio junto na mudança.

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