No Centro, plaquinhas mostram relação complicada entre cliente e comerciantes
O comércio popular preserva clássicos abominados pelo pessoal do marketing. E isso que é divertido, não combina com o que esse nosso mundinho blasé faz questão de camuflar. Algumas dessas pérolas são aquelas plaquinhas improvisadas, escritas a mão ou impressas em um papel sulfite, cheias de recadinhos para os clientes, alguns bem desaforados.
No comércio de Campo Grande, os coreanos entraram com tudo nesse jeitinho de comunicar a insatisfação. Nas lojas de badulaques na Rua 14 de Julho, a gente encontra clássicos como “Quebrou, pagou”. Mas tem alguns que inovam, como na fachada da loja de roupas da Afonso Pena que o recado está na vitrine: “Favor não sentar”.
No Mercadão Municipal, logo na entrada, o aviso é para as pessoas que insistem em subir na balança colocada ali para pesar os produtos: “Balança de uso exclusivo dos Boxes. Não suba nela, por favor.”
E se engana quem pensa que isso é coisa de criança. “Quando eu cheguei aqui, eu era calminho”, diz Mário de Souza sobre os 15 anos que trabalha no Mercadão Municipal.
Na banca dele, a seção com mais de 200 tipos de ervas e condimentos termina com o tradicional: “Seja educado, olhe com os olhos”. O lugar, cuidadosamente arrumado, se desfaz a todo tempo. “Em meia hora que você ficar aqui, vai ver. Todo mundo tem de bater nos saquinhos. Coloquei recadinho bem pequeno, para ser educado”, comenta.
Pode até parecer coisa de ranzinza, mas na banca ao lado, o cliente perde definitivamente a razão diante dos fatos.
A dona do box cheio de doces caseiros espalhou plaquinhas para tentar conscientizar a clientela e acabar com os prejuízos. “Favor não apertar as geléias” é o recadinho mais engraçado.
“Tive de colocar porque tem gente que sai com palito de dente na boca e vem enfiar na geleia. Outros ficam apertando, furando a embalagem. Não entendo o porquê”, conta Kátia Helem Borges, mostrando as peças de geléia de mocotó cheias de marcas de dedos.
Na parte a granel, ela também teve de colar um aviso: “Não escore nos potes”. Super simpática, Kátia até faz pose para mostrar um dos costumes que mais a irrita e diz que tem gente que resolve descansar debruçada nos grandes potes de acrílico, que já perderam as tampas por conta de cliente folgado. “Eles chegam aqui, escoram nos potes e daí a tampa cai e quebra. Problema é que não vende tampa separada, então tem de comprar o pote inteiro que custa R$ 180,00”, explica.