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Comportamento

Nas ruas, drama do WhatsApp mostra como é difícil conversar de outra forma

Paula Maciulevicius | 17/12/2015 09:43
No café da manhã, era um olho na chipa e outro no Whats. (Foto: Fernando Antunes)
No café da manhã, era um olho na chipa e outro no Whats. (Foto: Fernando Antunes)

"Hoje o dia amanheceu suspeito, porque não existe uma mensagem. Você não recebeu nada, não consegue falar com ninguém. Eu nunca pensei que isso ia acontecer agora". Estudante de Odontologia, Wellington Massaruha, de 23 anos, narra o drama do que serão as próximas horas. Sem WhatsApp, o celular voltou a ganhar os bolsos e as mochilas e não está mais nas mãos. 

Numa volta pela cidade no início da manhã deste primeiro dia sem WhatsApp o que se viam eram pessoas de mãos livres e olhos mais atentos. O assunto do dia é a falta do aplicativo. Quando foi que a gente desaprendeu a conversar de outra forma?

As palavras carregadas de sentimento mostram Wellington, um rapaz que, de férias, não sabe o que fazer. No ponto, ele aguardava o ônibus ouvindo música. Com quantas pessoas conversou hoje? Sem Whats, ele responde que ninguém. Se o aplicativo estivesse funcionando, seriam pelo menos 10, do grupo que faz parte, contabiliza o jovem.

Estudante retrata o drama de um dia "suspeito" e que ele achou que nunca fosse chegar. (Foto: Fernando Antunes)
Estudante retrata o drama de um dia "suspeito" e que ele achou que nunca fosse chegar. (Foto: Fernando Antunes)

"Vai ser meio cabuloso o dia, meio deprê, bem difícil mesmo..." Quando chegasse em casa ele tentaria baixar os aplicativos alternativos, tudo para tentar se comunicar.

De celular nas mãos, o taxista Elton Pereira, de 26 anos, mostrava o que dele estava funcionando normalmente. Sem baixar nenhum outro programa, ele conseguia se comunicar com os grupos. "Só ouvi falar que dava para funcionar com outros aplicativos, mas não baixei não. Se realmente sair do ar, as pessoas vão procurar", comenta. Ele acredita que por conta da operadora é que ele continuou com a ferramenta ativa.

Logo à frente dele, o contador que é gerente de uma lanchonete, Jeffeson Corrêa, de 43 anos, só tem a dizer que: as pessoas passaram a conversar (com a voz e não com os dedos) e que o assunto era o Whats. Agoniado, desde às 6h da manhã ele tentava fazer o aplicativo funcionar.

"As pessoas estão puxando assunto hoje e até trocando números de celular para ver se conseguem se comunicar. Sim, se falavam nos olhos, mas ainda assim: o assunto era um só", descreve. E foi um dos clientes que o aconselhou a baixar o VPN, rede privada virtual que evita que seja detectado localidade ou localização do usuário. Ao selecionar outro país que não o Brasil, se "engana" a rede e o WhatsApp, que está suspenso só aqui, volta a funcionar.

"Inútil" sem Whats, celular agora fica no bolso e na mochila e só volta às mãos na tentativa de testar. (Foto: Fernando Antunes)
"Inútil" sem Whats, celular agora fica no bolso e na mochila e só volta às mãos na tentativa de testar. (Foto: Fernando Antunes)
Luana conta que hoje foi horrível acordar sem nenhuma mensagem. (Foto: Fernando Antunes)
Luana conta que hoje foi horrível acordar sem nenhuma mensagem. (Foto: Fernando Antunes)
Mãe ri e diz que prefere abraços, olho nos olhos e o contato físico mesmo. (Foto: Fernando Antunes)
Mãe ri e diz que prefere abraços, olho nos olhos e o contato físico mesmo. (Foto: Fernando Antunes)

Fora ele tem ainda outros aplicativos como o Viber e o Telegram. No entanto, para continuar com o ritmo frenético de mensagens, é preciso que todos os seus contatos também "migrem" para as ferramentas que estão prestes a salvar o mundo.

Acordar hoje, para Luana França, de 15 anos, foi terrível. "Porque você olha e não tem nenhuma mensagem, nada. Nem áudio. Como eu vou viver assim? Meus amigos, cadê? Estou sem vida social". A mãe, ao lado, cai na risada e diz "adolescentes"...

A menina chegou em casa na noite de ontem acreditando que não passava de um boato. Mas se desesperou. Agora o celular anda na mochila, porque segundo ela, não serve mais pra nada. A mãe, professora Maria Emília França, de 39 anos, diz que também usa, mas só para se manter atualizada nos grupos da faculdade.

"Eu prefiro o abraço, a conversa nos olhos, as coisas físicas", descreve. A conversa no caminho de casa até o Centro da cidade foi feita no diálogo verbal mesmo e as mãos de Luana ganharam um livro. Sobre as próximas horas, a menina diz que vai ficar tentando e testando: "- Oi, oi, oi. A hora que mandar, vai ser o melhor momento da minha vida", diz.

Por enquanto a saída será usar o messenger do Facebook e quem sabe, voltar a ligar. A última hipótese é descartada por quase todo mundo. Sobre aproveitar o tempo para se "desintoxicar", ninguém quer curtir assim não. Preferem mesmo é viver o luto de dois dias sem conversar.

Bloqueio - O WhatsApp está bloqueado no Brasil desde a meia-noite desta quinta-feira (17). A decisão da Justiça, de tirar o aplicativo do ar por 48 horas, foi expedida por conta de descumprimento de ordem judicial de julho deste ano, de uma investigação em São Bernardo do Campo.

A empresa não liberou a quebra de sigilo de dados trocados pelos investigados, mesmo as autoridades que investigam o caso tendo a autorização da Justiça.

De acordo com Tribunal de Justiça de São Paulo, o WhatsApp não atendeu a quebra e foi notificada mais uma vez. O Tribunal não explicou as causas das notificações. Como a empresa não obedeceu à ordem, o Ministério Público requereu o bloqueio do serviço por dois dias, com base na Lei do Marco Civil da internet.

Fundador do Facebook e dono do WhatsApp, Mark Zuckerberg condenou nesta quinta-feira o bloqueio do aplicativo. Ele afirmou que estão trabalhando para reverter a decisão e que este é um dia triste para o Brasil. “Estou surpreso que nossos esforços para proteger os dados dos usuários resultem em uma decisão extrema de um único juiz que pune a cada pessoa no Brasil que usa o WhatsApp”, disse.

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