Com críticas à polícia, foi difícil achar empresa para divulgar música
Jovens espalharam propaganda para divulgar música e chamar atenção do público, mas isso não foi fácil
“Marçal de Souza tem toda razão: invasão nomeada colonização”, é a frase estampada em dez outdoors espalhados nesta semana em locais diferentes de Dourados, a 251 km de Campo Grande. Na cidade, que tem a maior população indígena do Estado, a mensagem é a forma como Gabriel Braga Marques, de 22 anos, e Gustavo Ratier Marques, de 21 anos, encontraram para divulgar a música "Pátria Corrompida”.
Evocando uma sentença do líder guarani assassinado em 1983, os músicos da Máfia Green Disk esperam chamar a atenção não só para o lançamento do trabalho no dia 23, mas para a desigualdade social que atinge os indígenas das aldeias de Dourados. Ao Lado B, Gabriel disse que o intuito era divulgar outras artes, porém nenhuma empresa aceitou estampar o material.
"Tivemos uma censura prévia antes de lançar os outdoors. Fomos mostrar essas artes para cinco empresas e só a última abraçou a nossa causa. As outras quatros não acharam legal, ficaram com medo da repercussão negativa que iria ter”, afirma.
Os jovens realizaram um ensaio onde fizeram críticas ao Governo Federal e à atuação da polícia. Gabriel explica o motivo dessa arte ter sido a que mais incomodou as empresas que procuraram. “Para as empresas, a arte com ‘Polícia Militar Assassina' foi a que mais teve impacto, porque eles ficaram com medo da corporação. As pessoas têm bastante medo de se mostrar contra”, diz.
Gabriel relata que desde criança ele e o primo acompanham as pautas indígenas. Por isso, eles decidiram expor abertamente o problema. “A gente cresceu vendo essa desigualdade e desde sempre vimos que tinha algo errado, mas ninguém comentava ou deixava em entrelinhas. Quisemos falar abertamente, comentar um pouco da desigualdade, porque o Estado deixa os indígenas a Deus dará”, frisa.
Apesar da força das redes sociais, o artista destaca que a propaganda em outdoors visa atingir aqueles que não têm acesso a internet. "Como vamos fazer um lançamento nessa linha bem impactante, queremos impactar as pessoas que não tem vínculo com a internet e moram onde não tem acesso. Hoje a gente sabe que chamar a atenção é importante nessas questões”, conta.
Pátria Corrompida - Os primos criaram interesse pelo rap em 2019, período que acompanhavam batalhas de rima no Youtube. Desde então, eles começaram a escrever músicas na vertente do boom bap, porém nunca realizaram nenhum lançamento oficial. Há um ano, Gabriel e Gustavo trabalham para trazer ao público a canção Pátria Corrompida.
Sem data para ganhar videoclipe, Gabriel comenta que o projeto está em desenvolvimento. "Futuramente vamos lançar o videoclipe. Temos algumas ideias, roteiros feitos e estamos estudando como será elaborado", esclarece. Agora, eles também estão produzindo a segunda música da carreira.
Em relação a repercussão dos outdoors no público, o jovem fala que não sofreram críticas até o momento. "Deu um impacto, porque temos o Instagram e de lá conseguimos sentir um pouco desses insights. Estamos abertos a ouvir, porque tem pessoas que acreditam em nossas ideias. Mas, ainda não teve ninguém comentando algo ruim”, reforça.
Questionado sobre o objetivo da Máfia Green Disk, Gabriel destaca qual é a principal ideia. “É resistência. O significado é que você vendo uma desigualdade, você não deveria ficar quieto e mostrar a sua opinião. Somos quem vê as desigualdades e quer falar sobre. Isso que queremos passar para a galera, essa visão social", conclui.
Quem quiser acompanhar o lançamento, a música será divulgada no Youtube e no perfil do Instagram @mafiagreendisk
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