Para comer bem e pagar pouco, clientes escondem até carne debaixo do arroz
Com R$ 8,50, o cliente que chega ao restaurante da empresária Marilúcia Targino, de 28 anos, na Rua Rui Barbosa, no Centro de Campo Grande, compra um PF (Prato Feito), serve o próprio almoço, e tem direito a dois pedaços de carne. A orientação é clara e está, inclusive, pregada na parede, em um cartaz.
O preço acessível e a variedade de alimentos justifica o local sempre cheio, mas a limitação da “mistura” é um problema que gera saídas “criativas” por parte dos frequentadores. Diante de tanto jeitinho, quem lida com público já criou conceitos para cada tipo de consumidor, que vai do "Cliente Romântico" ao "Cliente DNA".
Para comer bem e pagar pouco, muitos escondem pedaços de carne embaixo do arroz. Assim, conseguem sair sem desembolsar os R$ 10,99 do self-service. A maioria acha que engana e a dona, para não perder a clientela, finge que acredita. Marilúcia está tão acostumada a clientes “espertinhos”, sem desconfiômetro, que coleciona histórias e nem se impressiona mais.
“Quando faço bife e ovo, que o pessoal gosta bastante, a gente sempre coloca o aviso para servir um bife e um ovo só, porque eles costumam colocar 2,3 pedaços de bife e quatro ovos. Tem uns que escondem debaixo do arroz e ainda pedem o PF da promoção, com Coca KS ou suco, que custa R$ 10,00”.
Mas antes era pior. No início, a proprietária oferecia um prato menor para quem gosta de servir a salada separada, mas tinha gente que escondia carne até debaixo do tomate e do alface. “Isso acontece muito”, afirma, ao dizer que, às vezes, é preciso intervir.
A abordagem é discreta. Geralmente a “fiscalização” ocorre na hora de deixar a comanda e oferecer a bebida. Como o cliente já mexeu no prato, dá pra perceber o “truque”.
“Você tem que ter jogo de cintura na hora de falar. Eu chego e observo o prato. Tem coisa que eu deixo passar. Se você ficar falando todo momento, acaba sendo chata e o cliente vai para outro lugar. Às vezes é melhor perder um pouquinho, mas tem casos que eu tenho que falar: olha, o do senhor não vai poder ser prato feito. Vou ter que cobrar um Self”, explica.
A maioria aceita, mas tem aqueles que, mesmo errado, “burlando o sistema”, ficam bravos. “Outros falam que pode ser self, mas vão acabar com a comida da cuba, servindo um montão. São pessoas que não tem educação”, reclama. E acabam mesmo. A famosa “montanha de comida” é outra prática comum.
Tipos de clientes - Carlos Alberto Rodrigues Jordão, outro proprietário de restaurante popular do Centro, não enfrenta esse problema porque trabalha só com o self-service a R$ 9,00, mas presencia o que chama de “Cena Romântica”:
É o casal que, para pagar pouco, acerta o valor de um almoço apenas, mas quer dividir a refeição como passarinho.
Tem, ainda, o “cliente DNA”, brinca: O pai que aparece com 5 filhos, quer pagar um almoço apenas, e servir a “renca”.
No restaurante de Carlos, criança paga, sim, e o critério é o desmame. “Porque tem guri maior que eu, adolescente em pleno desenvolvimento, que vai comer igual um cavalo”, brinca.
Não que não ocorra em restaurantes mais requintados, com valores mais caros, mas esse tipo de situação acontece, geralmente, nos populares e atinge, também, os estabelecimentos que vendem marmitex.
Em uma deles, na Avenida Mato Grosso, os responsáveis adotaram a expressão mais usada pelos clientes e criaram o “marmitex reforçado”, que vem em uma embalagem maior e custa R$ 5,00 mais caro. O reforço está na carne, conta o gerente, Diego Gomes Ribeiro, de 27 anos. "Vem mais. A diferença é de 200, 300 gramas", conta.