Família de construtores se úne pela bike, se veste igual e adora uma pose
Tânia, seu marido e os 3 filhos são tão comprometidos nas obras quanto no pedal
Não é só no canteiro de obra que a família de Tânia Regina Souza da Silva se une, mas também em prol de uma outra atividade em comum: o ciclismo. Construtora de 42 anos, ela é apaixonada pelo que faz ao lado do atual marido Saul e passou esse gosto do trabalho braçal aos 3 filhos – o mais velho Bryan, a do meio Kimberly e a adolescente Gwynever – tanto é que por ali todo mundo se ajuda, principalmente na hora das brincadeiras.
"Até já tínhamos o costume de fazer palhaçadas nas obras. Acabávamos que fazíamos fotos e vídeos disso do nosso momento em família. Por que seja cansativo, a atividade da construção sempre foi gostosa, nunca se tratou de um peso. Mas daí quando surgiu os pedais em nossas vidas – e eu sou daquele tipo de pessoa que faz tudo virar uma festa –, aproveitei a situação e também resolvi tirar poses. E postei. Tudo que o povo na internet nos desafia a gente faz. O bom é que, no final das contas, todo mundo entra na brincadeira", reconhece.
A mistura de "obreiros-ciclistas" teve início 3 anos atrás. Conversando com seu primo Josuel, que há algum tempo se tornou pedaleiro, Tânia ganhou a sugestão de também cair na prática para ocupar a cabeça. O ano era 2018, conta.
"Estava em uma época bem triste. Resolvemos fechar nossa firma de construção pelos altos custos e mandamos embora quase 40 funcionários. Recomeçamos do zero. Ainda, minha filha Kimberly deu à luz aos meus dois netinhos e a mais nova Gwynever quis morar com o pai. Fiquei passando pela síndrome do ninho vazio e isso me deu uma depressão danada, sem vontade de nada – e eu não sou nenhum pouco assim", garante.
Porém quando Josuel levou a família para um momento de pedalar no município de Piraputanga, a 158 quilômetros de Campo Grande, a coisa mudou de tom.
"Pensa só na loucura. Compramos umas coisas para levar – tudo errado – sem entender de nada e mesmo assim fomos. Loucura total, quase morremos. Um sol terrível, subidas sem fim… mas depois tudo virou festa. Daí em diante nos apaixonamos pelo ciclismo e eu, de certa forma, me reencontrei", afirma.
Se tratando de uma família de brincalhões, é claro que a história não poderia ser só isso.
"Como quase toda filha, Kimberly também tinha o costume de assaltar o guarda roupa da mãe aqui. Para acabar com essa farra comecei a comprar tudo igual, tanto minhas quanto as dela. Quando a Gwynever ficou um pouco maior, começamos nós três juntas a usar as mesmas roupas coloridas, além de algumas parafernalhas e a fazer poses diferentonas. Afinal, se não for para aparecer nem saímos de casa!", brinca Tânia.
Natural de Aquidauana, a matriarca era doméstica quando conheceu o pedreiro Saul. Sem ter tempo ruim nem preconceito para as coisas, aos poucos ela foi migrando de profissão graças aos incentivos do marido, que a ensinava tudo relacionado à obra. Nisso, Tânia já foi tanto encarregada de obra quanto operadora de máquina (de bobcat, a betoneira e retro escavadeira) e até motorista de caminhão caçamba.
"As dificuldades são parecidas como em qualquer serviço. Você se adapta. Eu e minha filha Kimberly amamos, acredita? Tenho um orgulho disso. Mesmo sendo mulher em uma atividade bastante masculina, ganhei respeito no canteiro. Quando comecei em obras relativamente grandes fui até chamada de intrometida pois tudo eu já sabia fazer – e os homens ficavam 'chateados' quando não recorria a eles", recorda.
Hoje Tânia e Saul são empreiteiros e mestres de obra. Na época, os filhos entraram na jogada pelo receio dos pais em deixá-los "jogados no mundo".
"Nossas 'crianças' ficaram adolescentes e nós tivemos medo de perdê-las para as coisas ruins que vemos por aí. Assim começou a nossa 'brincadeira' em família. Levava todos eles nas obras e nisso eles iam ajudando em pequenas coisas como carregar tijolos, limpar um cômodo ou fazer uma pintura simples", comenta. Para os dois, maior felicidade é saber que suas crianças se tornaram homens e mulheres do bem.
Aventura nos pedais – Voltandoao ciclismo, nem Tânia ou o resto da família saberia dizer ao certo cada quilometragem já percorrida. "São vários os trajetos e lugares que fomos parar. Só estando lá pra ver, é inacreditável. E muitas delas bem pertinho de Campo Grande e nos municípios vizinhos. São tantos os locais quanto pessoas maravilhosas que foi o pedal que nos presenteou", diz.
Para todos ali, a rotina de treinos é inexistente. "Nós só vamos e pronto. O que for será. Colocamos muita água e alegria na bagagem, câmeras reservas e paçoca para os coleguinhas que passam mal no caminho. Como geralmente somos quase os últimos, aproveitamos e ajudamos aqueles que estão só o pó", brinca.
Além do pezinho nas obras e os corpos debruçados sobre as bikes, a família de Tânia também é praticante do atletismo. "Somos um pouco de tudo! Amamos muito, é uma outra forma que encontramos para nos divertirmos todos juntos, ainda mais quando vinha um pódio conquistando em alguma competição, era aquela festa", relembra.
Por enquanto, por causa da covid-19, muitos encontros foram cancelados e a família reduziu o número de aventuras. Porém, isso não é motivo de lamento. "Graças a Deus estamos bem. Pandemia não prejudicou tanto o nosso trabalho nas construções, pois continuamos firmes e fortes. Agora, todas essas atividades extras no nosso 'currículo' são apenas mais uma forma de diversão, um momento para aliviarmos a cabeça. Mas o importante mesmo é estarmos vivos e saudáveis para praticá-las", finaliza.
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