“Rainha Anônima” se foi aos 94 anos, mas deixa lição de como ser festeira
Lúcia Soares faleceu aos 94 anos na segunda-feira (7) em Porto Murtinho, mas será lembrada pela alegria
Lúcia Soares, de 94 anos, carrega o título de “Rainha Anônima” lhe dado pela família. Um dos motivos era a descendência de africanos escravizados, muitos destes, antes de serem capturados no continente e levados às colônias, pertenciam à nobreza de tribos africanas. Lúcia inclusive foi a única entre os irmãos que conheceu a avó Vitória, que era escrava liberta.
Mas também, de acordo com a família, pelas atitudes nobres que ela tinha, demonstradas por meio da sua irreverência, alegria, generosidade e acolhimento matriarcal. Na segunda-feira, dia 7 de julho, ela faleceu no município de Porto Murtinho, mas deixa a viva a lembrança de festeira.
De acordo com um dos sobrinho, o jornalista Guilherme Soares, Lúcia era “a alma” de toda festa. “Ela sempre gostava da casa cheia, de fartura, de animação, amava dançar. E sempre fazia poses para as fotos, ela gostava de colocar o braço na cintura, e sempre com um sorriso no rosto”, lembra.
A trajetória de Lúcia contrastava a alegria que ela sempre esbaldava. Ainda na adolescência, perdeu os pais na fazenda em morava em Porto Murtinho. O pai foi assassinado e a mãe acabou falecendo durante o parto. Ali, assumiu o papel de mãe dos 12 irmãos que também ficaram órfãos.
A casa da família era um comércio chamado Casa Formosa, que vendia produtos “secos e molhados”, como descreve Guilherme. A Casa, além de ser um dos principais pontos comerciais da cidade entre 1950 e 2000, vivia cheia de gente, sempre regada de animação e muita comida boa que Lúcia preparava.
“Ela era famosa por servir o quebra-torto, café da manhã típico da região do Pantanal, para quem quisesse. Inclusive, a gente dizia que o segredo por trás da longevidade dela era essa alimentação reforçada que ela sempre teve”, detalha Guilherme.
Guilherme também lembra que o apetite da própria Lúcia era tão grande, que muitas vezes o prato era maior que ela. “Com os anos, ela foi ficando envergadinha, então às vezes a gente nem conseguia vê-la atrás do prato”, ri.
Lúcia tinha o coração enorme e alimentava quem tivesse fome. “Ela sempre foi solteirona e não teve filhos próprios, teve muitos sobrinhos. E era muito generosa, acolhia sempre quem precisasse. Durante uma época, dava comida e ajuda financeira escondida para uma das irmãs, quando essa ficou viúva e passou a viver sozinha com duas filhas. E sempre tinha comida, era muita fartura na casa dela”, reforça Guilherme.
O movimento na Casa Formosa começou a diminuir, o irmão que chefiava junto com ela o armazém faleceu na década de 80, até que por fim fechou em 2000. “Se eu já estranhava a casa vazia, quanto mais ela, dava pra ver que ela sentia saudade da animação, mesmo com a idade mais avançada”, relembra.
Mas a memória da alegria de Lúcia é o que vai ficar marcado. Em um artigo para uma revista, o sobrinho expressou:
“É uma rainha de um reino de pequenas causas. Uma mulher que representa força, entrega, humildade, amor e retidão”.
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