Câncer levou Vergínia e agora cabe à filha cumprir promessa em hospital
Crítica do SUS, Adriana teve boa surpresa com humanidade dos profissionais da Santa Casa e resolveu ajudar
A dor sempre tenta ensinar, mesmo que nem todos aprendam com ela. Adriana não só entendeu o que o adeus significa, como transformou o fim em ajuda ao principal hospital do Estado, a Santa Casa. É o que ficou de quem partiu deixando um buraco enorme no peito. Ficou também a saudade da mãe, que nesta semana completaria 70 anos.
Vítima de câncer de mama, Vergínia Camilia Zambillo só descobriu a doença com a metástase pelo corpo. Perdeu a luta, porque restavam apenas cuidados paliativos, mas sempre teve a filha ao lado. “Um dia disse para o meu esposo que eu precisava fazer algo. Então mudei de Maracaju para Campo Grande só para ficar com ela. Cheguei no dia 21 de julho do ano passado”, diz Adriana
Viúva, mas independente e muito ativa, Vergínia já nem queria sair de casa, o que chamou a atenção da filha. Adriana procurou ajuda e após dois meses veio o diagnóstico, sem perspectivas de cura.
Nem após sofrer um acidente caindo de uma escada, em abril passado, impediu que Adriana voltasse para cuidar da mãe. "Quebrei o punho, faço fisioterapia até hoje, mas isso não me impediu de voltar e cuidar dela até o último dia. Agradeço muito o apoio que eu recebi da minha família para conseguir estar com ela"
Adriana viu a mãe definhar sobre uma cama. “Quando você acompanha alguém sofrendo, você entende que é um processo, e tem uma hora que ela precisa partir”. Quando não aguentava mais aquelas cenas de dor, sempre carregadas de morfina, a filha entrou na capela do hospital e fez uma promessa.
“Antes de morrer, minha mãe ainda acreditava em um milagre e chegou a dizer que depois da cura faria uma doação à Santa Casa. Então naquele dia pedi a Deus que não a deixasse mais sofrer e disse que ajudaria com doação. Isso foi em um sábado. No domingo ela entrou em coma e na terça faleceu”, relata sobre 26 de outubro de 2022, dia que a mãe partiu.
Agora, a filha tem a missão de cumprir o combinado. Como personal organizer, nos dias que passou dentro do hospital durante as internações da mãe, ela percebeu a falta de roupas de cama em boas condições dentro da Santa Casa. “Às vezes, saía da lavanderia direto pra cama do paciente. Aí me disseram que o hospital já tinha feito em 2021 uma campanha assim, decidi repetir”.
A meta é arrecadar dinheiro suficiente para 1.000 lençóis. “Já temos 400 e até de pessoas que moram fora do Estado. O dinheiro vai direto para e empresa que já fornece ao hospital. O depósito é na conta deles, R$ 34,50 por peça. Aí, a pessoa doa quando puder”, explica.
Mas a lição que a morte ensinou não ficou apenas em doar. Quando chegou à Santa Casa pela primeira vez, Adriana admite que tinha uma visão completamente distorcida sobre a Instituição e o SUS.
“A gente vê muito o lado ruim. Mas antes de ir para lá, passamos por um hospital particular de Campo Grande e até diagnóstico errado recebemos. Já na Santa Casa, a humanidade é perceptível. Principalmente da enfermagem, as pessoas são nobres, respeitam a todos em um momento de muita fragilidade”, comenta.
Ela reclama do preconceito contra o hospital, que é estruturado para atender grandes complexidades. “As pessoas têm de entender que, quando a coisa é grave, elas vão ter de recorrer à Santa Casa. Mas acham que não. Quem tem plano de saúde pensa que está seguro. Mas alguns procedimentos são só resolvidos na Santa Casa”, justifica.
Hoje, Adriana é só agradecimentos a todos os profissionais do hospital, pela atenção e competência. “Eu acredito que a dor abre o seu olho quando você vivencia algo tão forte. Pra alguma coisa, a morte tem de servir. Eu sou muito grata à forma como trataram a minha mãe lá dentro”.
As doações são feitas diretamente à conta da empresa que já tem contrato com a Santa Casa, a Brazil H2, pelo PIX com CNPJ 25.180.838/0001-35, Banco Itaú, Agência 0866, conta 18131-6. O lençol é personalizado para a Santa Casa e livre de ICMS, frete e impostos.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).