Bombeiro resiste como entregador e fala sobre “bizarrizes” na rua
Após sofrer grave acidente de moto, bombeiro voltou à ativa e ainda trabalha nas entregas por aplicativo sem medo
Nas ruas de Campo Grande, Nathanael Douglas Abelardo da Silva, de 22 anos, descobriu por si só o risco e as "bizarrices" de uma profissão que só cresceu no período da pandemia: a de moto-entregador. Durante o dia, é bombeiro civil e, à noite, percorre as ruas fazendo entregas, mas sem nunca esquecer do acidente que sofreu há 1 ano e que quase o deixou sem andar. Hoje, sobrevive em pé e tem história para contar.
"A atividade de entregador começou só há 3 meses, quando tive as noites vagas. Tenho amigos que exercem a profissão e me incentivaram. Foi uma rendinha que entrou e já foi ajudando dentro de casa. Mas só atuando como motoboy que pude realmente entender o que é que esses profissionais passam em Campo Grande", afirma.
Tanto é que comprou uma câmera de ação (dessas que captura quase 180º) e a colocou no capacete para própria segurança. "Tem muita bizarrice acontecendo por aí". Só no trânsito, não se cansa de presenciar situações chatas, acidentes constantes.
"É muita infração de trânsit, gente no telefone, motorista que invade sinal vermelho, é buraco nas ruas, é carro que invade a pista do outro, é quem não põe seta mas, principalmente, quem simplesmente não olha nos espelhos laterais e confere o retrovisor para ver se a gente está por lá. Nas ruas, são quatro rodas contra nossas duas", opina.
"Nesta semana mesmo tive que colocar um braço de um amigo no lugar porque ele havia deslocado o braço após escorregar na pista molhada por conta das chuvas. Já teve vezes de eu presenciar um acidente no momento do acontecido, parei rapidinho a moto só pra ver se tava tudo e talvez fazer os primeiros socorros. Enfim, muita coisa acontece", admite.
Fora o que já testemunhou dos colegas de profissão na hora de levar o pedido à porta do cliente. Para ele, a câmera filmar sua rotina noturna de entregador já serve como um "sinal" de que ali ele não está de brincadeira.
"Já ouvi situações de roubos, furtos, acidentes e clientes mal-educados. Sempre tem um que reclama do atraso da entrega, que xinga, como se nós fôssemos funcionários da empresa. Somos terceirizados. E o aplicativo não traz nenhuma segurança pra gente, por isso tive a ideia da câmera, para ter provas nas mãos se algum dia eu precisar ", esclarece.
Acidente – Antes de virar bombeiro-entregador, Nathan passou por um Réveillon difícil em 2019. Ele estava saindo do plantão quado foi fechado por uma caminhonete que bateu forte na traseira da sua moto e fugiu sem prestar socorro.
"Sangrei muito porque tive fratura exposta. Minha perna direita foi parar na cabeça. Já a esquerda, eu simplesmente sentei em cima dela porque estava completamente quebrada. Foi uma cena horrível, mas eu nem sentia dor alguma. Na hora eu só gritava pela minha família", relembra.
Nathan foi amparado por quem estava ali na hora e foi socorrido pelos paramédicos em curto tempo. "Pedi que ligassem para os meus pais porque achei que realmente fosse morrer. Era minha despedida. Só fui perder a consciência quando já estava dentro da ambulância a caminho do hospital".
Pai, amo o senhor, amo minha mãe, mas agora é só Deus, que seja feita a vontade dele. Me despeço aqui", falou ao telefone.
Ele passou a virada do Ano Novo na Santa Casa de Campo Grande onde, por 3 dias, ficou em coma induzido para o inchaço diminuir. Mesmo com a gravidade do acidente, no dia 18 de janeiro teve alta, o que para os médicos só aconteceria em meados de fevereiro.
"Todos se surpreenderam com a minha melhora porque na realidade estavam desacreditados, achavam na época que eu nunca mais iria andar."
Na recuperação, era seu próprio pai que o ajudava nos exercícios já qu não tinham condição de pagar um fisioterapeuta particular. "Mesmo com as dores, ele sempre me motivava. Tanto é que 6 meses depois, em julho, já voltei a andar bem mesmo".
Hoje, voltando à ativa de bombeiro civil e agora como moto entregador, Nathan lamenta não ter as imagens do seu acidente. "Se eu mostrassem a placa da caminhonete que fugiu, teria as provas necessárias para entregar à justiça", julga.
Para finalizar, ele deixa um recado: "não adianta a gente fazer algo que não gostaríamos que fosse feito com a gente. E isso não vale só pro trânsito, mas pro dia a dia, pra vida. Peço que se valorize mais aqueles profissionais que se arriscam a levar o alimento direto pro conforto de sua casa, porque são eles que também precisavam levar o alimento para dentro da deles".
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