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Comportamento

'O mundo não vai ficar melhor', diz Pondé sobre a era da ansiedade

Em entrevista ao Lado B, o filósofo fala sobre a ansiedade nas relações, redes sociais e cenário político

Jéssica Fernandes | 24/10/2022 06:56
Luiz Felipe Pondé fala sobre a era da ansiedade e seus efeitos. (Foto: Marcos Maluf)
Luiz Felipe Pondé fala sobre a era da ansiedade e seus efeitos. (Foto: Marcos Maluf)

Doutor em Filosofia, Luiz Felipe Pondé, esteve nesse final de semana em Campo Grande para apresentar a palestra intitulada ‘A era da Ansiedade’. Em entrevista ao Lado B, o escritor e professor trouxe um apanhado de informações sobre o assunto.

Da forma como as pessoas são afetadas por ela até a busca para controlá-la ou resolvê-la, Pondé também fez uma análise de como a ansiedade se manifesta no pós-pandemia e no período de eleições.

Diferente do que muitos podem pensar, a ansiedade não é um fenômeno que ‘surgiu’ nas últimas décadas. De certa forma, ela e a sociedade sempre caminharam juntas. Pondé explica quais foram os primeiros vestígios dela na história e na filosofia.

“Se a gente for falar de palavras que podem ser traduzidas como ansiedade é no século 17. Na França, o filósofo Blaise Pascal fala que o ser humano é basicamente tomado pela ansiedade a não ser que ele busque formas de divertimento. Ele relaciona essa ansiedade ao pecado original”, comenta o professor.

Em outros estudos, feitos a partir da análise de sonhos e cartas, a sociedade da época mostrava ansiedade em relação ao fim do mundo. Nas palestras que realiza ao redor do País, Pondé trata a ansiedade a partir do recorte histórico.

“Tem o recorte específico que é resultado da modernização, como eu digo é uma ansiedade de base sociológica. Apesar de se manifestarem de forma psicológica, as matrizes são sociais”, destaca.

Nesse âmbito, conforme o filósofo, vários fatores são levados em consideração. “As rupturas modernas, o rompimento rápido com os costumes, urbanização agressiva, destruição de modos pré-modernos de vida em que não acontecia muita coisa. A vida era muito igual, não tinha muitas opções. À medida que a modernidade vai avançando, ela vai instaurando uma aceleração do tempo social. [...] Essa aceleração obriga as pessoas a viver de forma mais rápida”, pontua.

Ansiedade ‘fruto do imperativo de controle’ e medo de que esses mecanismos de controle entrem em colapso são as principais perspectivas discutidas por Pondé. Na era da ansiedade, o controle é a ferramenta que está em constante uso por parte da sociedade. Seja nas relações de trabalho, na vida pessoal e no próprio futuro.

A geração mais nova, segundo ele, é a que mais sofre com a ansiedade. “Os jovens são os menos adaptados a tudo, porque acabaram de chegar ao mundo. [...] Os pais projetam expectativas nesses jovens mais do que os pais antes projetavam. Os filhos são verdadeiros projetos de designs moral, ético e afetivo dos pais. Isso acaba sendo uma fonte de ansiedade maior”, afirma.

As redes sociais e a política também são dois pontos que o professor discute dentro do tema. O Instagram, Twitter, Facebook e demais plataformas são ferramentas que despertam o comportamento ansioso. Independente da plataforma, o efeito e resultado é o mesmo.

“As redes sociais são profundamente ansiogênicas no plano afetivo e em relação a ter engajamento positivo. Os jovens já preveem uma vida profissional muito dependente de network em redes sociais. Isso significa uma aritmética que mede seu fracasso ou seu sucesso”, esclarece.

Ao falar sobre as redes sociais, Pondé cita que independente do resultado nas urnas a polarização veio para ficar. “Esse tônus das eleições de 2022 não vai passar. É uma eleição que não vai acabar nunca. Independente de Lula ou Bolsonaro, o cenário de polarização, violência, agressividade nas redes sociais não vai passar”, destaca.

Em relação aos efeitos da pandemia, o filósofo argumenta que a ansiedade gerada por ela, diferente da polarização política, irá passar. “Essa pandemia vai ser esquecida como todas foram. Então, a ansiedade que vai perdurar é a ansiedade de uma crise sociológica moderna”, assegura. No entanto, a ansiedade em querer dominar tudo em volta perdura.

“A ansiedade de querer controlar um monte de coisas na sua vida para ter sucesso não vai desaparecer, vai piorar. O mundo não vai ficar melhor, mais relaxado, as pessoas não vão ter que competir menos, não vai ter menos incerteza”, finaliza.

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