Sob tarumã, quintal guarda Jeep de 66 anos e casa feita à várias mãos
Alcides viu a família crescer pela janela da casa e hoje neto cuida das memórias
Antes de Alcides Myaki chegar, o pé de tarumã já se destacava no quintal que seria transformado em lar pelo filho de imigrantes japoneses. Guardando desde o Jeep Willys até a casa azul que foi construída por várias mãos, a árvore é a “guardiã” do lar em que Alcides viu a família crescer e deixou suas memórias espalhadas pelo terreno depois de partir.
Ainda sem saber qual será o destino da história contada pelas paredes azuis, o carro que já não funciona mais e a árvore gigantesca, é o neto quem relembra um pouco de tudo o que foi construído por Alcides. Servidor público, Gregory Myaki Alves, de 44 anos, conta que viveu com o avô até uma pneumonia encerrar o ciclo de 96 anos.
“Meu avô morou a maior parte da vida dele aqui. A família foi aumentando, se mudando e depois eu fiquei com ele”, conta Gregory. Sobre a história de como o terreno no Monte Castelo se tornou lar dos Myaki, o neto detalha que já adulto o avô comprou o espaço cheio de vegetação e separado dos vizinhos por uma cerca de arame, por volta dos anos de 1950.
Tendo passado grande parte da infância na casa azul, Gregory narra que a história começou com uma casa simples e pequena. “Devia ter uns dois ou três cômodos, ficava ao lado do espaço em que hoje é a garagem”, diz.
Mecânico, Alcides construiu a vida ao lado da esposa Irani e conseguiu deixar a primeira casa do terreno no passado para acolher a família no espaço mais adequado. “Primeiro meu avô construiu a parte de trás dessa casa atual e depois meu pai construiu essa parte da frente, em 1993. Era para ser provisório, mas foi aquele provisório que fica para frente”.
No chão próximo à garagem é possível ver pedaços que resistiram do piso da primeira casa e integram as lembranças da mesma. Assim como o piso marrom, uma porta também marca a história do lar, já que divide as paredes de concreto e de madeira, construídas na segunda e terceira etapas.
E, debaixo de uma cobertura que parece tão antiga quanto ele, o Jeep Willys talvez seja a marca mais clara deixada pelo tempo. “O Jeep é de 1954, mas não sei desde quando está com meu avô. Provavelmente eu não era nem nascido ainda. Ele era mecânico, então adorava esse carro”, conta Gregory.
O neto lembra que, quando Alcides já não dirigia mais, a família até pensou sobre vender o carro, mas o carinho pelo veículo foi mais forte. “As filhas decidiram que não iriam vender porque ele poderia ficar triste. Agora, ele foi embora e o Jeep ficou por ali”, diz.
Com as boas memórias de quem cresceu entrando e saindo pelos portões do terreno do avô, Gregory conta que assim como fica a saudade, também permanece a dúvida sobre o que vai acontecer com as memórias.
Durante os últimos anos de Alcides, o neto permaneceu ao seu lado, mas desde que partiu as incertezas vieram.
Provavelmente o tarumã deve continuar sendo majestoso no quintal, enquanto o destino do Jeep e da casa azul, que foi construída por várias mãos, vai ficando sob espera.
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