Santo não nasceu Antônio e ajudou comitiva de fundador chegar viva por aqui
Comemorado no dia 13 de junho, santo dos casamentos e milagres também é peça importante na história da Capital
Católico ou não, todo morador de Campo Grande “deve” gratidão ao Santo Antônio de Pádua pela folga desta terça-feira. A data foi escolhida para homenagear o padroeiro da Capital, que até o final do século 19 se chamava Arraial de Santo Antônio, e dia 13 só é feriado religioso em algumas cidades brasileiras.
De acordo com o padre, e também historiador, Wagner Divino, da Paróquia Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio de Pádua, antes de batizar Campo Grande, o fundador da cida, José Antônio Pereira, quis homenagear o santo português.
A história dessa relação simbólica começa no final do século 19, quando a família de Antônio Pereira teve um encontro marcante e miraculoso durante sua jornada das Minas Gerais às terras onde fundariam um povoado.
Durante o percurso, ao passar por Santana de Parnaíba, em São Paulo, a comitiva foi forçada a suspender a mudança por um período de três meses devido a um surto de malária que afetou os residentes daquela região.
“Em meio a essa dificuldade, o fundador fez uma promessa a Deus: se ninguém da comitiva morresse ou sofresse com a doença, ao chegar em Campo Grande construiria uma capela em agradecimento a Santo Antônio, figura importante em suas vidas”, explica o padre Wagner.
Após chegar ao destino em segurança, no fim de 1877, Antônio Pereira cumpre uma promessa feita durante a viagem de retorno e constrói a primeira igrejinha, que tinha uma aparência mais “rústica”, feita de pau a pique, interior de barro e ruínas de uma edificação em Camapuã, a 133 km de distância. “Antônio Pereira viajou até a região onde hoje fica Camapuã para buscar telhas, encontradas em uma tapera. Imaginem percorrer toda essa distância apenas para adquirir telhas”, aponta o padre.
De acordo com o arquiteto Ângelo Arruda, o primeiro templo foi erguido nas proximidades da atual Catedral de Santo Antônio, na Rua 15 de Novembro com a Avenida Calógeras, marcando o ponto de partida do povoado que, ao longo dos anos, se transformou na cidade de Campo Grande. “Alguns historiadores apontam que a igreja foi erguida exatamente no meio da Rua 15 de Novembro. Somente em 1919, quando foi feito o plano de urbanização, ela mudou de posição”.
No dia 2 de abril de 1912, foi estabelecida a primeira paróquia de Campo Grande, porém, uma década depois, com o crescimento da cidade, ela foi demolida para dar lugar a um novo templo, que se tornou a Matriz de Santo Antônio.
Ao longo dos anos, a igreja passou por transformações significativas. Em 1930, foram adicionadas duas torres e uma Escola Paroquial foi estabelecida no local.
No entanto, na década de 70, especificamente em 1977, a igreja foi novamente demolida devido à falta de condições seguras para seu uso. De acordo com Ângelo, em 1984, foi projetada a última versão arquitetônica da catedral, com estilo moderno do arquiteto Wagner de Paula, e que perdura até hoje.
Santo português - Apesar de ser conhecido pelo "Pádua", cidade italiana, Santo Antônio nasceu em Lisboa, Portugal, em 1195. Ele foi batizado com o nome de Fernando e ingressou ainda jovem no mosteiro agostiniano de São Vicente, em Portugal.
Em setembro de 1220, Fernando deixou os agostinianos para vestir a túnica grossa e marrom dos franciscanos. Neste momento, ele também abandonou o antigo nome do batismo para se chamar “Antônio”.
De acordo com o padre Wagner, a devoção a Santo Antônio, um santo português, ganhou características peculiares e um lugar especial no coração dos fiéis brasileiros devido ao processo de colonização. Ele aponta que embora seja conhecido como o santo dos grandes milagres, sua fama também se estende às bênçãos concedidas aos casais que buscam a felicidade conjugal.
“No Brasil, podemos dizer que a expressão 'Santo Antônio casamenteiro' se tornou bastante popular. Isso acontece porque antes de entrar para o convento, ele ajudava rapazes e moças sem posses a encontrar um bom casamento. Isso remonta à obrigação do dote na Europa do final do século 14 e início do século 15. Santo Antônio, com melhores condições financeiras, ajudava as pessoas nessa situação”, esclarece.
“Versão brasileira” - Padre Wagner também explica que nem sempre o bolo foi um símbolo do santo. Segundo ele, essa tradição remonta a um milagre realizado por Santo Antônio em vida. Uma criança, que estava afogada e sem vida por um longo tempo, foi milagrosamente trazida de volta à vida após a mãe implorar a ajuda de Santo Antônio.
Em gratidão, a mãe dessa criança fez uma promessa, na qual deveria doar o peso do filho em farinha e a fazer pães para serem distribuídos aos pobres, enquanto tivesse condições de fazê-lo.
Na "versão brasileira", o bolo ser torna o símbolo de devoção e gratidão. “No Brasil, onde temos pão em abundância, mas nem sempre com grande valor simbólico, então foi mudado para bolo. A igreja catedral vem fazendo o bolo de Santo Antônio há 22 anos", explica Wagner.
Entretanto, o padre ressalta que a distribuição dos bolos é mais do que uma celebração casual, mas sim uma maneira de honrar esse milagre e de expressar a gratidão pela intercessão do Santo Antônio. "Colocamos 1 mil alianças no bolo para lembrar que o que realmente ajudará as pessoas a encontrarem o que desejam é a fé em Deus e em Santo Antônio, que é amigo de Deus. E aquele que é amigo de Deus certamente alcançará seus favores”.
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