Com milagres no currículo, fiéis vão à profeta pedir de cura à emprego
O anúncio de que, pela primeira vez, Campo Grande receberia a visita de um profeta que faz chover, previu a passagem de furacão Katrina e curou enfermos – tudo devidamente registrado e divulgado em vídeos espalhados pela internet – mobilizou muita gente em busca de milagres do pastor evangélico David Owuor. Até quem não segue a religião, mas tem na fé a saída para os problemas, depositou todas fichas no queniano.
“Ele fez muito milagres e a coisa que mais quero na vida depende de um”, explica a dona-de-casa Vanessa Melo, 29 anos, que levou a filha Tainá, de 6, ao Parque das Nações, onde a pregação foi aberta ao público. Tainá não se movimenta do pescoço para baixo, por ter nascido com paralisia infantil. Vanessa não sabia, ao certo, como David poderia curar Tainá. “Não sei se ele tem que encostar nela, ou se só de ouvir as palavras dele ela pode ficar bem”, dizia a mãe, emocionada.
"Vou rezar pela saúde da família e para que tenha um bom emprego", resumiu o estudante Henrique Cícero, 20 anos, sobre ir ao evento.
Evangélico há 32 anos, Claudemir Barros, 49 anos, defende que milagres existem, mas pondera que David está mais para estilo marqueteiro. “Deus pode operar um milagre através de quem ele quiser. Mas Jesus nunca divulgou o que ele fez, e o que esse pastor faz é só isso, marketing”, opina o cozinheiro que, junto com mais 15 companheiros da igreja fretou uma van das Moreninhas para conhecer o pastor.
A “propaganda” atraiu a estudante Kássia Moraes, 20 anos, que foi com o namorado conferir a atuação de David. “Não acho que seja tudo falso, mas sou daquelas que tem que ver para crer, então, vim para saber se ele faria algum ato profético e vou esperar até o final”, atesta.
Para Thiago Faria, 30 anos, ministro de louvor da igreja Ministério Atos de Justiça, que organizou a vinda de David, é normal que as pessoas saiam do evento frustradas por não verem “chover”. “Muitos vieram movidos pela curiosidade, mas têm lido pouco a bíblia, orado pouco. A Igreja está vivendo no reino da Terra e, quem vive na Terra não consegue aproveitar o que está no Céu”, considera.