No Dia da Visibilidade, trans pode dizer que agora é Mariane e mulher no papel
Nesta quarta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, as fotos tiradas em frente ao cartório exibem a conquista na certidão
Quando deu entrada no processo de retificação de nome e gênero, no cartório de Campo Grande, na terça-feira da semana passada, Mariane Cordon Cáceres, de 21 anos, não tinha pensado que teria em mãos, numa data tão significativa quanto 29 de janeiro, o documento que lhe apresenta como mulher. Nesta quarta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, as fotos tiradas em frente ao cartório exibem o sorriso de uma conquista enorme na certidão de nascimento. "Mariane Cordon Cáceres, meu nome social e o sexo como feminino", comemora.
O processo, apesar de rápido depois que chega ao cartório, é bem burocrático. Exigindo papeis, certidões e documentos, Mariane agradece logo nas primeiras falas à amiga advogada, Isadora Haidar, por ter tornado tudo isso mais fácil. "Aí eu corri atrás só de quatro cartórios e da Justiça Eleitoral", relata.
A notícia foi compartilhada nas redes sociais com o alerta de "textão". "Hoje eu me realizei ao ter em minhas mãos um documento que fala de quem realmente eu sou, que diz sobre a MULHER EXTRAORDINÁRIA QUE EU ME TORNEI", frisa em caixa alta.
Mariane nasceu em Dourados, e foi nos palcos do interior do Estado que ela começou a carreira em shows e performances como a drag queen Vaiola Parker. Em setembro de 2018, depois de ganhar o Miss Gay 2018, aqui na Capital, se empoderou para assumir a identidade. "Quando eu ainda era só o artista, já estava me sentindo incomodada quando me chamavam pelo nome masculino. Uma semana depois do Miss, quando eu criei autoestima e coragem, falei: esquece o Higor, agora é Mariane", conta.
O nome - A escolha do nome por si só já valia uma reportagem. Sem que a mãe soubesse qual o propósito da pergunta, a jovem questionou "se você tivesse uma filha, que nome daria?" A resposta foi "Marielly", mas o nome não parecia combinar com a personalidade e foi então que ela decidiu escolher outro. "Eu tenho uma amiga desde o Ensino Médio que se chama Mariana. A gente nasceu no mesmo dia e quase na mesma hora. E me veio isso, nós sempre fomos muito grudadas e encaixou. Aí coloquei Mariane para tentar chegar ao máximo do que a minha mãe gostaria e também porque é mais a minha cara".
Em outubro de 2018, mesmo ano do Miss Gay, ela contou aos pais que gostaria de ser tratada e chamada como Mariane e fez o pedido para que esquecessem de vez a figura masculina. "Eles aceitaram bem, minha mãe demorou um pouquinho mais para se adaptar, mas ela já me trata como mulher. O meu pai sempre foi o mais fácil", diz.
Mariane deixou a cidade de Dourados e veio para Campo Grande no começo do ano passado, onde desde então, se apresenta em shows nas casas noturnas da cidade e também é hostess na Daza. Em dezembro de 2019 foi coroada Miss Trans MS. Hoje, tendo em mãos nome e sexo com o qual sempre se identificou, ela não consegue conter as lágrimas.
"Vou chorar. Essa é uma conquista muito grande. De você pegar e ler... Se eu morrer agora vou ser enterrada como mulher".
Sobre a data criada em 2004, durante o lançamento de uma campanha nacional elaborada por lideranças do movimento de pessoas trans, em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, ela reforça. "É visibilidade, como o nome mesmo diz. É o dia de sermos vistas e de mostrarmos quem nós somos".
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