De graça, aula ensina avós a fotografarem dos netos à natureza pelo celular
No celular de dona Onilda, a galeria carrega várias fotos, desde os netos até o Carnaval passado na fazenda do irmão. Aos 64 anos, a cuidadora de idosos está descobrindo como fotografar o que tanto lhe desperta atenção com um curso de fotografia voltado aos idosos, disciplina aplicada dentro da Unapi (Universidade Aberta à Pessoa Idosa), um programa de extensão da UFMS.
As aulas vão ensinar técnicas e principalmente o "olhar" em cima do que será fotografado. Na casa de dona Onilda, as máquinas ainda analógicas foram todas desativadas e o que ela tem em mãos é a câmera do celular. "Aqui eu fiz um por do sol, tem da mangueira, do gado, do dono do gado, do meu irmão - vestido como um típico fazendeiro", descreve Onilda Prado.
A ideia de aprender a fotografar faz parte de todo um conjunto de oportunidades que ela não perde. "Quando você é idosa, sempre tem que procurar alguma coisa para fazer. Eu agradeço a Deus porque não sinto nada, sabe?", conta o motivo. Da primeira aula, a aluna saiu sorridente dizendo que tinha aprendido um pouquinho da história da fotografia.
A professora é a fotógrafa e graduada em Artes Visuais, Mariana Arndt, de 23 anos, que tem levado os alunos idosos a enxergarem além do que veem. Um exemplo é a própria sala de aula, que eles entram todos os dias que estão na Universidade, mas não reparam nos detalhes.
"A fotografia muda a visão, muda o olhar, quando você aprende a fotografar, começa a ver as coisas por outro ângulo", resume Mariana. E por mais que as aulas sejam com as ferramentas que os alunos tenham em mãos, como por exemplo, a câmera do celular, eles já levam um pouquinho desse aprendizado.
"No aniversário da neta, ela pode contratar um fotógrafo profissional que vai ter um olhar mais comercial em cima da festa e ela, um olhar mais sensível, porque conhece a neta, sabe dos gostos, das preferências", compara Mariana.
Na primeira aula, os idosos tem o primeiro contato com a fotografia, aprendendo sobre a importância e o objetivo dela, nas seguintes, é a hora de estudar a composição fotográfica, todas suas linhas, formas e texturas.
Dona Mariana nunca tinha tocado numa câmera fotográfica e foi pelo celular que ela registrou as primeiras imagens como aprendiz, numa série que tem até nome: "natureza nascendo no concreto". "Sou aposentada, tudo que aparece eu acho interessante para ocupar o tempo eu gosto de fotografia", conta Mariana Clemente da Silva, de 56 anos.
A fotografia que ela prefere é a que se vê pelas mãos. "Eu gosto é de foto relevada, para guardar", brinca. Depois das aulas, ela já tem um tema a ser seguido, a natureza e promete andar com câmera na mão e olhos atentos, principalmente para as araras do céu campo-grandense.
Aos 71 anos, seu Érlio levou o arsenal que tinha em casa, para as aulas. Três câmeras desde as mais simples a uma profissional, mas da época em que a revelação era por filmes. "Eu sempre tive curiosidade de fotografar, mas era muito leigo. Aliás, sou ainda", completa Érlio Natalício.
Das antigas câmeras, seu Érlio já chegou até a acompanhar o trabalho de um grande admirador, Sebastião Salgado. "Até levantei as fotos dele que mais gosto. Eu mesmo sempre gostei de fotografar a natureza como um todo", revela.
As aulas são gratuitas e são realizadas às quartas e sextas, na sala 9, da unidade 12, da UFMS. As inscrições podem ser feitas pelo e-mailo: mariana_arndt@hotmail.com ou pelo celular 9241-3363.