Com 29 anos, Pai Augusto estuda Direito sem largar a fé no candomblé
Influenciador no Instagram, o babalorixá desmistifica "o que vive" para as pessoas e ainda faz divulgação de seu projeto social
Foi no "desencontrar" do seu coração que o jovem Augusto se tornou Pai Augusto de Logunedé, quando recebeu a "mensagem" invocada pelo orixá (divindade) na tradição do candomblé. Assim, o babalorixá (líder espiritual) não só voltou a ter axé, isto é, força de vida, mas agora pratica ela diariamente e proporciona isso a quem mais precisa.
Aos 29 anos e estudante de Direito, manifesta o que sente e vive na fé pelo seu perfil nas redes sociais, mostrando o lado humano, feliz e sem julgamentos.
"Como que eu vou deixar de falar disso? Faz parte de quem sou. É preciso desmistificar a religião, contribuir com conhecimento, tirar essa carga de intolerância e preconceito, ainda mais por eu ser um jovem babalorixá. Quero mostrar o lado do axé", explica.
Antes de chegar aonde se encontra hoje, Pai Augusto teve pelo exemplo maternal da avó como primeiro indício de seu "chamado".
"Ela é três vezes mulher. Minha irmã de santo porque dividimos o mesmo babalorixá, minha mãe por ter me criado e minha avó de sangue, super importante na minha vida", assume. Para ele, é a "mulher mais brasileira"que já conheceu.
Mas o "convite" de fato só aconteceu quando Pai Augusto passou pela dor física antes de se "curar" com o amor e fé que seu coração tanto precisava.
"Tive uma dor muscular insuportável nos dois tornozelos. Ficaram inchados, tive que usar muleta. Feridinhas se espalharam pelo meu corpo todo. Fui ao médico, fiz exames, tomei medicamentos e nada de resolver. Fui orientado a procurar outras alternativas. Minha avó, sábia do jeito que é, já tinha vislumbrado uma situação pendente que eu precisava resolver no campo espiritual. Nem sabia, mas ali já era a prova que minha iniciação havia começado", relembra.
"Quando me iniciei, tive a completa noção de pertencimento, me fortaleci internamente. Estava no lugar certo, na hora certa. E isso sim é felicidade de verdade, é ter alegria, promover autoconhecimento e exercitar muita paz".
E como forma de agradecimento, há 6 anos realiza o “Projeto Yalodê” – que inclusive já foi reportagem aqui no Lado B – atendendo comunidades da Capital, como no Jardim Noroeste, Favela do Mandela e Cidade de Deus.
"Fazemos várias atividades gastronômicas, recreativas e de doações, tanto para os adultos quanto para as crianças. Às vezes, o que mais precisam é receber carinho, das pessoas dali serem tratadas como gente. Proporcionamos um dia feliz, integrando toda a comunidade", considera.
Nas ações sociais do Yalodê, Pai Augusto acabou sendo "avisado" a entrar no curso de Direito pelo exu (entidade espiritual intermediária entre orixás e humanos) Sete Garfos. Segundo ele, essas orientações "fizeram toda a diferença na minha vida".
"Queria medicina, mas fui chamado à justiça da terra, ou seja, o Direito. Eu iria realmente precisar disso num futuro próximo, mas fui avisado antes, e tudo aconteceu muito rápido. Ganhei uma bolsa universitária e de fato peguei amor pela coisa. Porque quando entendemos sobre as leis, não somos passado para trás", alertou.
Por conta da pandemia de coronavírus, a faculdade teve que ser trancada. "Era um risco que eu não gostaria de passar". Mas Pai Augusto já tem planos de continuar. "Ano que vem é certo. Já me considero futuro advogado".
Quer contribuir com o Projeto Yalodê? Basta acessar o perfil @projetoyalode no Instagram.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.