Cólera e venda de carne podre: cidade teve ‘guerra’ por higiene
Após a Guerra do Paraguai, Corumbá sofreu com insalubridade pública; até casas não eram limpas
Além de lidar com o cenário pós-guerra com o fim da Guerra do Paraguai em 1870, a região de Corumbá precisou mudar os hábitos higiênicos. O problema era tão grande que casos de cólera, venda de carne podre e até casas sem limpar integravam o cenário na então região de Mato Grosso.
Integrando a história da cidade, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) guarda acervo que conta sobre como a insalubridade pública precisou se tornar até motivo de processo. No livro “Corumbá 150 anos - Rastros da História” é descrito que o primeiro Código de Posturas do município foi aprovado em 1875 e esse documento deu atenção especial para o tema.
“Conforme registros da fiscalização sanitária, é possível visualizar as condições adversas e a precária higiene praticada pela sociedade”, relata o texto. Tanto é que um dos primeiros documentos oficiais vinculados ao código foi enviado à Câmara para explicar que a falta de punição fazia com que as pessoas deixassem de limpar suas casas e quintais.
Já em 1881, um caso mais grave chegou como relato fiscal indicando que um açougueiro da cidade havia vendido carne podre e que até boi morto com “peste” integrava os produtos.
Na época, a polícia acompanhou o fiscal e a carne contaminada estava exposta com diversas manchas pretas.
No período entre 1875 e 1883, a preocupação só aumentou, inclusive com a presença da cólera tomando conta da cidade nos anos seguintes. Segundo os estudos históricos, Corumbá teve sua primeira morte vinculada à doença nos meses finais de 1886 e primeiros de 1887.
“Acometida pelo surto de cólera, a população de Corumbá defrontou-se com os primeiros óbitos em dezembro de 1886, causando pânico geral e fuga de muitos da localidade”, relata o texto do TJMS.
Entre as medidas tomadas pela cidade estão a quarentena de embarcações, criação de um hospital específico para as pessoas que estavam sofrendo com cólera e busca de doentes para internação.
E o caso gerou até um processo judicial para tentar responsabilizar criminalmente o delegado de higiene da cidade.
“O Ministério Público ofereceu denúncia contra José Marques da Silva Bastos, então delegado de higiene pública da cidade, por fato criminoso, consistente no não cumprimento de seus deveres, resultando em surto de cólera”.
Em sua decisão, o juiz apontou que a denúncia deveria ser rejeitada e o processo foi encerrado em 1887.
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