Cabeleireiro há décadas, Léo já atende netos e vai até casa de cliente
Leonardo Escobar Rodrigues vem de uma família de cabeleireiros e testemunhou história da Capital ao longo de 48 anos de profissão
Dos 61 anos de idade, mais de 40 deles foram passados dentro de salões de cabeleireiro. Leonardo Escobar Rodrigues, o Léo, começou engraxando sapatos e aprendeu o ofício da tesoura com os irmãos, Marcos e Felipe Escobar Rodrigues. Caçula da família, vem testemunhando a história de Campo Grande, já que cada cliente que atende, no salão ou em casa, tem sua contribuição na formação da Capital.
Campo-grandense, os planos dos irmãos para Léo era o de fazê-lo médico ou dentista, mas não teve jeito, ele seguiu a vocação que o sobrenome trazia. "Comecei tem quase 50 anos, na galeria São José e na Dona Neta, no salão Joia, que era dos meus irmãos", conta Léo. Este salão durou 35 anos, resistindo até o falecimento de Marcos e Felipe, ficando nas mãos de Leonardo.
"Aprendi com eles, mas ao longo dos tempos a gente vai se aperfeiçoando, entra novidade no mercado e vamos aprendendo", narra.
Apesar de tão longa carreira, Léo está só no terceiro salão, hoje localizado na Rua Brasil, 807. De volta ao passado, ele pausa a leitura do jornal para contar sua história. Se atualizar, além de fazer isso por si mesmo, é preciso para ter assunto com os clientes. Mas Léo não se manifesta, espera quem está sentado puxar a conversa. "É sempre política, futebol, política mundial, agora tem a pandemia, mas eu procuro não falar muito disso, porque todo mundo já está sofrendo", comenta.
Um dos primeiros clientes de Leonardo, ainda menino, foi o pecuarista Laucídio Coelho, que dá nome ao parque de exposições da cidade. "Eu tinha 14, 15 anos. Era engraxate, aí passei a cortar o cabelo e a barba dele. Quando ele chegava no salão, eu tinha o cabelo arrepiado, ele perguntava: 'cadê o Leonardo cabelo arrepiado?'", recorda. A resposta, quando a procura era feita pela manhã, era de que o profissional estava na escola, mas que havia outros cabeleireiros para atendê-lo. "Não, amanhã eu retornarei. Só o Léo que corta o meu cabelo", reproduz a fala de Laucídio.
A relação com o coronel Adib Massad, um dos maiores nomes da Polícia Militar, em especial pela postura de linha dura contra o criminalidade na fronteira, é antiga. Hoje com 92 anos, o coronel corta o cabelo na varanda de casa, e é o cabeleireiro que vai até ele.
Os irmãos de Léo eram da mesma loja maçônica do coronel, Leonardo também teve uma breve passagem pela aeronáutica, onde os caminhos se cruzaram no militarismo. "Desenvolvi inclusive uma amizade muito forte com o coronel Adib, fiquei na aeronáutica e depois que dei baixa, continuei cortando o cabelo dele", conta Léo.
Antigamente, a aeronáutica tinha os chamados taifeiros na área de cozinha, alfaiataria e barbearia. Léo entrou como barbeiro.
Há décadas cortando o cabelo do coronel, nem precisa fazer o pedido, ele já sabe como o cliente gosta. "Passa a máquina bem raspadinho, militar mesmo", pontua.
A clientela é imensa e passa pelas famílias tradicionais da Capital, Zahran, Tannous, Coimbra, Maiolino. Entre vários nomes que Leonardo faz questão de citar estão o já falecido pediatra Eduardo Nachif, e o vascular Arlindo Nakasone, cliente fiel há mais de 40 anos. "E ele costuma brincar: Léo, se você se mudar para a Morninha, eu vou mudar para cortar com você lá".
Na lista de clientes, tem também artistas que não só faziam questão do corte e barba com os irmãos Escobar Rodrigues, como também vinham atrás do tereré. "No nosso salão passou o Vanderlei Rosa, que o Marcos trouxe de São Paulo e com ele vieram Rolando Boldrin, Sônia Bréa e Luiz Gustavo.
"Nós somos de origem paraguaia, então ensinamos os três a tomar tereré, então eles já chegavam falando: 'ô, paraguaio, cadê aquela água suja? Eu gostei'", recorda.
Além de apresentações na Capital, eles também vinham para as fazendas no Estado. "O Marcos mandava era para o Luiz Gustavo em São Paulo", acrescenta.
Leonardo já está na terceira geração de clientes, atendendo do avô ao neto, e não fica só na relação cabeleireiro - cliente, para festas de família ele é sempre chamado. "Quando tem festa em chácara, sempre me chamam, a gente não vai, porque final de semana a gente também tem família, né?", explica.
Palmeirense e Operariano, estrelas do futebol também já passaram pela cadeira de Léo, como Carlos Castilho, Manga e Toninho Guerreiro.
Cortar cabelo é algo tão enraizado em Léo que ele nem sabe o que seria se não cabeleireiro. "Acho que nós, seres humanos, a gente já vem pra cá pronto para ser aquele profissional e cada um sabe o seu querer. Eu vou até quando Deus me der forças, porque gosto demais da minha profissão e dos meus clientes. Fico triste quando perco um deles, já estamos nos netos, então seguimos dando continuidade", descreve.
Há dois meses Léo mudou de salão e está na Rua Brasil, 807, no salão Amanda Souza Make up e Esthetic.