Valor à família, que nunca foi dado, de repente virou tatuagem na testa
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Quando Patrícia se deu conta de que o valor à família não estava sendo dado como deveria, decidiu marcar na testa o que passaria a ser prioridade. Há um ano ela tatuou "família" pouco acima da sobrancelha esquerda para lembrar a cada vez que se olhar no espelho.
"Me privei muito da minha família por um tempo. Hoje eu vivo para ela, minha família pessoal, meus amigos. Priorizo o que eu preciso ver: que é aquilo que preciso ter na minha vida. Então meu rosto é simplesmente isso", explica. De registro ela é Patrícia Diniz Amorim, tem 21 anos. Como tatuadora, é Patt Tattoo há 1.
Patt já passou por estúdios e workshops dos tatuadores Oton, Kallell, além de cursos fora da cidade. O começo foi com desenho e pintura em tela com o João, da 7, até ela resolver dar o pontapé na carreira solo. Por gostar mais de desenhos contemporâneos, está se dedicando à aquarela e resume que as tatuagens que têm no corpo, são sua vida.
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"Cada uma conta uma historinha", diz a jovem. As três primeiras foram feitas juntas, aos 14 anos. Apaixonada por música, fez uma clave de sol e depois o símbolo oriental yin yang. "Porque eu tenho um grande conflito comigo mesma. Para mim é um significado bem diferente e não é com ninguém, somente comigo", explica. As marcas foram feitas depois que o pai mandou ela sumir com o skate de casa, após um acidente, e fazer o que ela quisesse.
"Ele falou 'faz o que você quiser, mas não quero esse skate'. Eu segui certinho, deu duas semanas eu apareci com as tattoos. Ele perguntou o que era aquilo e eu pedi para ele repetir o que havia me dito", lembra. De resposta, ouviu do pai uma afirmação de que ela era filha dele mesmo.
Patt já chegou a ter 13 piercings no rosto. O "família" veio há um ano, a primeira de outras três na cara. A dedicação à outras pessoas fez ela deixar a própria família em segundo plano. Como transição, ela marcou em si: família na testa para não esquecer mais. "Família, fé e paciência, é o que eu preciso", pontua. As três palavras então explícitas na face.
Por ser "muito" de palavras, ela comentou com o amigo e tatuador Fer, que procurava "mandar uma tattoo na cara", mas que fosse de respeito. Ouviu dele o questionamento, sobre o que realmente a representaria melhor. Ela mesma chegou à resposta: família.
O desenho ela mesma quem fez e o amigo apenas ajustou as letras para fazer o contorno na sobrancelha. "O que é a minha família? É o que me sustenta. São alguns selecionados amigos e alguns selecionados familiares", descreve. Entre eles: a avó Vera Liana e o irmão Jean, por quem ela tatuaria a testa, o corpo e daria a vida.
Da família, ela inclusive já tatuou todo mundo. Até a avó, de 66 anos e o irmão, de 15.
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O caçula tem anemia falciforme, doença parecida com a leucemia e que já o fez retirar o baço, a vesícula e impõem inúmeras restrições e cuidados ao garoto. Até a extração de um dente requer todo preparo. Me surpreende que ele tenha feito uma tatuagem. E me encanta o motivo.
No começo do ano, Patrícia estava ao lado do irmão, que mora em Campinas. Chegando da escola, viu o menino estressado e chateado pela forma com que era tratado. Visto sempre como "coitado", ele queria mudar essa imagem e mostrar tudo que era capaz de fazer. "Eu queria ser diferente, que pelo menos as pessoas me vissem de uma forma diferente", recorda a irmã, as palavras dele. Depois de ouvi-lo dizer a frase, ela resolveu propor a tatuagem, desejo de anos do garoto.
A família questionou os médicos que deram o aval. "A médica viu o lado dele, falou que ele estava num estágio bom, com tudo certinho e que seria um momento adequado", diz Patt. A especialista tentou apenas aconselhar a fazer algo pequeno, porque futuramente ele poderia mudar de ideia.
O feito foi exatamente o contrário. Sem que Jean Vitor, o adolescente, soubesse o significado, escolheu tatuar, no braço, uma cobra. "A cobra num punhal significava o renascer e a força de um guerreiro e ele sentia isso. Sem saber, escolheu a imagem que ele queria", descreve a irmã.
Depois da tatuagem, ela resolveu "por mais talento", como mesmo diz, no irmão. Descoloriu os cabelos igual ao dela, platinado. "A gente pintou igual e eu fui mostrar para ele como é ser diferente", justifica Patt. Numa volta de carro com a irmã, o menino já reparou os olhares e até convite para aniversário da garota que ele gostava na escola, surgiu.
"Quando ele interna, eu fico triste daqui e minha mãe fala que o que eu fiz por ele, não tem preço", fala a tatuadora. Patt tatua no Studio 111, no cruzamento mais movimentado da cidade: da Afonso Pena com a 14. E ainda pretende ir além das três palavras para fechar todo o rosto. A tatuadora deixa claro que não faz nada por impulso e sabe exatamente o que quer, tanto dos desenhos, quanto da vida.
Cansada de ouvir que "tem um rosto lindo" e outros palpites quanto à realização dos desenhos no rosto, espera um dia ser vista além das tatuagens na cara. Espera que a vejam como ela é, por dentro.
"As pessoas me levam muito por beleza física e status, a vida toda. Então isso me incomodou muito e como eu amo a arte corporal e me identifico muito com personalidade e impor o que eu sou: gosto de tatuar a cara e pretendo fechar sim, com palavras que deêem significado para minha vida".