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Galera detesta usar camisinha, por isso doenças viraram rotina em consultórios

Universitário de 26 anos descobriu nesta semana que tem sífilis, um susto e tanto

Thaís Pimenta | 11/11/2018 08:06
Resultado: Reagente. Essas palavras marcaram a vida de uma pessoa e o exame fica para sempre consigo, para lembrar de uma vida mais responsável (Foto: Paulo Francis)
Resultado: Reagente. Essas palavras marcaram a vida de uma pessoa e o exame fica para sempre consigo, para lembrar de uma vida mais responsável (Foto: Paulo Francis)

Aos 26 anos, o universitário que pede para não ter o nome revelado mostra o exame que tumultuou a semana. No papel do laboratório de Campo Grande o diagnóstico é claro: sífilis. A doença começou com manchas velhas na pele e, felizmente, despertou preocupação cedo.  

"Não suspeitei porque dizem que sífilis também dá feridas e eu não tive isso. Mas o médico disse que pode ter ocorrido as feridas em uma região que eu não percebi". A notícia foi confirmada na quarta-feira passada e a primeira reação foi o medo. "Logo pensei nos efeitos mais graves. Pode causar demência. Mas o médico disse que eu descobri cedo".

A rotina agora será de 4 injeções de Benzetacil uma vez por semana. "O mais difícil disso tudo vai ser contar para minha ex namorada. A gente transava sem camisinha", se recorda.

Na hora do diagnóstico, de acordo com ele, você fica o tempo inteiro tentando imaginar quem te passou a doença. Depois cai a ficha sobre o risco de não usar preservativo. "Não que eu saísse transando com todo mundo, mas tinha as 'ficadas fixas' e a maior burrice é confiar nisso. Doença não tem cara. Agora é tentar falar com as meninas que se relacionaram comigo nas últimas semanas e pedir para que façam os exames e busquem a cura também. Aliás, outro susto é saber que o tratamento é uma benzetacil por semana durante 1 mês. Sendo assim, é doloroso por todos os lados, emocionalmente e fisicamente. Agora é fazer de tudo pra sarar e ter mais uma chance de começar a viver certo", finaliza.

Ler a palavra "reagente" nos exames preventivos é um susto grande que tem atingindo cada vez mais pessoas.

Clube de Compra Dallas é um filme que retrata a vida de Ron Woodroof, um eletricista heterossexual de Dallas, diagnosticado com AIDS em 1986, durante uma das épocas mais obscuras da doença. (foto: Divulgação)
Clube de Compra Dallas é um filme que retrata a vida de Ron Woodroof, um eletricista heterossexual de Dallas, diagnosticado com AIDS em 1986, durante uma das épocas mais obscuras da doença. (foto: Divulgação)

A realidade mudou - pra pior - e os números de jovens com doenças sexualmente transmissíveis só aumenta. Dados preliminares de um estudo divulgado no ano passado pelo pelo Ministério da Saúde apontam uma prevalência de 54,6% de casos de HPV entre a população brasileira de 16 a 25 anos, sendo que 38,4% são de tipos de alto risco para o desenvolvimento de câncer.

Em Campo Grande, o Ministério da Saúde relata, por exemplo, que o número de casos de portadores da Hepatite C no ano de 2015 era de 45 pessoas por ano, e já em 2017 aumentou para 88. Os números para a Hepatite B também subiram: em 2015 marcavam 30 pessoas infectadas em 2017 sobe para 54.

Já a Sífilis, tão temida por levar ao estágio de demência, é uma das mais transmitidas na Capital. Em 2015, o número de pessoas que adquiriam a doença já era alto: 527 infectados. Em 2018, com dados atualizados, os números sobem para 2005 novos infectados.

De acordo com a ginecologista Maria Auxiliadora Budib, a grande maioria dos pacientes que chegam no consultório, infelizmente, procura apenas por contracepção. "Quando chega o diagnóstico de uma infecção sexualmente transmissível há o misto de perplexidade, culpa e arrependimento por não ter se prevenido. Neste momento da consulta em que as pacientes chegam para orientação anticoncepcional, devemos enfatizar a dupla proteção, a autoestima e cuidados com a saúde preventiva", explica ela.

É como se o único medo fosse engravidar quando, na verdade, uma criança é o melhor de todos os cenários diante da infinidade de doenças sérias que circundam o sexo sem camisinha.

Maurício Pompílio, infectologista. (Foto: Thaís Pimenta)
Maurício Pompílio, infectologista. (Foto: Thaís Pimenta)

Apesar de haver sim os grupos de risco, essas doenças não tem cara e muito menos classe social, é que o afirma o infectologista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Maurício Pompílio, que toda semana recebe ao menos de 2 a 3 novos casos de sífilis.

"A gente percebe muitas mulheres que tinham um relacionamento fixo e ai houve um rompimento desse relacionamento e só aí ela se percebe como num grupo de risco porque antes confiava totalmente no parceiro", exemplifica.

Ele explica que hoje é muito fácil ver pessoas esclarecidas dizendo que a AIDS e as outras DSTs, por terem cura, já não são tão perigosas.

"Essas doenças ganharam caráter crônico com a eficácia da Medicina. Mas o que muitas pessoas não levam em conta é que existem casos em que uma pessoa demora a descobrir o vírus, por exemplo, e não consegue viver uma vida normal por mais que haja o tratamento correto. O uso crônico de medicação também pode levar a complicações", alerta.

Depois de cerca de 30 anos de campanhas médicas, de ídolos da música como Freddie Mercury e Cazuza morrerem não de overdose ou suicídio, mas de AIDS, há toda uma geração que parece gostar do risco - e não de sexo.

"Nós temos a informação, sabemos como controlar, como prevenir mas não estamos atingindo o ideal. Se esperava, ao menos, que os números de infecções verticais, ou seja, aquelas passadas de mãe pra filho, não existissem mais, mas todos os anos você vê números como esse aumentar também, mesmo tendo tratamento pra que a criança nasça 100% saudável", finaliza Maurício.

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