Casa é cheia de carros antigos que Miguel sonha ter grana para reformar
Ao longo dos anos, piloto comprou de Dodge QT a Opala, e coleção fica no terreno de casa resistindo ao tempo
No quintal de casa, o piloto de corrida Miguel Mangieri, de 60 anos, tem uma coleção de carros antigos ao ar livre. Opala 1987, Fusca 1967 e Gordini 1964 são algumas das relíquias cheias de história e significado para Miguelito. Os veículos, que marcaram gerações devido ao charme e status, agora resistem às intempéries do tempo e ausência de restauração.
Os carros são o assunto favorito do homem que começou a participar de corridas no auge dos 15 anos. Filho de fazendeiro, Miguelito preferiu viver a paixão pelos motores antigos e as competições ao invés de mexer com gado e propriedades rurais.
Além de dedicar tempo à carreira de piloto, ele passou metade da vida comprando carros para restaurar e vender. Hoje, ele perdeu as contas de quantos carros reformou e passou para frente, porém estima que o número chegue a 60. Graças as duas profissões, o piloto se tornou expert quando o tema é veículo independente da marca, modelo ou ano.
Apesar de ter seguido um ofício diferente do pai italiano, Miguel fala que em determinado momento precisou escolher as propriedades e deixar de lado os carros. “O meu pai foi ficando de idade e doente. Tive que ir para Bolívia cuidar das fazendas e os carros foram ficando abandonados", explica.
Ao retornar para o Brasil, ele conta que tinha recursos para restaurar tudo, porém o serviço carecia de bons profissionais e o valor das peças era alto. "Quando voltei quis restaurar e ainda tinha um pouco de dinheiro, mas não existia já mão de obra, o material era caríssimo e a restauração caríssima", diz.
A coleção - Com cerca de 30 carros no quintal, a coleção não fica limitada à residência no Bairro Coopharádio. Em outro ponto da cidade, o espaço de uma oficina comporta os demais automóveis, que são uma mescla de modelos antigos e atuais. Somando tudo, ele tem aproximadamente 100 carros.
Miguel fez um passeio para mostrar os carros espalhados no vasto terreno da residência. Produzida no período da Segunda Guerra Mundial, a Dodge QT é o carro mais antigo da coleção. O piloto fala que conseguiu o carro ao participar de um leilão. "Um coronel muito rico daqui queria uma pra ele. Como eu era o maior comprador de leilão da época, ele me convidou para comprar um para ele e o amigo. Eu poderia comprar esse que estava sem motor, mas ele era o mais inteiro de lá", recorda. Depois de comprar, Miguel instalou um motor Nissan Murano.
Ao lado da Dodge está a imponente Kaiser 1942, que tem o apelido de 'Cara de Cavalo'. Desde 1986, o carro está com Miguel que relata que a comprou num evento. "Eu achei ela linda demais e ofereci dez mil dólares", resume. Na ocasião, o colecionador deixou outro carro com o vendedor e voltou conduzindo a Kaiser.
Além delas, o piloto tem um Renault Gordini 1964 e um Renault Dauphine 1966. Para conseguir o Gordini, ele também fez uma troca onde passou o Karmann Ghia que possuía. “Eu fiquei com o Gordini, porque queria correr com ele, mas o Karmann Ghia é bem mais bonito”, expressa.
Ao falar das corridas, Miguel mostra o Opala 1987 que tem a lataria cheia de adesivos dos patrocinadores. Com o Opala, o colecionador venceu diversos campeonatos de arrancadas que participou no interior do Estado. Há poucos passos dali, ele mostra o Maverick V8. “Esse fez algumas provas e é pesado, aí eu usava para manobras radicais. A gente arrecadava dinheiro e fazia eventos”, conta.
Avaliado em R$ 80 mil, o Fusca 1962 é mais um dos que estão parados no terreno entre folhas e árvores, assim como a Limousine Ford London 1980, a BMW 2000, o Ford T e o Jeep 1968. Na varanda, Miguelito guarda outras relíquias, sendo elas uma charrete 1972, uma Honda de 1971 e a Caravan 1987.
Conforme o colecionador, os carros despertam muita atenção das pessoas que passam na rua. Algumas param, perguntam e querem saber a história, enquanto outras fazem propostas. O piloto diz que nunca recebe ninguém. "Me perturbavam no começo, porque não acham mais esses carros. Começou a aparecer uns que acharam que eu era louco, que eu estava colecionando ferro velho", ri.
Em relação as condições dos carros, o homem lamenta não poder fazer mais. "Vai morrendo aos poucos. É tanta luta, tanto sacrifício e nem os filhos querem saber", desabafa.
Corridas - Piloto ativo até os dias atuais, Miguel construiu carreira em competições das categorias força livre, arrancadão e street tração traseira. Dentro de casa, ele tem troféus e capacetes espalhados na estante da sala, mas a maior quantidade de troféus é armazenada em outra sala.
Campeão nacional, estadual e brasileiro, Miguel não faz ideia de quantos prêmios ganhou ao decorrer da vida. Questionado sobre como é a sensação de correr, o piloto relata. "É inexplicável", destaca. Numa caixa, o colecionador tem pilhas de fotos datadas de 1980 a 1990 que mostram dias vitoriosos como competidor. Nas imagens, o maior aliado das disputas é um Opala branco.
Cheio de lembranças, a cada imagem mostrada Miguelito revela as intrigas entre os competidores na época, as diferenças de potência de cada carro, as montagens que fazia no veículo, estratégias que tomava e as histórias por trás de cada arrancada.
Por ora, Miguelito está trabalhando para adaptar um outro carro de corrida. O processo é demorado, mas ele não se importa. "Eu vou devagarinho igual formiguinha. Na hora que voltar, acabo ganhando de novo", conclui.
Confira a galeria de imagens:
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