Emoção de chegadas e partidas faz maioria esquecer da covid-19 e trocar abraços
Apesar de saudade, especialistas alertam que o risco de contágio é muito alto durante um abraço
"A gente nem lembra do vírus na hora, quando vi, já estava abraçando minha mãe mesmo", conta a atendente de televendas Aline Miller, de 35 anos. Após uma semana juntas, Aline precisou se despedir da mãe, que veio do interior de São Paulo para passar Natal e Ano Novo, mas precisou ir embora às pressas, hoje (30), depois de um problema familiar.
Há um ano elas não se encontravam, e não teve pandemia ou vírus que conseguisse fazer as duas segurarem a emoção e o abraço na chegada e partida desse rápido encontro. "Pra mim o abraço simboliza amor, carinho, não tem como não abraçar minha mãe", finalizou Aline.
Enquanto Aline se despedia da mãe, do outro lado do saguão do Terminal Rodoviário de Campo Grande, Iracy Rocha Soares, aposentada de 77 anos, aguardava ansiosa a chegada da filha Tânia, que veio passar o ano novo na cidade, e ao descer do ônibus deu um rápido e tímido abraço na mãe.
"A gente sente muita falta de um abraço caloroso, é minha mãe, minha família, mas o abraço, nesse momento, precisa ser assim. Chegando em casa vou tomar um banho bem tomado, e aí sim vou abraçar ela bem apertado", contou Tânia Soares, de 47 anos, que é esteticista em São Paulo.
Voltando para a área de embarque, mais uma família se despedia por conta das comemorações de fim de ano. Edson Correia, de 43 anos, ajudante de carga e descarga, vai passar 10 dias no interior do Estado, mas na hora de dar tchau para o pai, ficou só no "toquinho" mesmo.
"Meu pai é grupo de risco, idoso, diabético, não pode vacilar não, então nada de abraço, a gente se despede com um toquinho", contou Edson, que viajou hoje, com a esposa e filha, para comemorar o ano novo com os sogros.
Para Luiz Correia, de 70 anos, aposentado e pai de Edson, o calor humano faz falta, mas não tem o que fazer. "Sinto uma falta imensa de poder abraçar ele antes de viajar, mas temos que seguir a regra, pelo bem de todos", disse Luiz.
O abraço é uma forma de acolhimento, de aconchego e sempre foi muito presente na vida do brasileiro, povo caloroso que precisou se readequar em 2020, ano que a pandemia do novo coronavírus nos fez ficar tão distantes.
A psicóloga Cláudia Szukala explica que o abraço é sim muito importante, pois é uma maneira de demonstrarmos afeto e carinho, mas nesse momento precisamos trocar o toque físico e usar gestos, sorrisos e olhares como formas de comunicação do amor que sentimos.
"É difícil, mas é importante. Acolha a pessoa querida com outros gestos, como uma boa conversa, palavras carinhos, um prato de comida que a pessoa goste, um presente especial, olhares mais profundos e outras maneiras que mantenham o distanciamento", comenta a psicóloga.
Infectologistas também alertam que o abraço precisa ser evitado nesse momento, pois o risco de contágio é muito alto. "Mesmo se você estiver com a sua máscara bem acoplada, que ela seja bem eficiente e você lave bem as mãos, o risco ainda é alto e o abraço precisa ser evitado", explica a infectologista Carolina Neder.
Para Rivaldo Venâncio, infectologista e pesquisador na linha de frente ao combate do novo coronavírus, os abraços só devem ser dados novamente depois que um conjunto de pessoas estiverem protegidas e vacinadas.