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Comportamento

Varrendo a 14 de Julho, Batista mudou a vida de 12 irmãos e 7 filhos

Reconhecido pela dedicação, ele também assumiu projeto social com 450 adolescentes na década de 1980

Ângela Kempfer | 05/11/2021 12:02
Batista ao centro, com 5 dos 7 filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Batista ao centro, com 5 dos 7 filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A quinta-feira (4) foi de luto para a família de João Batista Caetano, o Batista, para quem dividiu quase 40 anos de serviços na prefeitura de Campo Grande. Funcionário público do tipo que nunca faltou ao trabalho, um ataque cardíaco levou o senhor de 81 anos, também conhecido pela educação exemplar. “Nunca vi meu pai gritar, xingar... Ele dizia que quando você grita, perde um pouco o controle da vida”, lembra o filho Manasser, de 54 anos.

Pelas dificuldades relatadas pelo filho, fica ainda mais difícil entender como ele conseguia manter o tom sereno. Batista veio da Bahia aos 16 anos com os pais, atraídos pelo projeto agrário do governo de Getúlio Vargas, na região de Dourados.

O pai conseguiu uma chácara, mas a chance de riqueza logo caiu por terra e ele teve de se virar como o irmão mais velho de uma turma de 12.

Rua 14 de Julho quando Batista começou a varrer as ruas do Centro. (Foto: Arca)
Rua 14 de Julho quando Batista começou a varrer as ruas do Centro. (Foto: Arca)

Partiu para Campo Grande e na Capital, conseguiu emprego na prefeitura, varrendo as ruas da cidade. No tempo em que o Centro tinha poucas vias totalmente asfaltadas, a principal função era deixar a Rua 14 de Julho brilhando.

Depois, veio a primeira promoção. Em 1972, virou gari, pendurado no que se chamava “caminhão gaveta”. Semianalfabeto, terminou o Ensino Fundamental trabalhando na prefeitura e ganhou o posto de chefe de equipe. Mas foi em 1983, na administração Lúdio Coelho, que o reconhecimento real surgiu. Batista assumiu projeto com 450 adolescentes, que antecedeu a ideia do Instituto Mirim.

Mas eram outros tempos, e a gurizada aprendia a ganhar a vida como gari. Mesmo assim, Batista não desistia de lembrar que ali era só o começo de algo que poderia ganhar outro rumo, para quem tivesse determinação. “Ele falava que escada foi feita para subir, não para correr. Era um passo de cada vez”, diz o filho.

E assim, os meninos do projeto foram entrando na faculdade ou fazendo concurso público, inclusive, os 3 filhos de Batista, que também se tornaram servidores públicos municipais depois de encarar anos como gari.

Em 23 de dezembro de 2000, Batista se aposentou, cheio de planos para aproveitar a vida ao lado da esposa. Mas 2 dias depois, em 26 de dezembro, ela morreu vítima de AVC. Os anos que seguiram trouxeram um novo amor e a dedicação aos 7 filhos, 17 netos e 7 bisnetos.

Batista foi o primeiro dos 12 irmãos a partir, mas antes, deu o empurrão para que a vida seguisse menos difícil para a família. “Meus tios formaram em Engenharia, todo mundo foi progredindo. Ele abriu as portas, começando como varredor de rua”, lembra o filho que pediu essa homenagem publicada hoje pelo Lado B.

Família sempre foi unida e divertida, até em dia de banho de chuva. (Foto: Arquivo Pessoal)
Família sempre foi unida e divertida, até em dia de banho de chuva. (Foto: Arquivo Pessoal)


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