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Comportamento

Vereador faz “Ctrl C” de projeto que obriga Dia dos Pais e das Mães nas escolas

Texto apresentado na Câmara esqueceu, inclusive, de trocar o nome da cidade origem do projeto por Campo Grande

Ângela Kempfer | 26/11/2017 17:15
Desenho de uma criança de 9 anos, onde a referência de família é só a mãe.
Desenho de uma criança de 9 anos, onde a referência de família é só a mãe.

No site da Câmara Municipal de Campo Grande, texto de um Projeto de Lei revela comportamentos políticos bem atuais hoje no Brasil. A proposta de número 8768/2017 deu entrada no dia 22 de novembro, com o objetivo de obrigar a comemoração do Dia dos Pais e do Dia das Mães nas redes de ensino pública e privada, como mais uma maneira de “valorizar acima de tudo a instituição da família”.

A linha conservadora que tem dominado alguns discursos já é suficiente para criar polêmica, mas o que também chama atenção é trecho da justificativa que coloca a obrigatoriedade “nas escolas da rede de ensino de Pres. Venceslau”.

O autor do projeto, vereador Wilson Sami (PMDB), esqueceu de trocar a cidade do interior de São Paulo por Campo Grande, e entregou o plágio sem revisão, nessa fábrica de leis em que se transformou parte do trabalho parlamentar.

Wilson Sami durante solenidade de posse este ano. (Foto: Divulgação)
Wilson Sami durante solenidade de posse este ano. (Foto: Divulgação)

O médico ginecologista assumiu este ano vaga aberta com a saída de Paulo Siufi (PMDB), que foi para a Assembleia Legislativa. No domingo, ao de ser questionado pela reportagem sobre o Projeto de Lei, Wilson Sami disse que pensou bem e resolveu retirar a proposta da pauta, mesmo sem ter passado por nenhuma das comissões da Casa. “Pensei melhor e tem muita criança que nem pai tem”, justificou.

Sobre o plágio, o vereador tomou outro rumo na conversa. “Nem sei porque esse projeto entrou, não era para entrar. Alguém colocou lá”, garante, apesar do texto ter a assinatura dele.

Para cortar o assunto de vez, Wilson Sami ofereceu outra meta como parlamentar que, segundo ele, vai revolucionar o tratamento de dependentes químicos em Campo Grande. “Na verdade, não é projeto, porque tem de ser apresentado pelo Executivo, mas quero convencer o prefeito a criar uma Superintendência Municipal Antidrogas”, antecipa.

O vereador fala em políticas municipais de apoio às organizações que já fazem esse trabalho, principalmente, as que têm apelo espiritual. “Porque isso é doença da alma, não tenho dúvidas. Tem de buscar Deus”, argumenta.

Para o doutor em educação e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Paulo Duarte Paes, tudo está errado no projeto do parlamentar. A começar pela intenção de obrigar a comemoração de Dia dos Pais e das Mães em uma rede de ensino que sofre com tantas datas comemorativas ao longo do ano letivo. “Já viraram problema pedagógico. Termina uma festa e começa a outra, prejudicando o conteúdo do ano. Perde-se muito tempo com esse tipo de comemoração que só tem interesse comercial, de vender presente. É algo mercantil em um espaço onde isso deveria ficar de fora. Tem parlamentar que só faz esse tipo de proposta pensando em ganhar voto”, analisa.

Outro erro, na avaliação dele, é reforçar um formato familiar que já não é comum, o que mina a autoestima das crianças e só aumenta a insegurança no processo de aprendizagem. “Hoje, em geral, a família é a mãe, isso quando não é a avó. Causa constrangimento e sofrimento desnecessários para os alunos”.

Para ele, datas comemorativas na escola deveriam servir para divulgar a riqueza das manifestações culturais da região, por exemplo.

Paulo Duarte defende que valorização da família é algo cotidiano, inclusive, com garantias de uma educação de qualidade aos filhos, livre de dogmas ou mitos. “Respeito não se alcança com comemoração de datas ou relação consumista. Se ganha com pai olhando no olho do filho”, argumenta.

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