Se botar brinco amenizasse o cansaço, mãe precisaria de 25 de Março inteira
Há várias maneiras de encarar a maternidade e eu respeito todas elas. Cada mãe arruma o subterfúgio que lhe convém para mascarar o caminho roseado, porém espinhoso a ser traçado. Mas, preciso confessar, não me agrada a banalidade com a qual a sobrecarga por vezes é tratada.
Me refiro às coisas do tipo "troque o pijama por uma roupa bonita, você vai se sentir muito melhor", "passa um batom, coloque um brinco e vai parecer que tirou o mundo das costas", "tome um café e se renove", ou seja, o tal do 'reage, bota um cropped' do maternar.
É claro que ter o mínimo gesto de autocuidado pode fazer alguma diferença num cotidiano em que a última coisa que fazemos é olhar para nós mesmas.
Contudo, venhamos e convenhamos, um par de brincos, minha amiga, não vai amenizar as incontáveis noites de sono perdidas. Aqui, por exemplo, são mais de dois anos sem dormir uma noite completa. Nem mesmo uma fábrica de brincos seria suficiente para repor quase mil madrugadas em claro.
Trocar de roupa ou passar batom não vai reduzir o cansaço de correr atrás de um bebê durante todo o dia. Tomar um café, embora te ajude a manter os olhos abertos, não vai magicamente apagar os reflexos físicos e mentais ganhos ao longo dos meses de total dedicação ao filho.
Vejam bem, não estou dizendo que tais ações são inválidas, mas sim insuficientes para te recarregar de verdade. Podem dar um "up", entretanto não substituem descanso real.
Além do mais, tudo isso deveria estar na lista de coisas triviais como tomar banho, escovar os dentes, se alimentar e não como algo que fazemos a mais em benefício próprio.
Então, manas, cuidado com discursos limitantes que tratam sobrecarga física e mental de forma rasa. Na maternidade é preciso ressignificar as coisas para fazerem sentido, é verdade. Só que dar novo significado não quer dizer banalizar.
O modo mais leve de encarar o ser mãe não deixa o peso para trás como passe de mágica e acreditar nisso pode ser pressão a mais, pois, pelo menos por aqui, já tirei camisola, botei brinco, batom e tomei litros de café, mas o cansaço, as dores e a saudade de ser responsável só por mim seguem aqui, no mesmo lugar.
Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae
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