Desfile das escolas de samba é pura emoção após 2 anos de espera
Avenida do samba recebeu as escolas Herdeiros do Samba, Unidos do Aero Rancho e Cindera Tradição do José Abrão
Depois de um ano sem desfile das escolas de samba em Campo Grande devido à pandemia de covid-19, o primeiro dia de apresentações na Avenida do Samba teve participação da Herdeiros do Samba, Unidos do Aero Rancho e Cinderela Tradição do José Abrão.
Prevista para começar às 19h desta quarta-feira (20), a noite de desfiles foi aberta por volta das 20h10min. Com atraso, a noite contou com carros alegóricos presos em fiação de energia, mas emocionou os integrantes das escolas que sentiram falta da folia e conseguiram entrar em cena novamente.
Iniciando os desfiles, a escola de samba mirim Herdeiros do Samba, composta por crianças e adolescentes, abriu a apresentação com balé clássico na comissão de frente e teve como samba-enredo O Negro que com sua Sapatilha Voa.
Devido ao incêndio no dia 8 deste mês, no barracão da Escola de Samba Unidos do Aero Rancho, a Herdeiros perdeu diversos figurinos e carros alegóricos. O espaço, de responsabilidade da Unidos, era compartilhado com a escola mirim.
Apesar do imprevisto, a escola manteve a apresentação no desfile e, com a animação das crianças, realizou a retomada do Carnaval após 2021 ficar sem o evento devido à pandemia de covid-19.
Comemorando os 15 anos de escola, a presidente da Herdeiros do Samba, Fátima Luz, de 68 anos, também desfilou e contou sobre os últimos dias de preparação desde o incêndio. “Tivemos os figurinos e carros queimados, mas as crianças estão de parabéns. Todos participaram, terminamos tudo hoje às 17h e viemos festejar”, diz.
E, mostrando que a família honra o nome da escola, os dois netos de Fátima estiveram entre os integrantes. “Os dois, de 7 anos, foram o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Foi uma alegria”, completa.
Unidos do Aero Rancho
Segunda escola a desfilar na noite desta quarta-feira, a Unidos do Aero Rancho também perdeu figurinos durante o incêndio e enfrentou novos imprevistos momentos antes do desfile. Já próximo da avenida do samba, o caminhão que transportava os dois carros alegóricos da escola acabou enroscando na fiação elétrica da Avenida Presidente Vargas, Vila Sobrinho.
Sem condições de retirar os veículos a tempo do desfile, a escola desistiu de usar os carros e seguiu para a apresentação apenas com os integrantes. Presidente da Unidos do Aero Rancho, Alberto Vieira de Mattos, mais conhecido como Carioca, contou que alguns participantes da escola desistiram de participar do desfile e, mesmo lidando com os novos problemas, a escola entrou em cena.
Com o enredo Braços são Aços, Rodas Coração; Direito e Inclusão, a apresentação teve um baile de gala inclusivo na comissão de frente. Durante o desfile, um tapete vermelho foi estendido para que os participantes da comissão, representados por cadeirantes, dessem início à apresentação.
Entre os líderes da comissão de frente, a presidente da associação de mulheres com deficiência, Mirella Ballatore, explicou sobre a importância da temática abordada pela escola.
Estamos aqui para mostrar que a gente pode fazer aquilo que queremos desde que a sociedade dê essa oportunidade. Também é importante dizer que a acessibilidade é algo fácil de ser oferecido, mas que a falta dela impede muita coisa na nossa vida, argumenta.
Logo após a comissão de frente, a Unidos do Aero Rancho trouxe o casal de mestre-sala e porta-bandeira Lillian e Paulo Basílio, que são casados há 26 anos. De acordo com a organização da escola, a ideia principal foi “apresentar um bailado de amor e sedução entre uma dama e um cadeirante” com um casal da vida real.
Ao lado das duas filhas, Anna Paula e Anna Clara, de 12 anos, Paulo contou que participar da festa destacando a representatividade ao lado da família foi mais um marco em sua vida.
“Eu sou intérprete da Deixa Falar e hoje estou aqui, com a Unidos do Aero Rancho, desfilando para mostrar sobre inclusão, amor e família depois desse tempo de espera. Estamos mostrando que podemos fazer o que quisermos e que temos de ser tratados como qualquer outra pessoa, considerando nossas limitações”, diz.
Seguindo o tema da escola, a Ala das Baianas homenageou Santa Luzia. Para a escolha da homenagem, os organizadores explicaram que Luzia foi canonizada e se tornou a santa protetora dos olhos e da deficiência visual.
Ainda houve a ala dos sinais, com um intérprete de libras, a ala “enxergamos com o coração”, além de passistas para representar psicólogos e psiquiatras.
O segundo casal porta-bandeira e mestre sala trouxe a história infantil do Menino Maluquinho, para retratar a amizade entre crianças com e sem deficiência. Já a bateria destacou as Paraolimpíadas, por isso as roupas foram criadas a partir das cores da bandeira do Brasil.
Cinderela Tradição do José Abrão
Fechando a noite, a Escola de Samba Cinderela Tradição do José Abrão teve como tema do samba-enredo “Cinderelas que Brilham; A força do Empoderamento Feminino”. Presidente da escola, Diogo Miranda Correa contou que tudo foi preparado com antecipação e, durante a apresentação, as ideias organizadas durante os últimos meses foram colocadas em prática.
Dividida em quatro partes, a apresentação contou com abertura destacando “nossas raízes” e “Cinderelas da Escola”, em seguida houve o grupo “Cinderelas da Arte” e, por último, “Lutas e Conquistas das Cinderelas”.
Com a Cinderela Tradição, o público recebeu o primeiro desfile deste ano com carros alegóricos. O primeiro, abre alas, representou o palácio da Família Real, sendo o objetivo relembrar mulheres do Império. Enquanto o segundo carro trouxe o destaque do esporte com a presença feminina.
Na comissão de Frente, a escola destacou dez mulheres que deixaram o nome na história do Estado, entre elas Tia Eva, Conceição dos Bugres, Delinha e Glauce Rocha. Em seguida, a ala das baianas contou com 10 integrantes utilizando a imagem de Nossa Senhora.
O desfile seguiu com mestre-sala e porta-bandeira representando os símbolos da escola (beija-flor e rosa), a rainha de bateria para destacar todas as mulheres do enredo e a bateria como príncipe.
No bloco seguinte, a Cinderela Tradição levou a primeira ala homenageando Tarsila do Amaral com o Abaporu estampado nos trajes. Na segunda ala, Elza Soares foi representada por uma fênix, simbolizando a música popular brasileira e o empoderamento feminino.
A escola ainda contou com homenagens para as “damas da televisão brasileira”, diversidade, destaque ao direito ao voto e protesto contra o preconceito e intolerância. Após o carro alegórico das cinderelas do esporte, o desfile foi finalizado com um setor de pedido pela paz e, encerrando as apresentações, “Cinderelas dizem Não é Não”.
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