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Comportamento

Sob sol de 12h, torcedor solitário fica 90 minutos fazendo barulho na rua

Ele cumpre um ritual, usando a camiseta do Vasco, time do coração, com vuvuzela a todo vapor

Ângela Kempfer e Suzana Servian | 09/12/2022 12:31
Sozinho, Cristovão não para de fazer barulho em uma das calçadas do Amambai. (Foto: Suzana Serviam)
Sozinho, Cristovão não para de fazer barulho em uma das calçadas do Amambai. (Foto: Suzana Serviam)

Sozinho, sob sol de 11 horas em Campo Grande, nem os 66 anos de Cristovão Lopes Correia o impede de cumprir uma tradição em dia de jogos do Brasil. Pega a vuvuzela, a bandeira brasileira tamanho família e vai “torrar” na calçada torcendo com ânimo de poucos. Foi assim na primeira vitória brasileira na Copa do Mundo, então agora a superstição o obriga a repetir todo o processo.

“Visto a mesma camisa (no caso a do time do coração - Vasco), sento no mesmo lugar, mesma geladeira pra cervejinha, faço tudo igualzinho”, e assim começa a torcida do solitário carioca, que há 35 anos mora por aqui. “Vim por causa da minha ex-mulher e gostei”, conta.

Agora, o engenheiro elétrico monta uma parafernália e torce na rua mesmo, no Bairro Amambai. “Meus netos são pequenos, então nem vou pra casa do meu filho perturbar”, explica.



Apesar de duas cadeiras colocadas na calçada, Cristovão garante que não sente falta de torcida maior. “Eu monto meu esquema aqui, se alguém quiser, senta, acompanha comigo. Todo mundo é convidado”, diz.

Para ele, o que interessa mesmo é o resultado. “A gente só tem de ganhar, hoje vai ser um pouco, mas vamos ganhar”, avalia otimista na oposição ao time da Croácia.

Mas claro que ele pensa em uma gambiarra para amenizar o calor. Monta um painel para sombra lá pelo meio-dia e usa um chapelão amarelo. “Pra não esquentar a cabeça, porque já basta o sofrimento durante a partida”.

Para amenizar o sol do meio-dia, ele monta um painel.  (Foto: Suzana Serviam
Para amenizar o sol do meio-dia, ele monta um painel.  (Foto: Suzana Serviam

Torcedor de berço, aprendeu a sofrer cedo, com o Vasco. Mas é do tempo que todo mundo só se divertia, sem guerras por conta do futebol. “Torcer é brincar, abraçar, vibrar, não é brigar. No meu tempo de garoto, ia para o Maracanã com 130 mil pessoas no estádio. No final, saíam as duas torcidas de boa, sem nenhuma briga”, lembra.

Diz que é “tão de boa” que no dia 12 de dezembro vai fechar a rua para uma “picanhada” para comemorar a diplomação do presidente Lula e “nem precisa pagar. Quem chegar vai comendo, até acabar”, convida, dizendo que acha que já é hora de acabar também com impasses políticos.

Só a televisão fica na sombra, o resto do ritual tem de ser no sol ou na chuva.  (Foto: Suzana Serviam
Só a televisão fica na sombra, o resto do ritual tem de ser no sol ou na chuva.  (Foto: Suzana Serviam

Ainda sobre a Copa do Mundo, a única que parece incomodada com o ritual é a vizinha. “É que o Paraguai, time dela, não conseguiu classificação. Aí liga o secador de cabelo para não se incomodar com a minha torcida”, conta.

Há 25 anos ele mantém uma oficina de assistência técnica para refrigeradores e ar-condicionado. Atende a muitos hotéis da cidade. Mas se alguém chama na hora do jogo do Brasil... “Falo para desligar que depois a gente arruma”, ri.

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