Coroada Miss Trans, Mariane enfrenta críticas e ofensas só por não ter silicone
Nova miss mostra que ser transexual vai muito além de um corpo siliconado
Em um mundo onde a falta de empatia é constante, tem que ter forças para encarar o preconceito que insiste julgar e machucar. Mariane Cordon Cáceres, de 21 anos, sabe bem disso. No último fim de semana ela levou o título de Miss Trans/Travesti Mato Grosso do Sul 2019. Saiu do desfile com a faixa, mas também levou para casa ofensas e críticas por ser uma transexual com pouco tempo de transição.
Mariane foi criticada até por não ter silicone no corpo, o que rendeu nota pública de esclarecimento da organização do concurso que “ser transexual ou travesti não é encher o corpo de silicone, plásticas ou hormônios como muitas pessoas pensam”, explicou a nota.
Ao Lado B, a miss eleita fala dos comentários e diz que “Ser transexual vai muito além de um corpo siliconado”. Ela ainda acrescenta. “Eu não tenho vontade de colocar silicone no meu corpo por enquanto e isso não faz eu ser menos mulher”, afirma.
Quem conhecesse Mariane há cerca de um ano e meio, veria uma pessoa que ainda se identificava com o gênero masculino. Ela diz que levou anos para se reconhecer e ter forças também para assumir a própria identidade à família. Quando tudo isso aconteceu, ela decidiu ser de uma vez por todas Mariane.
Ela já chegou a ser notícia por ganhar o título de Miss Gay e receber o apoio incondicional da família. No último concurso, realizado em Campo Grande, não foi diferente. Mariane estava deslumbrante ao lado da família, especialmente do pai e da mãe, que apoiam cada passo da filha.
Com isso ficou mais fácil voltar para casa sem o peso das críticas, afirma Mariane. “A vida de uma pessoa pode mudar em questão de segundos, a minha mudou em pouco tempo. Até um ano atrás eu me identificava do sexo masculino, mas comecei a estranhar quando me chamavam pelo nome masculino. Comecei um processo de luta, de auto aceitação, até que eu tive coragem de me assumir. Com o apoio deles (pais), nada me abala”.
No entanto, ouviu tudo o que não queria após o concurso. “Algumas pessoas disseram que eu não sou a pessoa correta para representar. Que sou só um homem afeminado e uma montada”, conta. O que mais chateou, segundo Mariane, foi ouvir as ofensas dentro do próprio público LGBT. “Eu já sofri preconceito no meio hétero, mas o pior é sofrer transfobia no próprio meio por uma questão de padrões. A gente luta tanto para sobreviver que as vezes é difícil acreditar. Mas isso prova a falta de conhecimento”.
Ano que vem, Mariane diz que vai representar Mato Grosso do Sul no Miss Brasil e com o título quer levar empatia para diversos lugares. “Eu passei 20 anos tentando me entender, ou seja, hoje nada pode me abalar. Esse título foi a realização de um sonho e agora vou usá-lo para fazer o bem”.
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