Fachada que nem existe mais é tesouro para quem perdeu o pai cedo
Reginaldo trabalhava com mármore e sua história foi relembrada graças a publicação em grupo de memórias
Há 28 anos, Dayse da Silva Garcia Sucker perdeu o pai e guardou consigo algumas fotos e lembranças mais “recentes” da trajetória de Reginaldo Garcia Custodio com todo o carinho. Mas, graças a uma fotografia antiga de igreja publicada em grupo de memórias do Facebook, a filha conseguiu ter mais um pedaço da história do patriarca, que chegou a Campo Grande em 1955.
Resgatando a antiga fachada da 1ª Igreja Evangélica Batista, localizada na Rua 13 de Maio, Evandro Brogiato Ferreira compartilhou a fotografia no grupo “Anos Dourados Campo Grande - MS”. Com o tempo, a publicação chegou até Dayse e vendo a fotografia se emocionou.
“Era na 13 de Maio? Se for a mesma, foi meu pai que esculpiu no mármore no alto da porta de entrada aquele livro que dizia: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”, comentou, e respondida por outros participantes do grupo, ganhou mais um registro para manter a história do pai e também da cidade viva.
Se identificando como saudosista, Dayse narra que guardar as histórias sempre foi algo que valorizou. Por isso, antes da igreja passar por reforma, ela chegou a pedir pelo livro esculpido pelo pai, mas acabou não conseguindo. Agora, a foto é que traz o carinho pelo início da trajetória de Reginaldo em Mato Grosso do Sul.
Caso estivesse vivo, o pai estaria com 87 anos, mas a filha narra que perdeu Reginaldo prematuramente graças a um infarto fulminante, quando ele tinha 58 anos. “Quando chegou aqui, ele morou na Pensão Pimentel e trabalhou no início da sua juventude na empresa Evangelo Vavas, que era situada na Calógeras, quase esquina com Afonso Pena. Trouxe a técnica que trabalhava com meu avô Miguel de São Paulo”.
Além de trabalhar com granito e mármore, as memórias do pai se conectam com outras etapas mais avançadas da tecnologia. “Tempos depois, ele entrou para a Texaco e com o passar dos anos se tornou dono da instalação que abastecia aeronaves no aeroporto. O Estado ainda não tinha sido dividido. No fim da trajetória, ele se dedicou de corpo e alma à Petrobras no aeroporto antes de aposentar e partir”, relembra.
Nas fotografias que preserva, Reginaldo aparece ao lado de aeronaves antigas e o preto e branco dos registros guarda as memórias de quem fez parte da evolução da cidade.
Retornando ao primeiro ofício de Reginaldo, com a cidade em desenvolvimento, Dayse narra que o pai era um dos primeiros especialistas em lidar com granito e mármore por aqui. Por isso, seus trabalhos se espalharam pela cidade, mas acabaram desaparecendo devido às transformações causadas por reformas.
“Infelizmente, com a chegada das reformas no Centro, foram modificadas também as calçadas, onde se tinha bastante histórico de uma época ímpar, também foi demolida a fachada da igreja com o livro da Bíblia e ficamos sem a história que não foi preservada”, conta a filha.
Por isso, ela comenta que a existência de grupos de memórias que resgatam fotografia e histórias sobre épocas passadas são tão importantes. Até porque, graças a um deles, é que conseguiu um material que há anos queria, como da Igreja Batista.
E quem resgatou a foto também comemora a história, já que desde 1987 mora fora de Campo Grande. Com gosto por acervos fotográficos, Evandro Brogiato Ferreira conta que se tornou membro da Igreja Batista em 1986 e guardou com carinho a fachada que já não existe mais.
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