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Comportamento

Profissional “das digitais” tem dia para comemorar e falar da profissão

No dia em que se comemora a ciência das impressões digitais, quem trabalha com dedos garante: "não tem espaço para achismo, não"

Raul Delvizio | 05/02/2021 08:58
Papiloscopia ou datiloscopia é ciência forense que trata da identificação humana por meio da impresão digital (Foto: Arquivo Pessoal)
Papiloscopia ou datiloscopia é ciência forense que trata da identificação humana por meio da impresão digital (Foto: Arquivo Pessoal)

É o profissional que identifica melhor dedos do que rostos humanos".

A brincadeira é de Márcio Cristiano Paroba, de 46, perito em papiloscopia na Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de MS). "Papilo-quê?" você deve estar se perguntando. No dia em que se comemora esse profissional da ciência forense, ele revelou os "segredos" que todo mundo esconde na frente, atrás, no meio e na ponta dos próprios dedos: as impressões digitais.

Desenho formado em superfície lisa por elevações na pele chamadas de papilas dérmicas, que estão presentes nas polpas de cada dedo das mãos – e também dos pés, já conferiu? –, Paroba atua há quase 20 anos na identificação de digitais humanas, atividade que para ele não é nada enfadonha mas sim apaixonante.

Com quase 20 anos de carreira, Paroba é apaixonado pela profissão (Foto: Arquivo Pessoal)
Com quase 20 anos de carreira, Paroba é apaixonado pela profissão (Foto: Arquivo Pessoal)

"Deus foi tão zeloso que deixou ao ser humano um símbolo único que nem nos próprios dedos se repetem, que dirá para quem é gêmeo. As papilas nada mais servem como uma ferramenta natural para segurar objetos com mais apoio e área de contato, o que é incrível", considera.

Geralmente, as pessoas associam as impressões digitais ao documento de identidade, o RG. Inclusive, também são os papiloscopistas (também chamada de datiloscopistas) que realizam esse serviço na Sejusp – além de outras atividades que servem, como por exemplo, para descobrir quem se tratava do Maníaco da Cruz no município de Rio Brilhante.

Aqui, apresentando resultado de digital em laudo pericial (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, apresentando resultado de digital em laudo pericial (Foto: Arquivo Pessoal)

"Quando não há presença de digitais na cena do crime, também somos nós que realizamos o retrato-falado junto da testemunha. Anteriormente feito à mão, agora virou um desenho virtual que até recebe nota: de 7 a 8 para nós já é um 10, ou seja, a pessoa reconheceu o suspeito pelo desenho. Agora, abaixo de 5… daí é como se fosse nota zero. Ainda, exames prosopográficos (reconhecimento facial por meio de câmeras) também somos nós que fazemos. É uma gama muito grande de funções", ressalta Paroba, que atualmente está no cargo de diretor do Instituto de Identificação da Sejusp.

Paroba durante técnica da transferência, onde a digital é transposta do seu local de origem – cena do crime – por meio de um adesivo específico (Foto: Arquivo Pessoal)
Paroba durante técnica da transferência, onde a digital é transposta do seu local de origem – cena do crime – por meio de um adesivo específico (Foto: Arquivo Pessoal)

E por falar nas responsabilidades, uma das que mais impacta a vida da população é a solução de crimes – de estupro à homício – além da identificação de corpos por meio das impressões digitais. Nesse sentido, Paroba, que já testemunhou muita coisa terrível, ainda sim agradece pela profissão que exerce.

"Meu trabalho tenta dar um alento à vítima ou à sua família. É para o cidadão sul-mato-grossense que chega na delegacia já no desespero e o que mais precisa é na verdade um pouco de sossego. É isso que desejamos entregar", diz.

No laboratório, outras técnicas são empregas para revelação das digitais (Foto: Arquivo Pessoal)
No laboratório, outras técnicas são empregas para revelação das digitais (Foto: Arquivo Pessoal)

No aspecto forense, Paroba explica que as digitais são coletadas na cena do crime ou diretamente no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal de MS), principalmente quando o corpo já se encontra em estágio avançado de putrefação. "Tem vezes que somos obrigados a regenerar as papilas para que a vítima não seja enterrada como indigente. Quando não é possível, entretanto, chegamos ao limite técnico do nosso trabalho", lamenta.

Pó preto e pincelzinho – São diferentes técnicas de perícia. A que todo mundo reconhece logo de cara é a do "pozinho e pincel" (pó volcano prata-preto e pincel de pena de marabu) para revelar o invisível a olho no: um fragmento de impressão digital.

"Essa técnica é para mostrar digitais feitas pela gordura humana. Mas para cada material é preciso um determinado reagente. No papel, por exemplo, só o pó volcano não revela nada. Com permissão da vítima, levamos a prova até o nosso laboratório e de lá utilizamos a ninidrina como principal reagente. Colocamos em uma câmara de vaporização por 24h e esperamos o resultado", exemplifica.

Aqui, registro feito em que Paroba aponta para a impressão de uma mão revelta pelo pó volcano no capô do veículo (Foto: Arquivo Pessoal)
Aqui, registro feito em que Paroba aponta para a impressão de uma mão revelta pelo pó volcano no capô do veículo (Foto: Arquivo Pessoal)

Só para se ter uma ideia: em ambiente fechado, uma impressão digital pode ficar conservada de 3 meses a 1 ano. Após a revelação da prova, entra o "modo CSI" (série televisiva "Investigação Criminal"). "Fazemos um 'confronto' em um banco online com mais de de 2,9 milhões de dados apurados só aqui em MS".

Para o profissional das digitais, Peroba fala com propriedade: "é o método mais rápido, barato e eficaz de se conseguir uma prova inquestionável. É tão conclusivo quanto o teste de DNA. É a fala 'invisível' e com precisão na cena de um crime. Como ciência exata, não existe 'achismo'", finaliza.

Classificação das impressões digitais (Foto: Reprodução)
Classificação das impressões digitais (Foto: Reprodução)

Presilha – Este é o formato da digital do próprio Peroba. As chamadas minúcias são os os pontos característicos das impressões, e que dependem da região do dedo. Em resumo, ponta de linha, fim de linha e bifurcação, entre outras nomenclaturas.

Mas é no ciclo primário que os tipos de digitais são divididos – arco, presilha e verticilo. Esses três grupos possuem cada um com sua particularidade marcante, e que você pode verificar na ilustração acima.

A do jornalista que vos fala é presilha externa. Sabe dizer qual é a sua?

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