ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, TERÇA  23    CAMPO GRANDE 21º

Comportamento

De casa em casa, “mala brechó” serve de presente à distância

Pandemia fez com 18 mulheres inovassem na hora de "trocar presentes": desta vez, literalmente com a mala e cuia de brechó rotativo

Raul Delvizio | 29/12/2020 06:15
Mala do bem, "viajante" ou simplesmente brechó "caravana" (Foto: Arquivo Pessoal)
Mala do bem, "viajante" ou simplesmente brechó "caravana" (Foto: Arquivo Pessoal)

O último mês de 2020 chegou e, com ele, a marca de 1 ano sem se encontrarem. Antes, 18 mulheres faziam reuniões mensais como em um "Clube da Luluzinha" próprio, com direito à comida, bebida, boas conversas e muita troca de desapegos entre cada uma. Como na pandemia da covid-19 essas aglomerações não são aconselháveis, o jeito foi ter que inovar neste fim de ano: agora, uma mala-brechó bem que veio a calhar.

É assim que o grupo "Quintessência" – com a participação de mulheres quarentonas, cinquentonas e sexagenárias – organizou a "troca de presentes" no ano da covid, isto é, com a ajuda de uma mala com desapegos que viaja de forma rotativa na casa de cada uma delas.

Mariete e Jaqueline Rosa trocando a mala-brechó cheia de roupas (Foto: Arquivo Pessoal)
Mariete e Jaqueline Rosa trocando a mala-brechó cheia de roupas (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas antes de rodar endereços, precisou que Icléia Vargas, a professora doutora em Geografia e "Luluzinha" de 61 anos do Quintessência, mudasse do seu antigo logradouro para o atual e assim ter o estalo da ideia.

"Quando mudei de casa, aproveitei e já fiz o meu próprio desapego do que não queria mais, tudo embalado em malas e caixas. Foi aí que pensei: 'porque não passar uma mala com itens para que cada uma escolhesse e ainda contribuisse com o que não quisesse mais?' Surgiu assim a mala do bem", relembra.

Mesmo que a organização tenha sido recente – questão de uns 10 dias atrás – a mala veio cheia: tem roupas, bolsas, lenços, cintos e até sapatos, tudo a ser trocado entre as participantes. Tanto é que foi necessário a inclusão de uma mochila daquelas esportivas, estilo "marinheiro".

Antes da pandemia, os encontros eram organizado pelo WhatsApp (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes da pandemia, os encontros eram organizado pelo WhatsApp (Foto: Arquivo Pessoal)

No momento, a mala ainda se encontra na quinta participante, restando no momento outras 13 mulheres. E quando passar por todas, é muito provável que a mala volte mais uma vez a rodar, afinal, novos itens sempre são adicionados por cada uma.

Adriana Rocha, advogada de 58 anos, é uma das que já pode "cavucar" itens nesse brechó rotativo.

"É bem divertido e até mesmo engraçado. É quase que um voltar a ser criança, porque é tudo uma surpresa – você não sabe o que vem. A diversão está na hora de abrir a mala, mexer, procurar, descobrir, achar, testar, experimentar", considera.

Luciana Pacheco levando a mala para casa de outra amiga do grupo (Foto: Arquivo Pessoal)
Luciana Pacheco levando a mala para casa de outra amiga do grupo (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem entregou a mala para Adriana foi a amiga Luciana Pacheco. "Foi o único encontro presencial super rapidinho que tivemos em 1 ano, só para receber, agradecer e dar tchau uma a outra. E assim vai indo, de duas em duas essa passagem da mala vai acontecendo", esclarece.

Quando chegou em sua casa, Adriana fez questão de limpar a alça com álcool líquido e deixar a mala aberta no sol. Algumas horas depois, já estava no modo "brechó" – na segurança e conforto de sua própria casa. "Fora o fato de não termos que gastar nada. É o 'ir às compras' sem dispor de nenhum centavo. Aqui, é pra doar quantas peças quiser e também ficar com quantas desejar".

Nesse registrou do ano passado, Icléia no meio junto de Claudia e Cléo Gardin – estavam todas a experimentando roupas (Foto: Arquivo Pessoal)
Nesse registrou do ano passado, Icléia no meio junto de Claudia e Cléo Gardin – estavam todas a experimentando roupas (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Icléia, a união – mesmo que à distância – ainda sim faz a força. "É a forma que encontramos de manter acesa a chama dos vínculos, da nossa amizade. Mas também fazer o bem, reciclar aquilo que não temos mais interesse e poder trocar um 'presente' de forma simbólica. É o prazer de se desapegar para que o outro se apegue", afirma.

No ano da covid, as mulheres fizeram vários encontros virtuais, mas nenhum com o formato e propósito de agora. Anteriormente à pandemia, de 5 anos pra cá, elas já vinham organizando uma feira coletiva que acontecia mensalmente na casa de uma e outra.

Também de 1 ano atrás, outro encontro do grupo Quintessência (Foto: Arquivo Pessoal)
Também de 1 ano atrás, outro encontro do grupo Quintessência (Foto: Arquivo Pessoal)
Tudo era esquematizado na casa de uma participante, organizado em araras no melhor estilo brechó (Foto: Arquivo Pessoal)
Tudo era esquematizado na casa de uma participante, organizado em araras no melhor estilo brechó (Foto: Arquivo Pessoal)

"Cada uma levava sua própria 'malinha' de desapego: roupas, sapatos e acessórios. Às vezes tinha até objetos de decoração, tudo organizado em superfícies e araras para todo mundo expor e ter acesso aos artigos. E o que sobrava era sempre doado para uma instituição beneficente ou alguma comunidade carente", explica Icléia.

Seja no esquema presencial da feira coletiva ou no de mala-brechó, o importante é sempre estar compartilhando a afetividade – é o que confirma Adriana.

"Por mais que esteja tudo lavadinho, sempre que fazíamos o nosso brechózinho eu tinha aquela sensação de passado, de intimidade e pertencimento. É de ter sido de outro alguém mas também que agora é seu. É dar uma nova chance e utilidade à roupa que um dia foi usada, mas não por isso esteja velha", finaliza.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Doguinho faz companhia na mala ao lado da árvore natalina (Foto: Arquivo Pessoal)
Doguinho faz companhia na mala ao lado da árvore natalina (Foto: Arquivo Pessoal)
Nos siga no Google Notícias